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Grand Theft Auto 5 - Análise

Revisitar Los Santos.

Grand Theft Auto 5 foi o jogo mais ambicioso da Rockstar Games até hoje. Criar uma cidade da dimensão de Los Santos juntamente com três personagens jogáveis e um modo online expandido em relação ao jogo anterior não deve ter sido tarefa fácil em hardware datado como a PS3 e Xbox 360, mas no final esta produtora que há anos domina os jogos em mundo aberto provou que a sua ambição era possível e deu-nos algo tão impressionante que se avaliarmos o jogo pelos padrões da PlayStation 4 e Xbox One, agora que estas versões estão disponíveis, continua a ser a melhor referência do género dos últimos anos.

O facto de conseguirmos jogar Grand Theft Auto 5 numa PlayStation 3 e Xbox 360 é quase um milagre e para que o jogo funcionasse a Rockstar teve que fazer compromissos, nomeadamente limitar o número de pessoas e trânsito na cidade, reduzir a vegetação e objetos no horizonte, e outras limitações técnicas. Com o anúncio das versões para as consolas que chegaram ao mercado há cerca de um ano, o esperado era que estas limitações desaparecessem por completo. Na questão da densidade de pessoas e trânsito, as novas versões estão melhores, mas não ao nível do que foi mostrado no trailer de revelação, onde vemos longas filas de carros nas autoestradas. No resto a Rockstar foi capaz de cumprir: a vegetação é mais densa e as as vistas são mais espetaculares (mas os pop-ups ainda são ocasionais).

Los Santos

Com gráficos mais detalhes e um empurrão na resolução para 1080p, Los Santos nunca esteve tão deslumbrante, justificando por completo a existência destas versões para a PlayStation 4 e Xbox One. Se nunca visitaram Los Angeles, a cidade na qual Los Santos é baseada, esta versão virtual é o bilhete mais barato para sentir a atmosfera da Cidade dos Anjos. A fidelidade e tamanho da cidade são por só impressionantes, mas a Rockstar também sucede em capturar a sua personalidade. Pelas ruas encontramos pessoas de todos os tipos, as típicas californianas de olhos azuis e cabelos louros, nos bairros afastados do centro da cidade os gangsters, e perto de Vinewood a quantidade de carros de luxo aumenta drasticamente.

Los Santos recria ao pormenor vários locais icónicos de Los Angeles, o horizonte com os arranha-céus, Venice Beach e todo o tipo de pessoas que encontramos por lá, o paredão de Santa Monica, as letras que simbolizam Hollywood na colina e as estreitas ruas a subir que nos levam a este sinal tão famoso. Claro que Los Santos não foi criada à escala de Los Angeles, tudo está mais condensado e próximo, mas convém não esquecer que além da cidade ainda temos para explorar o lado rural, que ocupa a maior parte do mapa, embora seja menos interessante (excluindo o Mt. Chiliad e as estranhas aparições de extra-terrestres).

O que a Rockstar faz incrivelmente bem é dar a sensação de que a cidade está viva. Há diversos jogos em mundo aberto com grandes cidades ou espaços, mas muitos falham miseravelmente neste aspecto e se prestarmos a atenção, verificamos que é como estar no meio de um deserto. Em Grand Theft Auto 5 não é assim. Explorar Los Santos vale a pena. A caminhar pela cidade encontramos sempre situações ou falas das personagens fascinantes. A atenção dada aos pormenores é minuciosa.

Na primeira pessoa

Os gráficos mais aprimorados não são a única novidade das versões PlayStation 4 e Xbox One. A Rockstar resolveu dar outra razão aos fãs para voltar a comprar o jogo: um modo na primeira pessoa, inédito em GTA. Para implementar esta nova perspetiva a Rockstar teve que criar novas animações e re-trabalhar o interior dos carros. O resultado é satisfatório, mas depois de passar a algum tempo a jogar na primeira pessoa, percebe-se que o jogo não foi feito de raiz para isto.

Há situações em que a nova perspetiva funciona melhor. Uma delas é na condução. Conduzir carros velozes na primeira pessoa é mais satisfatório e emocionante, mas a falta de visão periférica à direita torna-se num incómodo sempre que nos deparamos num cruzamento, sendo preciso rodar a câmera. No uso das armas a sensação é mista. Por um lado, é mais realista disparar na primeira pessoa e conseguimos ver os pormenores das armas, no entanto, apontar a arma no modo livre continua uma tortura e praticamente somos obrigados a recorrer ao modo com assistência parcial ou total. Onde creio que a perspectiva funciona pior é a caminhar, a câmera abana demasiado resultando em dores de cabeça (aparentemente nas definições é possível alterar isto).

O modo na primeira pessoa também permite uma maior imersão em várias situações, mas as cinemáticas ainda trocam para a perspetiva tradicional, tirando essa imersão. No geral, o modo é uma novidade bem-vinda e que dá para brincar, mas precisa claramente de ser afinado, isto se a Rockstar tem planos para incluí-lo em futuros jogos da série.

