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Gears of War: Ultimate Edition - Análise

Duros como o aço.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
A edição definitiva de Gears of War. Não corrige todos os problemas, mas torna o original muito mais compatível com as actuais produções.

Adorei Gears of War. Ao revisitar, nesta última semana, o jogo editado para a Xbox em 2006, numa edição melhorada a todos os níveis, dei comigo de volta ao melhor dos jogos da anterior geração. É verdade que naquele tempo os "shooters" na terceira pessoa não eram novidade e vislumbrava-se já alguma saturação, mas depois de Resident Evil 4, o flanco aberto pelo jogo da Capcom deu impulso a uma série de produções que à sua maneira e bem ao jeito ocidental, demarcaram-se e triunfaram. Acima de tudo, Gears of War, o original que agora pode ser desfrutado numa versão remasterizada e facilmente classificada como definitiva, é um jogo genuíno, preenchido por inúmeras batalhas épicas, montes de clichés suculentos e uma história que embora toque lugares comuns não deixa ninguém indiferente à custa dos seus diversos momentos marcantes, como a entrada em cena de Cole ou os prelúdios das grandes "boss fights". Os jogos que completaram a trilogia (Gears 2 e 3) inovaram em diferentes aspectos, mas talvez por ser o primeiro e aquele que nos levou por uma campanha intensa e por horas infindáveis nos servidores multiplayer, é o que mais perdura na nossa memória. Comprei a Xbox precisamente para jogar Gears of War.

Produzido pela Epic Games em 2006 e desenhado por Cliff Bleszinski, Rod Fergusson, então produtor, voltou a comandar a produção desta versão Ultimate, agora sem a Epic (fez apenas a trilogia), uma vez que a Microsoft comprou os direitos ao estúdio e entregou o desenvolvimento de Gears of War 4, o próximo capítulo da série, ao The Coalition, que ao longo do último ano desenvolveu a GoW: Ultimate Edition. Existe alguma pertinência sobre a não inclusão de versões remasterizadas das sequelas, naquele que seria um "pack definitivo", um pouco à semelhança do que acontecera com a colecção Halo. Na E3 Rod Fergusson disse-nos que a Microsoft queria recuperar somente o original, numa remasterização que pudesse melhorar o original em diferentes níveis e assegurar a melhor execução possível.

O inesquecível combate contra Brumak.

De facto, embora o original seja sempre o primeiro e o que dificilmente esquecemos, até porque ao lançar a retrocompatibilidade na One, será possível voltar a jogá-lo na nova consola, a Ultimate Edition é a versão definitiva de Gears of War e agregadora dos conteúdos exclusivos do PC. Todos os predicados e pontos positivos que empurraram Gears of War para o sucesso, como um dos mais importantes "shooters" na terceira pessoa, perduram nesta versão remasterizada. A influência de Gears of War ao longo desta década ainda perdura. O sistema de cobertura que garante alguma protecção às personagens, a perspectiva cinematográfica e trémula quando um membro da COG (Coalition of Organized Governments) team zarpa por entre o fogo inimigo até encontrar um abrigo, a moto-serra junto do cano da arma para uma abordagem "melee" perante a proximidade dos inimigos (e isto foi tão válido nos combates multi), o carregamento da arma naquele momento específico (como uma das coisas mais cool), que é quase impossível não ver em Gears of War uma influência tremenda (Uncharted bebe muitos destes conceitos). Sobretudo pelo grau de realização.

"é um jogo genuíno, preenchido por inúmeras batalhas épicas"

A isso acresce uma excelente construção de Sera, um planeta em quase tudo similar à terra e que de um momento para o outro, sem que ninguém esteja à espera, é invadido a partir das profundezas por uma terrível raça denominada Locust. Para os menos recordados e para quem tenha passado ao lado desta obra, em Gears of War o jogador veste a pele de Marcus Fenix, um humano corpulento, encarcerado, e quase à beira de um destino final, quando a emergência despoletada pelos Locust, leva a COG a pô-lo no activo e a comandar um esquadrão de heróis. Voz rouca e funda, lenço na cabeça, olhar cerrado, enormes armaduras e uma sede enorme de vingança, este homem é reconhecido a milhas.

