Gleylancer - Review - Manancial de vitalidade
Intrépidos shooters.
Não é comum ver jogos da geração 16-bit, oriundos de consolas, receberem tratamento que poderíamos definir de "premium" em relançamentos ocidentais. Um tratamento para lá do mero "port" e da inevitável tradução para o caso de um exclusivo nipónico. Já o mesmo não se dirá sobre jogos arcade lançados na década de noventa. O trabalho de estúdios como o M2, assente na produção de melhorias, indo muito para lá dos limites do original, é mais frequente e tem vindo a dar frutos de forma consistente, por vezes até a modificar ligeiramente a jogabilidade no sentido de a adaptar às modernas consolas, emprestando assim uma "nova vida" a jogos de um outro tempo.
É o que acontece com Gleylancer, produzido pela NCS Corporation e editado pela Masaya, em 1992, para a Mega Drive. Este shoot'em up 16 bit, para um jogador, acabou de receber uma série de modificações e aperfeiçoamentos pela mão da Ratalaika Games, que não fazem do original um jogo diferente do que era, mas seguramente bem mais interessante e apetrechado de configurações e soluções à disposição do jogador. Haverá quem de vós se questione sobre a pertinência de Gleylancer. Desde logo por estar em causa um "shmup" de qualidade para a Mega Drive, com elevada procura da cópia física original, a atingir valores exorbitantes no eBay. O jogo é de tal modo procurado até pelos japoneses, que em 2019 foi novamente lançado para a consola 16-bit, em caixa e cartucho. Antes, em 2008, conheceu uma versão ocidental, por via da Virtual Console (da Nintendo Wii), embora enquanto "port". Por se tratar de um jogo com elevada procura entre os fãs, o esforço da Ratalaika Games vai ao encontro das pretensões dos muitos fãs de shmups espalhados pelo mundo, que por módicos 5 euros podem jogar este clássico em modernas consolas (Switch, PS5 e XBox Series S/X).
Um manancial de aspectos personalizáveis
Ao primeiro contacto deparamo-nos com uma série de opções passíveis de ajuste. Gleylancer pode ser jogado no seu formato original, tal como está desenvolvido para a Mega Drive. Mas é na versão "moderna" que se percebe que esta edição oferece uma margem significativa de personalização. Diria que há dois aspectos relevantes que saltam imediatamente neste quadro. O primeiro é a selecção e o controlo das metralhadoras. Neste shmup de scroll horizontal controlamos uma nave, após o ecrã de selecção inicial. No entanto, dentro do jogo, podemos modificar o aparelho, com efeitos ao nível das metralhadoras laterais. Os disparos destas "gunners" laterais podem ser manipulados através do segundo analógico, num movimento de maior autonomia.
Isto poderá resultar numa maior capacidade de resposta da nossa aeronave logo ao começo, numa adequação da nave ao nível e tipo de inimigo, mas a dificuldade mesmo em normal é bem significativa. Com uma alta sensação de velocidade e múltiplos projécteis na nossa direcção, os desvios e a perícia no controlo são cruciais para a sobrevivência. Porém, uma trajectória mal calculada ou um desvio errado podem causar Game Over. É neste momento que uma pressão no L (jogamos Glaylancer na Switch) serve de "rewind", ao bom estilo de Forza Horizon, para voltar atrás e evitar aquela explosão desnecessária. O voltar atrás pode ser usado as vezes que quiserem. Para ajudar a progredir mais facilmente existem ainda seis espaços para gravar o jogo a todo o instante, o que evita aqueles recomeços e passagens por níveis complicados.
Jogado no formato clássico, para uma experiência similar à original, podem ser aplicados filtros e uma qualidade pixel do tipo CRT, com vários parâmetros susceptíveis de alteração. Desde logo uma maior curvatura do ecrã, ou maior visibilidade das scanlines, para uma emulação mais retro. Até os wallpapers em fundo podem ser modificados, do espaço sideral à curvatura do planeta. Gleylancer não apresentou cinemáticas. Estas vieram nos jogos para a Mega CD e depois com a Sega Saturn, mas são memoráveis as imagens de arte ao estilo manga, que servem de introdução à narrativa. A tradução para inglês também é opcional, assim como podem os jogadores optar pelas "batotas", um sistema originalmente à disposição dos japoneses e que agora pode ser experimentado por jogadores ocidentais. Parece-nos no entanto, que a Ratalaika poderia ter ido um pouco mais longe neste trabalho, através de mais opcionais, sobretudo num trabalho dedicado aos fãs, assim como a inclusão de objectivos a cumprir para uma sensação maior de progressão, não cabível apenas na ideia de finalização dos 11 níveis.
No entanto, não deixa de ser notável o trabalho desta produtora, ao avançar bem para lá do tradicional "port". Bem sabemos que a emulação existe há muito tempo, mas não é possível estabelecer aqui qualquer comparação. A qualidade desta versão, assente nos múltiplos personalizáveis, desde a apresentação até à jogabilidade, num refinar que a torna mais prática e atractiva, qualquer experiência a partir de um emulador peca por defeito. Adaptado às consolas da nova geração e por quase 6 euros, qualquer fã de "shmups", detenha ou não o original, vai encontrar nesta versão um amplo reduto de diversão. Mais "oldschool" ou acessível, o jogador decide.
Prós: | Contras: |
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