Godstrike review - Dar o corpo às balas
Boss fight em catadupa onde tempo é vida.
Lançado no pretérito dia 15 de Abril para o serviço Steam, Godstrike, produzido pela Overpowered Team, um pequeno estúdio indie também responsável pelo desenvolvimento de Ruin Raiders e Intergalatic Transfer Station, encontra-se igualmente disponível na consola híbrida da Nintendo. Assinalado a um preço abaixo da média e detentor um conceito interessante, uma "boss rush", na sua execução apresenta algumas inconsistências, especialmente o desmesurado grau de dificuldade, cujo impacto se faz sentir de forma abrupta mal arregaçamos as mangas. Esta produção cuja inspiração provém dos clássicos "shmups" japoneses, mais especificamente o subgénero "bullet hell" (que traduz a ideia de uma miríade de projécteis através de vagas quase infindáveis e cujo efeito visual se assemelha imenso a um caleidoscópio), materializa uma série de "boss fights" em catadupa, cuja regra principal é o tempo disponível para sair da batalha com sucesso, sendo que o tempo corresponde ao indicador de saúde da nossa personagem.
Assim, só podemos passar à "boss fight" seguinte se derrubarmos o adversário antes de ficarmos sem tempo. É um toque caprichoso no conceito, especialmente se considerarmos que há muitos poderes e "power ups" que podem ser adicionados à entrada de cada batalha. Cada uso que façamos de um destes poderes produz uma determinada melhoria, de vocação ofensiva ou defensiva, é variável, no entanto, há um senão: consomem tempo. Sempre que utilizarem um determinado poder, ocorre uma redução específica de tempo. A dificuldade é que os bosses são muito difíceis e tendem a varrer toda a arena com grande facilidade. Além disso, os seus ataques vão sendo mais poderosos à medida que ficam sem vida. É o normal nestas coisas, mas as batalhas são por vezes extremamente exigentes, ao ponto de logo de início serem atingidos picos de dificuldade, quando enfrentam o primeiro boss, curiosamente intitulado Tutorial.
Do ponto de vista do conceito, Godtsrike apresenta alguma frescura e não se joga dentro dos moldes mais tradicionais, como já explanei, o que o torna bastante interessante à medida que progridem. Mas também ficam mais expostas as suas vulnerabilidades, nomeadamente uma desigualdade de armas no combate. Como se por cada poder entregue fosse retirada uma parcela de vida. O principal problema é especialmente um sentido de elevada dificuldade, que nos obriga a repetir sistematicamente a mesma batalha até encontrarmos as vulnerabilidades do adversário. Cuphead é um jogo com similitudes mas também diferenças, e no entanto é muito superior a Godstrike, a todos os níveis
A sétima máscara de Deus
Para começar, a narrativa de Godstrike passa quase em fundo e não parece ir mais adiante do que uma nota de rodapé, longe de se revelar, por exemplo, nas boss fights. No modo história, sabemos apenas que a nossa personagem corporiza Talaal, a última das sete máscaras de Deus, que depois de corporizada enfrenta as seis rivais que lutam com ela por forma a retirar-lhe os seus poderes. A fim de sair vitoriosa, Talaal terá que enfrentar as mais diversas criaturas, num desafio de dificuldade extrema.
Os controlos são simples e parecem sempre bem ajustados, embora a mecânica do "twin-stick" nem sempre possibilite a melhor desenvoltura. O stick esquerdo movimenta a personagem e o direito serve para orientar a direcção dos disparos. Sem aqueles projécteis que tendem a abrir em leque, há por vezes alguma dificuldade em atingir o adversário. As rápidas movimentações deste e os seus projécteis criam problemas aos controlos, dando por vezes a sensação de um avanço inglório. Se a isso acrescentarmos as defesas do bosses e os seus contra-ataques, muitos deles imprevistos e rápidos, com capacidade para abarcarem toda a arena, é extremamente complicado sobreviver naquele tempo limite.
De início dispõem de poucos poderes, mas assim que prosseguem ao longo da história, desbloqueiam novas melhorias, de diferente vocação. À partida para uma batalha é possível configurar os poderes a utilizar no decurso desta. Durante as batalhas podem até reforçar os poderes de carregamento, obtendo fragmentos de uma luz azulada libertada pelos adversários. Isso permite carregar e dispor mais uma vez do upgrade, porém, com uma eliminação em segundos do tempo disponível para a batalha. É aqui que a estratégia assume preponderência. Alguns inimigos podem ser alvejados com o poder de fogo base. Mas como cada "boss" é constituído por várias camadas, até chegarem ao núcleo (a última barra de vida deles), terão que combinar da melhor forma os poderes. Mas este exercício é feito sempre num quadro de uma tão grande dificuldade que por vezes é difícil não fugir à sensação de frustração. Como referi, na comparação com experiências próximas do género, parece faltar equilíbrio nos poderes dos confrontantes, com alguma desigualdade em termos de armas, só anulada por uma persistência faraónica.
É justo porém, ressalvar a individualidade e construção das batalhas, na forma como estas se metamorfoseiam ao longo do tempo e à medida que removemos as várias capas que envolvem os bosses. Nem sempre todos apresentam o mesmo grau de detalhe, no entanto são muito diferentes, com processos e mecânicas diferenciados. Nisso estamos perante o melhor que Godstrike tem para oferecer, ainda que nos ofereça um aspecto mais simples em termos visuais e menos renderizado nalguns momentos. Há um número significativo de opções e modos, nomeadamente o Arena, o daily challenge e o challenge mode, todos com regras e desafios baralhados, embora em torno dos mesmos princípios básicos de combate. A saga principal está no modo história, enquanto que os restantes modos servem sobretudo como treino e adaptação às 40 habilidades que poderão aceder sem terem que as desbloquear primeiro. Em suma, Godstrike parte de um conceito interessante, sem atingir a cadência certa de qualidade. Parece que por cada ponto positivo há um revés.
Prós: | Contras: |
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