Goichi Suda
Otaku desde o jardim de infância.
Aos 42 anos, Goichi Suda, também apelidado de Suda 51 é uma referência da cultura pop/punk e um ícone na indústria dos jogos, dentro e bem para lá do Japão, tendo inaugurado as produções no já distante ano de 1994 por intermédio de Super Fire Pro Wrestling Special para a Super Famicom. Algumas arestas dos seus trabalhos ganharam destaque, mas como figura continuava restrito a um nicho de conhecedores do seu legado, pelo menos até à altura em que conjuntamente com Mikami, lançou uma das obras mais icónicas e representativas do seu legado, talvez o jogo que o puxou para a cena definitivamente como um produtor/autor, sob a áurea da Grasshopper Manufacture. Esse jogo é Killer 7. Uma obra com estilo, artilhada para quebrar convenções, factores que lhe concederam um forte estatuto de culto e representatividade junto de grupos crescentes de fãs, mas travada por alguma crítica e até jogadores, pouco parcos em garantir como limitação significativa um controlo demasiado “on-rails” dos protagonistas.
Apesar disso Killer 7 destacou-se como bom jogo de acção (surreal), ainda que dentro de alguns nichos. O género distorcido funcionou como um meio para um trabalho único. Mesmo com a distância de 4 ou 5 anos Goichi Suda continua a ser dos poucos produtores que sopesa nas suas produções temas como vida e morte, “Scorcese, Jackass kafka e Wrestling” (nesses mesmos termos apontou Brian Ashcraft em Arcade Mania) e há quem não hesite em acrescentar pitadas de “porn”, nas palavras da britânica EDGE (edição Maio 2010).
Fiel ao interesse em moldar uma história nas suas produções, Killer 7 é um jogo que põe à prova esse desiderato, considerado o número de personagens presentes e forma como se relacionam. A derradeira espuma do jogo, na última cena no topo do prédio para os momentos finais, não colhe o jogador conhecedor do legado de Suda com surpresa. Afinal, nesse jogo de “wrestling” fabricado para a SNES a conclusão regista um suicídio fora do ecrã, numa ligação ao acontecimento que marcou 1994; o desaparecimento súbito de Kurt Cobain. Depois entram as máscaras de wrestling, outra marca nos trabalhos de Suda, como o atleta de luta livre que em Killer 7 segura dois lançadores de granadas.
Killer 7 contou também com cenas ou prelúdios animados para cada uma das personagens. Pequenas e rotineiras sequências que serviam para aprofundar as ligações entre os elementos dessa organização secreta mas que deixavam conhecer um outro traço do produtor, a tendência para criar uma apresentação cinematográfica. O mesmo sucedeu com No More Heroes para a Wii, um jogo que reconheceu as características inovadoras da consola, mas sem se distanciar do ritmo cinematográfico na descrição das personagens e nos momentos de vital confronto, sendo por aí que entram os temas recorrentes nos seus jogos.
Goichi Suda não esconde a admiração pela indústria cinematográfica, nem inviabiliza qualquer oportunidade que mais tarde lhe dê a chance para fazer um filme. Fica perto de Kojima, outro admirador da sétima arte, mas de momento a atenção do estúdio que controla passa sobretudo pelo desenvolvimento de novos trabalhos para o Natal da Microsoft e a tecnologia de movimento da Sony.
Em 2008, No More Heroes, em exclusividade para a Wii, confirmou o trabalho de Goichi Suda, num jogo inteiramente fiel ao estilo ao mesmo tempo que pôs à mostra o interesse que o produtor japonês sempre teve pelo “retrogaming”. No livro Arcade Mania de Brian Ashcraft, Goichi conta que quer trazer para os jogos actuais aquele sentimento de descoberta e de coisas novas cada vez que entrava num dos centros quando era muito novo: “eu quero pôr essa atmosfera retro nos jogos que crio”. Com efeito a série No More Heroes tem vários elementos que acrescentam um ambiente nostálgico, transportando os jogadores para outros tempos, como sucede, por exemplo, com a tabela do ranking de assassinos apresentada dentro de uma perspectiva e design totalmente 8 bit. Para a sequela (NMH2) Goichi foi mais longe e acrescentou pelo menos 3 jogos retro, mostrando-se entusiasmado como essas aplicações funcionam com o teor do jogo.
Goichi acredita que os jogos podem constituir trabalhos artísticos e por isso prefere qualidade a comércio, divisão a unanimidade, na senda de algo verdadeiramente único. Enquanto produtor criativo/executivo tem como preocupação central as ideias (algumas chegam mesmo quando a tampa da sanita está levantada e o autor enfrenta uma séria diarreia) que quer incorporar num género, através do seu estilo e sempre sob o crivo da criatividade, segurando-se em referências ocidentais e orientais, razão por que No More Heroes se presta a tremendas ligações com a cultura Otaku.
Com obras referencia como Killer 7 e a série No More Heroes é de esperar que haja uma tendência para o estilo se sobrepor à substância enquanto Goichi continuar determinado em acrescentar novas ideias que abarquem culturas, filosofias, cinema, “retrogaming” entre outras fontes. Além disso, Goichi convive bem com novos desafios, como sucedeu com a adaptação e desenvolvimento de No More Heroes para a Wii. A aproximação às massas é cada vez maior, mas nem por aí Goichi Suda deixará de ser fiel aos seus princípios.