Três protagonistas

Grand Theft Auto 5 foi pioneiro em introduzir três personagens jogáveis, criando uma dinâmica interessante. Cada personagem tem as suas próprias missões, e em missões nas quais estão todos envolvidos, por vezes é possível assumir perspetivas diferentes do que está a acontecer. Deste modo, o jogo oferece grande diversidade e nunca se torna aborrecido.

Michael é um homem de família tudo menos convencional e que apesar de viver sem fazer nada numa grande mansão em Vinewood, está deprimido e consulta semanalmente um psicológico. Franklin vem dos bairros de gangsters mas quer abandonar aquela vida e subir a escada de sucesso na sociedade. Trevor é a personagem mais instável das três, um autêntico lunático que não consegue controlar-se e que não hesita em tirar uma vida, por mais insignificante que seja o motivo para sua irritação.

De alguma fora, estas três personagens, que nada têm em comum para além da sua vontade de ganhar dinheiro, acabam juntas. É um trio improvável, cada um com personalidades muito distintas, mas que funciona e que permite que diferentes pessoas se identifiquem com um deles. Uns vão gostar de Michael por ser a personagem que mais se aproxima do "normal, outros vão preferir Franklin por ser um gangster, e haverá quem goste de Trevor por ser um louco à solta que ocasionalmente nos faz rir.

Isto é um assalto

As missões mais épicas e memoráveis de Grand Theft Auto 5 são os Heists ou assaltos. Porquê? Estas missões requerem várias missões de preparação e deixam que vocês escolham à abordagem, incluído contratar as pessoas que vos vão ajudar. Quanto mais habilidosas forem essas pessoas, melhor correrá a missão. Se por outro lado escolherem alguém com menos capacidades, é provável que a missão corra mal e que dificulte o objetivo.

O resto das missões seguem o estilo tradicional de Grand Theft Auto. Por vezes basta ir do ponto A ao ponto B, outras vezes somos envolvidos em trocas de tiros, e também há as fugas à polícia. Além das missões principais, em vários sítios de Los Santos há pontos assinalados com pontos de interrogação, onde há breves encontros com estranhos. Alguns deles são curiosos, outros estranhos, às vezes ficamos indiferentes.

Com os assaltos, as missões tradicionais e estes encontros com estranhos, além dos três protagonistas, Grand Theft Auto 5 é o jogo com mais diversidade da série até agora, tendo a capacidade para agradar a um vasto leque de jogadores ao assumir tons diferentes. Há sem dúvida uma evolução, mas para quem procura o Grand Theft Auto tradicional, ainda é possível atropelar os peões e recorrer aos serviços de uma prostituta para no fim lhe roubarmos o dinheiro.

GTA Online

Tal como o resto do jogo, o modo online de Grand Theft Auto 5 é ambicioso. No mundo online podem jogar com outros jogadores no modo livre, isto é, navegando sem limites pela cidade, ou em vários tipos de missões, desde corridas, deathmatches, saltos de paraquedas, missões cooperativas e outro tipo de atividades. Mais uma vez a diversidade de tarefas é a palavra-chave, principalmente tendo em conta que os jogadores podem criar as suas próprias atividades e partilhá-las com a comunidade no modo de edição.

O modo online também assume ligeiramente os contornos de um The Sims. Com o dinheiro ganho podemos comprar uma casa, carro, roupas para a nossa personagem, personalizar armas e outras coisas que servem para mostrar aos outros jogadores e amigos o nosso estatuto social riqueza no mundo online.

No entanto, o modo online peca pelos longos tempos de loading, um problema que já existia na versão PlayStation 3 e que deveria ter sido anulado nestas novas versões. O matchmaking também podia funcionar melhor. Durante a minha experiência, foram várias as vezes nas quais foi difícil ou demorado encontrar pessoas para jogar alguns tipos de missões.

Vale a pena regressar a Los Santos?

"Estas novas versões também servem para atenuar a longa espera por o próximo Grand Theft Auto."

Se ainda não tiveram a oportunidade de jogar Grand Theft Auto 5, a questão nem se coloca. Estas versões PlayStation 4 e Xbox One são as melhores e a ocasião não podia ser melhor para ficar a conhecer este jogo em mundo aberto da Rockstar. Para aqueles que já conhecem o jogo da PlayStation 3 e Xbox 360, há melhorias e novidades suficientes para justificar um regresso (incluindo conteúdos exclusivos). Ainda assim, permaneço convencido que deveria haver um desconto na compra das novas versões para quem já adquiriu o jogo anteriormente, semelhante ao programa de upgrade que surgiu quando estas consolas foram lançadas.

Grand Theft Auto 5 não é perfeito, mas está tão avançado e é tão impressionante que facilmente é confundível com um jogo desenvolvido de raiz para a nova geração. Na qualidade e valores de produção, é difícil nomear um jogo da PlayStation 4 e Xbox One capaz de rivalizá-lo. Estas novas versões também servem para atenuar a longa espera pelo próximo Grand Theft Auto. Se a Rockstar conseguiu criar algo assim para as antigas consolas, que faz frente aos jogos lançados durante este ano para a PlayStation 4 e Xbox One, nem conseguimos imaginar a grandiosidade do que aí vem.

9 / 10

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