Ghostwire: Tokyo é irreverência japonesa incrivelmente empolgante
E se o Naruto fosse o Doutor Estranho?
Shinji Mikami é uma verdadeira lenda dos videojogos, responsável por séries como Resident Evil e Dino Crisis, através das quais conquistou multidões em todo o mundo e inspirou futuro talento a entrar para a indústria. Mikami também teve um papel importante na génese de séries como Devil May Cry, Ace Attorney, Viewtiful Joe e Killer7, o que faz dele uma referência incrivelmente rica na história da Capcom, mas a sua constante busca por experiências novas e capazes de surpreender o jogador levou-o a deixar essa companhia e a continuar a lançar jogos de renome.
Vanquish na PlatinumGames é um do maiores triunfos da sua era pós-Capcom, mas somente 8 anos após deixar a casa onde trabalhou quase toda a sua carreira é que Mikami encontrou um novo lar, na sua TangoGameworks. O primeiro trabalho no seu próprio estúdio foi lançado em 2014 e The Evil Within tinha o propósito de se tornar na nova referência survival horror numa altura em que a Capcom não sabia o que fazer com Resident Evil. Aclamado pela crítica e fãs, motivou desde logo o desenvolvimento de The Evil Within 2, no qual Mikami deixou o lugar de diretor para o entregar a John Johanas. O mestre japonês optou por supervisionar o desenvolvimento e treinar novo talento para o futuro.
Após essa sequela de 2017, não surpreende que Mikami esteja mais focado em preparar os diretores do futuro e o mais recente jogo da TangoGameworks volta a mostrar algo similar, o desconhecido Kenji Kimura no lugar de diretor e Mikami a supervisionar. Graças a uma recente demonstração prolongada, tive a oportunidade de assistir a mais gameplay do que aquele que foi revelado ontem e posso desde já dizer que Ghostwire: Tokyo se tornou de imediato num dos jogos que mais aguardo, especialmente porque parece ser precisamente uma interpretação dos valores de Mikami através de sangue fresco. É uma experiência que parece familiar, mas ao mesmo tempo nova.
Ghostwire: Tokyo é descrito como um Action Adventure Thriller sobrenatural na primeira pessoa e não se trata de um survival horror. É um contraste com o tipo de experiências que celebrizaram Mikami e não queria dizer que é um "encontro entre Resident Evil e Vanquish", porque mais parece que o Naruto se tornou no Doutor Estranho. Em Ghostwire: Tokyo, a grande maioria dos cidadãos desapareceu num evento sobrenatural e visitantes de outros planos invadem a cidade. Ao mesmo tempo, Akito, o protagonista, recebe a ajuda de um espírito que começa a despertar os seus poderes sobrenaturais e ensina-lhe muito sobre os mistérios que estão a decorrer. É uma espécie de ponte entre o mundo real e o plano sobrenatural, algo que será muito importante no combate, exploração e ao lidar com os espíritos amigáveis que entretanto surgiram para colmatar a ausência dos humanos (alguém precisa estar na loja de conveniência a vender remédio e se não há humano para o fazer, terá de ser o espírito de um gato, certo?).
Procurar pelo seu irmão que desapareceu e expulsar os espíritos que invadiram Tóquio são objetivos que se cruzam. Akito terá ainda de despachar os líderes responsáveis por este ataque, mas isso fica para o jogo final. A versão prolongada da demo, que mostrou a exploração progressiva da cidade e os combates na primeira pessoa (artes marciais com magia) foi altamente empolgante e desde logo senti que existem dois parâmetros que distinguem Ghostwire: Tokyo, a sua atmosfera misteriosa e inquietante e o sistema de combates. "Karaté combinado com magia" é a descrição da equipa de desenvolvimento, mas de forma alguma imaginava que isto estaria tão fluído e dinâmico.
Em alguns momentos parece que estás perante um filho de Mirror's Edge que aprendeu a usar magia e está a fazer o que pode para despachar espíritos. Podes usar ataques diretos como feitiços, mas também podes executar uma defesa no momento certo para deixar o adversário atordoado. Com os gestos das mãos a relembrar o que viste em Naruto, tens ainda de puxar pelo núcleo de um espírito, que fica exposto quando perde grande parte da sua energia, para acabar com ele. Incrivelmente fluído e empolgante, com um cenário japonês que conquista os adeptos da cultura e uma atmosfera simplesmente perfeita.
Existiram imensos momentos de combate que me deixaram de sorriso na face e ansioso por jogar, especialmente pelo uso dos poderes e porque tudo parece ser incrivelmente simples, mas com estratégia à mistura. O mapa aberto é desbloqueado ao fechar portais através dos quais os espíritos entram em Tóquio, com missões secundárias para te desviar do caminho principal. O exemplo aqui foi uma casa assombrada na qual tens de encontrar o espírito e descobrir o porquê de não sair de lá. Neste momento, a atmosfera tornou-se mais intensa, mais assustadora e sentiu-se mais da veia de terror que está em Mikami e inspira esta equipa.
Em termos da progressão narrativa, vi imensos momentos (alguns deles revelados no vídeo da PlayStation em cima) com o cenário a transformar-se em tempo real, instantes dentro de habitações onde o tom fica mais assustador para maior imersão, confesso que só o queria jogar. Ghostwire: Tokyo promete tornar-se em algo especial, ou pelo menos diferente, seja pela conjugação de artes marciais e uso de magia na primeira pessoa, pelo ambiente e premissa em si, como pelos inúmeros gifs que certamente serão criados a partir dos mais diversos momentos que vamos conhecer.
Numa era em que parece que já viste de tudo, com muitas séries de renome estão a olhar para outras nas suas tentativas de pedir emprestadas mecânicas para evoluir e atender aos pedidos dos fãs, não esperava ficar surpreendido desta forma com a premissa de um jogo. No entanto, Ghostwire: Tokyo conseguiu pelo menos deixar-me incrivelmente empolgado com a sua premissa e originalidade. A atmosfera do jogo, gameplay, narrativa e combate prometem tornar-se em algo especial e estou mais do que ansioso para descobrir como o sangue novo ensinado por Mikami introduz frescura na indústria.