Aliás, é impressionante como a Epic tornou o que noutros estúdios poderia resultar um design banal e pouco ou nada inovador, em algo sublime e riquíssimo, e ao mesmo tempo muito verdadeiro e transparente. Os cenários revelam destruição e o peso da guerra, afinal a humanidade está à próxima da extinção, mas naquele emaranhado de blocos quebrados, ruínas, pontes em queda e estruturas metálicas vergadas, sobram efeitos de luz dos mais espantosos, um detalhe acima da média, imensas texturas e um certo tom aterrador que nunca nos larga, mesmo quando as batalhas assumem maior densidade e se transformam em autênticas batalhas de quarteirão, com avanços disputados quase casa-a-casa, como sucedeu quando os russos entraram em Berlim, já reduzida a pó, vigas e pedra.

As cinematográficas foram redesenhadas, os cenários ganharam melhor luminosidade e mais texturas e o som nunca foi tão intenso à custa do sistema audio Dolby 7.1 surround. A banda sonora é empolgante.

Claro que existe bastante linearidade, e as poucas possibilidades de prosseguir caminhos distintos em certos momentos reflectem precisamente a colocação do jogador num trilho predefinido. Por outro lado, as batalhas são relativamente similares. Ainda que com momentos épicos, muito à custa de bichos colossais e armas potentes (como o hammer of dawn), há uma repetição sucessiva na eliminação das constantes vagas de inimigos através do mesmo modelo. Felizmente há frescura quando baste no exército Locust, com bastante carne para canhão, mas muitas criaturas mais poderosas, dispostas a oferecer uma fortíssima resistência. No entanto, estes reparos não passam de situações menores que não põem em causa o todo, sendo que enquanto limitações, algumas foram minoradas e corrigidas nos episódios seguintes, especialmente no capítulo da inteligência artificial, devido a falhas clamorosas no original.

"é impressionante como a Epic tornou o que noutros estúdios poderia resultar um design banal e pouco ou nada inovador, em algo sublime e riquíssimo"

Em termos de conteúdo, a Ultimate Edition possui as cinco missões do original reservadas exclusivamente para o PC, o que proporciona mais uma hora e meia de jogo e assim um total de tempo gasto para a campanha relativamente superior, mesmo quando jogado no modo cooperativo para dois jogadores em rede. No que toca às sequências cinematográficas todas foram refeitas, foi usada captura de movimentos, o som foi remasterizado e adicionado um novo nível de dificuldade. Está por isso um jogo um pouco mais próximo dos padrões visuais apresentados em jogos do género para a Xbox One. Entre outras melhorias conta-se a possibilidade de reviver colegas mesmo quando em cobertura, a realização da pontaria foi melhorada e está mais sensível e também existem controlos alternativos.

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A glória do multiplayer continua, agora a uns vistosos 60 fps, tornando a acção ainda mais rápida (a campanha permanece a 30 fps) e a 1080p. Aos modos de jogo tradicionais foram adicionados três novos: Team Death Match, King of the Kill e 2 vs 2. No que toca aos mapas, existem 19 no total (todos do original mais três mapas) e ainda existem servidores dedicados. Refira-se que desde o primeiro momento que a experiência online tem decorrido sem falhas ou erros clamorosos. Tudo muito suave e sempre em andamento, como nos velhos tempos.

As alterações levadas a cabo em GoW: Ultimate Edition são de tal modo significativas que nos leva a questionar se estamos perante uma remasterização ou um remake. Independentemente da resposta, certo é que estamos perante um dos melhores trabalhos de restauro de um jogo que contribuiu com novos conceitos e exerceu uma grande influência no seu tempo. Viria a ser melhorado e nem tudo nasceu perfeito, mas ainda assim e dez anos depois é uma valiosa peça de software e um jogo que continua a encher as medidas, à custa de grandes picos de intensidade, tanto na campanha como no multiplayer. Se considerarmos que o jogo faculta acesso à beta de Gears of War 4, proporciona uma série de extras como comics, arte gráfica e ainda é comercializado por um preço mais em conta, sobram poucas razões para ficar de fora. Em 2006 foi um jogo excelente e hoje ainda é uma proposta muito válida e proveitosa. Créditos sejam dados à The Coalition.

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