Trash Panic
Lixo ou não-lixo?
Como fazer renascer uma fórmula básica de sucesso, como a de Tetris, a partir do nada? Lixo. Adicionem lixo. Finalmente as companhias responsáveis por “fazer acontecer” enxergaram que nós, normais pessoas do ocidente, adoramos estas maluquices tradicionalmente criadas pelos malucos do costume, os orientais. O resultado é o aparecimento destas pérolas em territórios que normalmente não se apostaria. Agradeçam às plataformas virtuais que têm tornado tudo tão mais fácil.
Muitos provavelmente conhecem-no como Gomibako, que é na realidade o título original deste jogo que foi lançado há coisa de um mês em território Japonês. Desde logo se equacionou o alastramento mundial desta febre e o resultado é Trash Panic, um jogo que é neste momento presença confirmada no catálogo de futuros lançamentos da Playstation Store. Não se sabe ao certo é quando. Há uma coisa que devem saber acerca de Trash Panic: tudo roda em volta de enfiar lixo no caixote, e por isso talvez o venham a querer utilizar para ensinar qualquer coisa ao filho desarrumado ou ao colega de quarto que deixa os pacotes das bolachas espalhados pelo chão da sala.
No meio disto, o vosso papel será colocar, ou talvez, organizar da melhor forma o lixo que vos é encarregue. Assim, terão ao dispor um caixote do lixo e uma grua onde são dispostos através de ímanes magnéticos todos os materiais que posteriormente serão utilizados. Mas tudo seria demasiado singelo caso o lixo tivesse que ser disposto de forma intacta. Por isso, a melhor forma de o compactarem será partindo os canecos e tudo mais que seja entregue. O objectivo final é colocar todo o lixo no caixote sem que este transborde. Pelo meio poderão ter que destruir Super-Lixo, guardar lixo valioso ou até mesmo queimar e degradar lixo. Quem disse que lixo é todo igual?
Enquanto jogam, a forma como lidam com o lixo também conta. Quero com isto dizer que existem dois percursos possíveis a partir do momento em que enfiam a primeira casca de banana no lixo – o percurso ECO (de ecológico) e o percurso EGO (de egocêntrico, suponho). As decisões que tomam consoante depositam o lixo irão afectar a vossa pontuação final que vai desde o AAA até ao E, sendo este último a pior pontuação. A única forma de conseguirem obter o Score máximo será procedendo de forma ecológica. Ou seja, eventualmente poderão optar por utilizar bombas ou arder o lixo, mas isso irá favorecer o percurso EGO e, consequentemente, baixar-vos a pontuação. São escolhas da vida real adaptadas aos videojogos. Separar? Não separar?
Inicialmente terão dois modos de jogo disponíveis – o modo Doçuras e o Prato Principal. Não são muitos diferentes diga-se. Num existem Boss’s e no outro não. O modo Infernal – que é posteriormente desbloqueado - é a mesma coisa, se bem que a nível de dificuldade fará jus ao nome e os seus cenários terão um aspecto mais medonho. Em Trash Panic os cenários e o conceito em si remonta-nos de certa forma para a sensação de grandiosidade obtida em Katamari pois se inicialmente irão depositar canecas, lápis e agrafadores em baldes do lixo de escritório, por fim estarão a colocar planetas, nuvens e barragens em caixotes enormes. Contudo, existe pouco mais do que um punhado de cenários, e só a dificuldade exacerbada dos níveis superiores vos levará a perder mais tempo com o jogo.
À medida que se vão aproximando do final de cada nível no modo Prato Principal irá aparecer um Boss – podendo ir desde um porquinho mealheiro, um TV LCD, um camião ou até uma nuvem gigante – que deverão destruir num espaço de 10 segundos. Caso não o façam serão penalizados com um monte de lixo que cairá directamente do céu para dentro do caixote. Da mesma forma serão penalizados sempre que não guardarem mottaina - peças valiosas que poderão ir desde um quadro até uma jóia. Enfim, se não é do cu é das calças. Rapidamente se percebe que o jogo penaliza excessivamente o jogador e a curto prazo os níveis irão perder a graça. É que por vezes, nem mesmo escolhendo o percurso EGO é fácil terminar um nível, quanto mais pela via ECO.
Na maioria dos casos é impossível passar um nível à primeira. São necessárias múltiplas tentativas até perceber o que acontece e a forma como as peças são distribuídas para conseguir terminar o nível. É estranho quando num jogo estilo Tetris, que se quer rápido e frenético, é possível saber que temos um nível condenado à desgraça apenas falhando na colocação de uma peça, mesmo que seja numa fase inicial do nível. Conceitos básicos do género são abdicados, tornando a experiência em algo mais próximo de um estilo estratégico. Os modos de jogo também não favorecem em nada a experiência pois estão demasiado presos à organização feita por niveis.
Existem poucos níveis e existem poucos modos de jogo. Só a dificuldade excessiva aumenta a longevidade de Trash Panic pois por vezes terão que repetir vezes e vezes sem conta os mesmos níveis para perceberem as suas manhas. A curto prazo isto torna-se chato e nem mesmo o conceito original e engraçado salva o convento de ir abaixo. Existem coisas que funcionam mal a nível de física. Lixo que fica preso de forma estúpida em cantos do balde, objectos que ressaltam ou partem-se de forma irrealista e posições tomadas pelos objectos que não fazem qualquer sentido. Existe a opção de abanar o comando para juntar o lixo que está a “voar”, mas esta opção revela-se quase sempre inútil.
Para acabar existem ainda dois modos de jogo que marcam presença só para “encher”. O modo Versus coloca em disputa dois jogadores na mesma consola e, ainda que básico, está razoavelmente bem aplicado. Já o modo Missão é de pouca utilidade e parece que nem foi razoavelmente acabado ou, sequer, testado. Trash Panic é uma experiência que beneficia essencialmente pela sua ideia originalmente arrojada e pelo seu aspecto divertido. O conceito é engraçado e até funciona bem quando não é levado ao extremo. Simplesmente é um jogo que exige um grande perfeccionismo por parte do jogador, quando muitas vezes nem mesmo ele o é.