Google Stadia - O futuro chegou?
Adeus guerra de consolas, olá guerra do streaming.
Esta semana a Google revelou a sua jogada para entrar na indústria dos videojogos. Dominada até agora por três grandes companhias que há muito se instalaram neste mercado - a Sony, Microsoft e Nintendo - existe agora um novo concorrente poderoso. A Google é uma das maiores companhias de tecnologia do planeta e com os seus recursos tem mais do que força suficiente para se posicionar como uma potência nos videojogos.
O método da Google é, contudo, diferente daquilo a que estamos habituados. Ao invés de apostar numa caixa de hardware que se liga à televisão - uma consola tradicional - decidiu aproveitar os seus conhecimentos e recursos de um segmento em que já é uma força dominante há anos: centros de dados e servidores. São os centros de dados e servidores que a Google tem espalhados por mais de 200 países que alimentam o Google Stadia, uma plataforma / serviço de videojogos que existe unicamente na nuvem.
Mas como funciona exactamente o Google Stadia?
O Google Stadia está dependente de hardware, a diferença é que esse hardware não está na tua casa como as outras consolas. O hardware está nos centros de dados da Google. A melhor forma de pensar no Google Stadia é olhar para outro serviço desta companhia: o Youtube. Quando abres o Youtube e seleccionas um vídeo qualquer para visualizar, esse vídeo não está no teu hardware, mas sim nos centros de armazenamento da Google. O Google Stadia vai funcionar da mesma forma, só que com videojogos.
A ideia é tornar o acto de jogar um videojogo tão fácil quando assistir a um vídeo. Seleccionas um jogo qualquer disponível no serviço e no curto período de cinco segundos vais estar a jogar. Não existe o processo de download nem de instalação. É como se fosse a Netflix dos videojogos. É um conceito com potencial que remove a necessidade de estar a comprar a última consola para desfrutar dos títulos mais recentes. Como o Stadia é compatível com televisões (através do Chromecast), smartphones, tablets e computadores, poderás jogar em qualquer lado e continuar o teu progresso em qualquer um destes dispositivos.
Quais são os inconvenientes?
O maior desafio para a Google é garantir que o Stadia funciona devidamente. Transmitir um videojogo de um servidor para a tua casa, sendo que tu vais estar a controlar o jogo em tempo real, é um processo muito mais exigente e complicado do que transmitir um vídeo, no entanto, não é impossível. Os primeiros testes do Digital Foundry, realizados com o jogo Assassin's Creed: Odyssey, revelaram que o Google Stadia tem uma latência (ou atraso de resposta) de 166 milissegundos (ou 0.166 segundos). Porém, há que levar em conta que esta latência foi registada a 30 fotogramas por segundo. A Google promete uma experiência a 60 fotogramas por segundo e isso poderá atenuar o atraso na resposta.
Embora seja apenas uma fracção de segundo, 166 milissegundos da latência são perceptíveis para jogadores ávidos. Em jogos com um ritmo lento, este nível de latência poderá ser tolerável, mas em jogos que requerem acções rápidas - como jogos de luta, de tiros e de condução - o Stadia poderá não oferecer o mesmo nível de resposta a que os jogadores de PC e consolas estão habituados. Isto acontece porque, por mais avançada que seja a rede de comunicações de fibra da Google, a informação tem viajar da tua casa para o centro de dados (centenas ou milhares de quilómetros) e depois do centro de dados para a tua casa.
O comando oficial do Stadia, que é opcional para a plataforma, tem uma solução engenhosa para reduzir o atraso na resposta. O comando, em vez de estar ligado ao hardware que tens em casa, estará ligado por WiFi ao servidor que está a correr o jogo. No entanto, apesar de tudo isto, o Stadia ainda vai requerer uma boa ligação à Internet, principalmente para usufruíres da promessa de jogar com a resolução 4K a 60 fotogramas por segundo. Se 100mbps, 200 mbps ou mesmo 1gbps já são ofertas comuns nas grandes metrópoles, ainda há bastantes regiões em que a qualidade da ligação à Internet pode não ser suficiente para um serviço com o Stadia.
"Em jogos que requerem acções rápidas - como jogos de luta, de tiros e de condução - o Stadia poderá não oferecer o mesmo nível de resposta a que os jogadores de PC e consolas estão habituados"
Se o Google Stadia conseguir reduzir ainda mais a latência, assegurar uma boa qualidade de imagem e estabilidade da experiência, é meio caminho andado para que se torna numa proposta séria para quem quer desfrutar de videojogos, no entanto, há outros factores a levar em conta, nomeadamente a lista de jogos disponíveis no serviço e o preço.
O Google Stadia vai matar as consolas tradicionais?
Ainda é cedo para tirar conclusões e a Google ainda não revelou todas as informações da sua plataforma na nuvem. Em primeiro, ainda não sabemos se vai funcionar tão bem como a Google promete, e isto é essencial para que tenha sucesso. Em segundo, o modelo de negócio (ou seja, o preço para o consumidor) não foi explicado. Será um plataforma por subscrição tipo Netflix? Será que vamos poder comprar individualmente os jogos? Haverá alguma opção gratuita com publicidade pelo meio? Ainda não sabemos.
Apesar da incerteza que rodeia o Stadia, o cenário mais provável é que se torne, por enquanto, numa alternativa às consolas e PCs. Apesar do poder da Google, a Sony, Microsoft e Nintendo são companhias com um longo historial e experiência na indústria. As suas consolas são a casa de propriedades intelectuais adoradas mundialmente - God of War, Uncharted, The Last of Us, The Legend of Zelda, Super Smash Bros, Super Mario, Forza, Gears of War e Halo, só para mencionar alguns. A Google terá um estúdio próprio, liderado pela veterana Jade Raymond, a desenvolver exclusivos, mas criar fortes propriedades intelectuais da noite para dia não é fácil.
"Apesar do poder da Google, a Sony, Microsoft e Nintendo são companhias com um longo historial e experiência na indústria"
No entanto, parece que estamos mesmo a caminhar para um futuro sem consolas. A Google, embora seja a única a apostar exclusivamente nesse futuro, não é a primeira a idealizar uma plataforma na nuvem. No passado tivemos os serviços Gaikai e OnLive. Os serviços falharam por várias razões, sendo uma delas a inviabilidade da tecnologia naquela altura, mas foram comprados pela Sony e convertidos no PlayStation Now. A Microsoft apresentou em 2018 o Project xCloud, que tem exactamente o mesmo propósito que o Google Stadia. Entretanto, a Ubisoft já se aliou à Google com o Stadia e a Electronic Arts adquiriu no ano passado tecnologia de streaming de videojogos.
De momento, enquanto a tecnolologia de streaming de videojogos ainda dá os primeiros passos, parece que as consolas tradicionais ainda terão o seu lugar devido à consistência da experiência, ao seu historial e fortes propriedades intelectuais, mas a concorrência do streaming de videojogos está mais forte do que nunca. A próxima geração será interessante, nunca houve tanta concorrência e tantas alternativas nos videojogos. Quem é que será que vai triunfar neste novo horizonte para os videojogos?