Grand Theft Auto: The Ballad of Gay Tony
Adágio gangster!
O sistema de controlo do pára-quedas é particularmente eficaz, apelativo e funciona como válvula de escape para as situações de maior caos e desordem. Para lá do colete para os saltos, a introdução das bombas adesivas permite detonar mais facilmente os alvos em movimento, atirando uma bomba na direcção do objecto predefinido ou colá-la a um objecto, para à distância e com o controlo nas mãos, fazer detonar o explosivo num momento especial. Novas metralhadoras a juntar às já conhecidas e uma sniper, completam o arsenal.
Para cima de uma vintena de missões a cumprir para a história principal, o jogo rende entre 11 a 12 horas, tendo o protagonista de detonar gruas, fazer explodir um comboio em movimento, atravessar o cais a alta velocidade de um super desportivo, afundar um iate, roubar carruagens, um tanque N.O.O.S.E entre outros objectivos que pendem para a destruição a grandes níveis, com chamas, sirenes e helicópteros da polícia no encalço, mas sempre servidos com um grau de execução e espectáculo notáveis. No final de cada missão será mostrada uma grelha com números relativos à percentagem de execução da missão, entre destruição causada, inimigos alvejados, duração, entre outros, e que inculcam um apelo à repetição das mesmas para melhorar a pontuação. Dois dedos no celular e a missão está novamente a rolar.
Não deixa, no entanto, de se fazer sentir algo datado o sistema de cobertura, flanqueio e disparo. Sem cobertura o controlo da personagem é eficaz, mas o sistema de mira automática nem sempre aponta para o inimigo adequado, havendo assim algum atraso e atropelo nas salvas de balas para os adversários, que nos momentos de maior aperto, acabam por ser fatais. Mesmo a técnica de cobertura nem sempre permite negociar com facilidade diante de situações aflitivas, deixando o protagonista às portas do Hospital de forma inglória.
Contudo, os produtores acrescentaram um sistema de gravação automático, sobretudo nas missões mais extensas, que põe um fim na obrigatoriedade de recomeçar a missão desde o zero por cada vez que eram abatidos. A ida ao Hospital continua a pesar na carteira, mas a instalação dos “checkpoints” garante um justo equilíbrio na progressão da missão. Quanto à ocupação dos tempos livres, para lá dos engates nos bares ainda há a prática do golfe, treino de pára-quedas e as famosas “drug wars”, com 25 objectivos que a dada altura da sua execução arrastam a polícia e um coro de balas cruzadas capaz de pôr em estado de sítio as movimentadas artérias de LC.
As possibilidades de utilização do modo para vários jogadores em rede aproximam-se da estrutura de GTA 4 no grosso dos modos de jogo. O telemóvel continua a ser a interface para entrar imediatamente numa área de integração, embora haja uma tendência, a nível de estatísticas, para favorecer a competição dos saltos em pára-quedas. De resto as corridas entre percursos abrangentes continuam a merecer preferência, podendo os corredores utilizar por tempos específicos pequenas doses de velocidade extra, e nos confrontos entre “deadmatch” e “team deadmatch” a inclusão das novas armas oferece alguma diversidade aos combates.
As cenas animadas e o trabalho de vozes continuam em alta. As personagens detêm uma apresentação facial e corporal soberbas. O movimento de Luis nas mais variadas circunstâncias ainda continua a impressionar. Nada, porém, que seja novidade para quem seguiu o trabalho inicial da Rockstar North em GTA 4. Os pequenos trechos animados e mesmo as conversas telefónicas entre o grupo de actores activos neste episódio, até ao desfecho delirante, tornam a narrativa mais intensa, especialmente pelos registos com que algumas personagens são apresentadas, sendo imperativo destacar a presença do multi milionário árabe Ysuf Amir. Javier Bardem interpretou em “Tomates de Ouro” uma personagem que tinha o sonho de construir o edifício mais alto. Ora, Ysuf Amir persegue a mesma ideia: erguer um arranha céus que seja tão caro que ninguém consiga adquirir um dos seus espaços. É uma sátira notável aos árabes endinheirados espalhados pelo mundo, mas também uma personagem que gosta e vibra com a colaboração de Luis Lopez para executar os seus mais ambiciosos projectos. Com ele terão lugar missões memoráveis. A escolha de novos ritmos sonoros ao nível do funk, electro e groovie atribiu um outro acompanhamento, particularmente admirável nos bares e enquanto se viaja pela cidade. E nem ficaram por mãos alheias a disposição e alinhamento dos temas a passar nos créditos finais. Não há como arredar pé.
The Ballad of Gay Tony é o último episódio do universo de GTA 4 em exclusivo para a Xbox 360 e acrescenta toda uma apologia como o primeiro vincou em Abril de 2008, sendo que o maior mérito desta expansão é a aparente facilidade com que rivaliza e forja uma alternativa ao conteúdo primitivo. E consegue-o sobretudo pelos termos da execução, apresentando uma nova personagem, com outras motivações, outras proximidades, outros conflitos e embrenhada num ambiente inteligível mas ficcional que não se distancia do escrutínio dos símbolos, culturas e referências. As missões seguem um grau de estrondosa fragmentação, diversificadas, apelativas e empolgantes em virtude do novo arsenal e da utilização dada aos helicópteros. Uma vez finda a estrutura principal ainda permanecem motivos e objectivos complementares. Liberty City continua a fascinar.