Grounded review (early access) - Uma adorável fantasia infantil
Sobreviver no jardim.
No que toca à saturação de géneros, os jogos de sobrevivência são um dos piores exemplos. Existem dezenas de alternativas disponíveis neste momento, todos eles assentes na mesma base mas com algum tipo de twist ou ambientação diferente para justificar a sua existência. Por já ter experimentado vários destes jogos sem que nenhum tivesse deixado algum tipo de impressão duradoura, encarei Grounded da Obsidian Games com cepticismo. Sem invalidar a diversão que estes jogos oferecem aos seus jogadores, o problema para mim é que depois de jogar vários deles, fico sempre com a sensação de que estou a fazer mais ou menos a mesma coisa. Pensei que isso se iria repetir com Grounded.
Discutir Grounded sem referir o filme "Querida, Encolhi os Miúdos" de 1989 é impossível. Neste filme, a máquina maluca criada pelo cientista Wayne Szalinski acaba por encolher os seus filhos e dois vizinhos. O que se segue é uma aventura de fantasia que mostra o que aconteceria se os humanos fossem mais pequenos do que meras formigas. Grounded da Obsidian Games pega no mesmo conceito e aplica-o ao género de sobrevivência. Neste jogo escolhes um de quatro miúdos disponíveis para te aventurares no pequeno quintal de uma casa. Quando és mais pequeno do que uma formiga, o pequeno quintal transforma-se num grande parque de aventuras com muitas ameaças à espreita.
Early Access, mas já com muita solidez
Não sei se é porque a Obsidian é um estúdio com muitos anos de experiência ou se porque este é um jogo que carrega a responsabilidade de mostrar a capacidade dos Microsoft Studios, mas o que é certo é que, apesar de estar em Early Access, Grounded é um jogo muito sólido. E isto sente-se logo quando começamos a jogar e nos deparámos com o maravilhoso mundo composto por terra, ervas gigantes e vários tipos de insectos. Desde logo que podes alternar entre dois tipos de câmera: na primeira ou terceira pessoa. A perspectiva da câmera é uma escolha pessoal, mas parece-me que a terceira pessoa é muito mais imersiva para o factor da fantasia - com esta perspectiva vemos o miúdo inserido naquele ambiente, com coisas como caixas de cereais e bolas de basebol a assumirem proporções semelhantes a edifícios.
A atmosfera sentida em Grouded deixa-me a sentir como uma criança, quando sonhava em viver estas aventuras impossíveis. Este parece-me ser o principal factor pelo qual Grounded consegue ser muito mais apelativo do que os outros jogos do mesmo género: é mais imersivo, divertido e, apesar da experiência ter profundidade, não complica demasiado. Este tipo de jogos têm tendência para serem excessivamente complicados e apostarem em grinding abusivo, tudo em nome da longevidade. Grounded encontrou um bom equilíbrio, evitando habilmente a sensação de que estás a fazer tarefas aborrecidas. Para isto contribuem as poucas, mas altamente promissoras, missões da história. É na história de Grounded que percebemos que este é um jogo em construção, não durando mais do que uma hora. A versão final terá mais do que isto e, apesar da curta duração, ficámos ansiosos para saber o que acontece a seguir.
Sobreviver no jardim
Apesar do charme emanado, Grounded não deixa de ser um jogo de sobrevivência e no que toca a isto não reinventa a roda, pelo menos nas mecânicas envolvidas. O teu miúdo precisa de comer, de beber, de descansar e de um sítio seguro para passar a noite. Isto é o básico dos básicos, mas à medida que vais descobrindo utilidades para os diferentes materiais que podes recolher, mais opções de construção ficarão disponíveis. Com o devido tempo investido, podes criar armaduras com partes de insectos, locais para armazenar água e objectos, candeeiros para quando ficar escuro, grandes fortalezas, entre outras coisas. A economia de recursos é acessível e sentes que consegues progredir com facilidade, mesmo jogando sozinho. Nesta questão, o jogo é completamente flexível e uma coisa não canibaliza a outra: é tão bom jogar sozinho como jogar com amigos. Na primeira sentes-te mais desafiado porque estás sozinho; na segunda será mais divertido pela convivência.
No combate Grounded precisa de mais trabalho. Existem várias armas disponíveis, mas os ataques são básicos. Na defesa existe a opção de bloquear um ataque atempadamente, mas a resposta do jogo precisa de ser trabalhada. Ainda não existe aquela fluidez que deve existir sempre num jogo que envolve combate, ainda mais quando temos que enfrentar aranhas que para nós são agora gigantescas e assustadoras. Não obstante, toda a representação do mundo criado pela Obsidian está fantástica. Há detalhes que merecem ser mencionados, como a verticalidade que nos permite subir para cima de ervas altas e saltar de folha em folha, e usar um dente-de-leão para nos atirarmos de sítios altos e voar por uns momentos. É também nas ervas altas que vais encontrar preciosas gotas de água que precisas de beber para te manter hidratado, já que a água do chão deixa a tua personagem mal disposta.
"Toda a representação do mundo criado pela Obsidian está fantástica"
Sentes que existe uma grande interactividade com o mundo à tua volta e que podes usar todos os recursos que apanhas para alguma coisa. Numa questão de dias (estou a falar de dias passados no jogo) consegues construir uma pequena casa com coisas básicas como local para dormir, um espeto para cozinhar, ervas luminosas que servem de candeeiro à noite e depósitos para água e objectos. A construção de casas é facilitada pela mecânica de pré-planeamento, que te deixa planear todo o projecto com blueprints 3D para não haver enganos. Depois só precisas de coleccionar os materiais necessários e construir. Não há dúvidas que a Obsidian estudou bem outros títulos deste género antes de se aventurar em Grounded. Apesar da positiva simplicidade que o jogo tem, nota-se que está bem pensado. Para um projecto ainda em construção está estupendo. A versão final poderá figurar como um dos melhores jogos da Microsoft Game Studios.
Esta review foi feita no monitor Samsung CHG90 Super Ultra Wide.
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