Ghostrunner 2 - Um teste de agilidade e paciência
Combate e parkour.
O Ghostrunner original, lançado em 2020, conquistou os fãs do mundo gaming com a sua mistura entusiasmante de parkour cheio de adrenalina, distopia futurista e combate desafiante. Nele, interpretas o papel de um ninja cibernético, navegando por um mundo visualmente deslumbrante repleto de paisagens urbanas encharcadas de néon e intrigas de alta tecnologia.
Três anos mais tarde, e após 2.5 milhões de cópias vendidas, eis que chega a aguardada sequela, Ghostrunner 2, agendada para 26 de outubro na PlayStation 5, Microsoft Windows, Xbox Series X e Series S. Tive a oportunidade de jogar uma demo do jogo há umas semanas - podes ler tudo em maior detalhe aqui - e devo confessar que, na altura, fiquei agradavelmente surpreendido com aquilo que o estúdio me permitiu jogar.
Ghostrunner 2 coloca-te na pele de ninja cibernético
Agora que joguei a versão final, posso concluir que o ADN da sequela mantém-se largamente igual: o jogo continua a alicerçar-se largamente em habilidades de parkour, como correr, caminhar pelas paredes, deslizar e usar ganchos, que os jogadores devem dominar para atravessar ambientes verticais e labirínticos, esquivando-se de perigos e evitando inimigos.
O combate, continua frenético como sempre, levando a agilidade do teu ninja e os teus próprios reflexos ao limite. Ele empunha uma katana como arma principal, o que obriga quase sempre a uma aroximação aos inimigos de maneira a que possam ser derrotados. Esquivar, aparar, cronometrar ataques ou abrandar o tempo são cruciais para o sucesso e, à medida que vais progredindo, vais desbloqueando habilidades especiais que vão ajudar na tua jornada: desde o abençoado shuriken, passando pelo doppelgänger ou o tufão.
Aquilo que realmente diferencia Ghostunner dos demais jogos é o facto de conseguires matar todos os inimigos com apenas um golpe. Excetuando bosses, basta aproximares-te deles o suficiente e trespassá-los com a tua espada ou, se conseguires, tentar atingi-los de longe usando o teu shuriken. Tudo isto pode soar bastante simples, mas existe uma ligeira contrapartida: tu também morres com apenas um golpe.
A frustração à flor da pele
E esta mecânica de jogo, apesar de parecer inofensiva, levou-me a momentos de verdadeira frustração. Já os tinha sentido na demo, se bem que de forma ligeira; no entanto, a versão final do jogo, multiplicou-os infinitamente ao ponto de sofrer por antecipação e temer aquilo que poderia estar ao virar da esquina.
De uma forma geral, o jogo é bastante justo: quer seja nas secções de plataforma verdadeiramente euforizantes (onde tens meras frações de segundo para reagir) ou quando tens um pequeno grupo de inimigos para derrotar, morrer é praticamente irrelevante: o jogo possui inúmeros checkpoints e, caso tenhas falhado a missão, ele coloca-te no checkpoint imediatamente atrás. O problema é quando tens muitos inimigos.
Nesses casos específicos, Ghostrunner 2 torna-se verdadeiramente injusto e esse não é o melhor adjetivo para descrever um jogo. Por mais mobilidade que tenhas, derrotar um grupo com 6/7 inimigos, todos eles com habilidades diferentes, e muitos deles capazes de disparar de longe quase sem necessidade de cooldown, tornam o jogo numa versão cyberpunk do David e Golias. Claro está, o estúdio quer que tu cries estratégias, que definas prioridades e que uses as tuas habilidades ao máximo, mas morrer dezenas de vezes no mesmo local pode ser desmoralizante, especialmente quando te estão a atacar de todos os ângulos. Ainda por cima, o jogo só te permite prosseguir, dando-te acesso à área seguinte, a partir do momento em que derrotas todos os inimigos da sala.
Prepara-te para morrer centenas de vezes
Ou seja, quando apenas te falta um inimigo para derrotar numa zona particularmente difícil, reza para que ele não te mate ou serás obrigado a começar essa secção de novo. Assim sendo, mais do que um jogo de tentativa e erro, Ghostrunner 2 é um autêntico teste de paciência. O jogo é difícil e não existe a opção de modificar esse nível de dificuldade - é literalmente um caso de "git gud" e de enfrentar as adversidades. Mesmo naqueles momentos em que te mandam um tiro pelas costas ou quando a tua personagem decide não correr pela parede.
Uma estreia neste jogo (que pude experimentar pela primeira vez na demo) é a mota do Ghostrunner que transporta a jogabilidade padrão para um contexto de condução. Ao jogar a demo, fiquei curioso se esta seria apenas uma gimmick ou se o seu gameplay seria extrapolado para outros níveis: posso afirmar com agrado que é o segundo caso. As secções de mota foram provavelmente o ponto alto da minha jornada, com o jogo a abrir bastante mais o seu mapa e a fugir da linearidade inicial. Podes explorar os arredores desérticos da Dharma Tower, ao mesmo tempo que saltas por pontes partidas, atravessas prédios caídos ou conduzes por túneis sombrios. Sei que poderá ser um spoiler, mas é demasiado bom para não o dizer: derrotas ainda um boss gigante introduzindo-te na sua boca com a mota e percorrendo uma série de obstáculos alucinantes!
Tal como dissemos anteriormente, o jogo contém alguns bosses curiosos e aqui a sua mecânica base altera-se ligeiramente: apesar do teu Ghostrunner continuar a morrer com um simples toque, estes bosses requerem alguns golpes, com checkpoints intermédios quando retiras uma certa quantidade da sua vida. Muitos destes bosses são precedidos de secções de plataforma extremamente difíceis (talvez dos desafios mais desafiantes por que passei em memória recente), mas ultrapassá-los deu-me uma valente descarga de endorfinas e uma gigantesca sensação de orgulho. É aqui que Ghostrunner 2 triunfa.
Para além disso, vale sempre a pena referir que existe uma leve componente de puzzles ao longo de todo o jogo: desde encontrar esferas espalhadas num nível, mover plataformas, destruir objetos coloridos numa determinada ordem ou atingir disjuntores elétricos com o teu shuriken. Existem múltiplas pequenas ações que terás de realizar ao longo da tua aventura. Num jogo que quase não te deixa respirar, estes momentos mais calmos são muito bem-vindos e até gostava que existissem em maior número.
O jogo tem muito altos, mas alguns baixos
Gostava também que o jogo tivesse aprimorado a sua história e, mais importante ainda, a sua apresentação da história. Não tendo jogado o original, admito que me senti bastante perdido com os eventos da sequela e muito daquilo comentado pelas personagens passava-me ao lado: de qualquer das formas, a narrativa central foca-se nos Asura, um perigoso grupo que está a causar o caos na Dharma Tower, o local principal do jogo. Uma recapitulação vinha a calhar, mas quem jogou o original não terá com certeza estes problemas.
Por fim, uma opção que permitisse a customização dos botões do comando da PS5 teria sido muito bem-vinda, já que a configuração padrão não é a mais confortável; por vezes, sentia que estava a jogar Twister com os dedos. Carregar em botões diferentes para saltar, bloquear ataques, parar o tempo e lançar um shuriken revelou-se um verdadeiro desafio, e gostava de tentar outras configurações para amenizar o problema.
De resto, não há muito mais a acrescentar: se gostaste do original e/ou és fã de jogos de ação, Ghostrunner 2 vai proprocionar-te múltiplas horas de muita diversão. Os gráficos são bastante atraentes, a banda sonora é eletrizante e quase não encontrei bugs nas diversas horas que passei com o jogo. Sim, os comandos por vezes não são de confiança e o teu ninja vai executar movimentos que não autorizaste: mas quando o jogo funciona devidamente e executas combo atrás de combo, voando seguramente pelo ar, não há sensação melhor.
Prós: | Contras: |
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