GTi Club + Rally Côte D'Azur

É na entrada para a recta final, quando no canto superior esquerdo os segundos sobrantes começam a escassear em ritmo sonoro até ao implacável zero, muitas vezes com a liderança ganha ou numa posição mais disputada e à beira de um generoso deslizar a quatro rodas, que se percebe como é estonteante a estrutura de um jogo arcade de corridas automóveis. Sempre com indefinição até aos últimos metros e numa dificuldade crescente conforme ditam os cânones que atravessaram Sega Rally, um dos incontornáveis do género.

GTi + Rally Cote D’Azur para a Playstation Network PS3 é uma reedição adaptada aos tempos modernos do velho clássico saído em forma de cabina pela mão da Konami para os salões de recreativas. Quem foi cliente habitual dos salões de jogos no final da década de noventa terá aproveitado a pequena estrutura com assento, monitor e volante para umas acrobacias na luxuosa Riviera francesa, a bordo de veículos compactos mas vitaminados, autênticas relíquias, encontradas em clubes, como o Mini Mónaco, Lancia Delta (Deltona) ou o pequeno Renault 5 Turbo. Pode ter-se liquidado uma parte significativa desse prazer indiscutível ao reservar para o Sixaxis (com sensor de movimentos como opcional), o controlo dos veículos, em exclusivo, deixando de fora um conjunto de volantes que proporcionariam uma experiência mais enriquecedora, mas pese o desconforto, a verdade é que este GTi Club acaba por funcionar bem, com a maioria dos atributos divulgados há dez anos totalmente explanados, concedendo o aliciante das corridas para múltiplos jogadores em rede.

E que proveitosos têm sido os últimos meses para os clientes da PSN. Desde Mega Man 9, a Wipeout HD, passando por Super Street Fighter II HD Remix, a influência de alguns clássicos das arcadas continua bem patente dentro da loja virtual da Sony agora com este GTi Club, que tivemos oportunidade de conhecer na pretérita edição da Games Convention em Leipzig sob a forma de um breve trailer. A produtora Sumo Digital (responsável por outros títulos como Out Run 2 para a Xbox e Out Run 2006: Coast 2 Coast) tem ganho hábito dentro das lides das arcades e deu-se bem com esta reedição para a PSN, apresentando um título muito sólido e competente. Mas a palavra que parece reunir mais consenso neste jogo é divertimento. Sem incutir vagas de originalidade, até porque se trata da versão de salão, incorpora o feedback do jogo arcade na abordagem mais simples e directa que faz à costa francesa da Riviera, pelo recurso aos percursos citadinos com múltiplas possibilidades de escolha, atalhos para chegar à meta na frente.

Os carros, super GTi’s como Mini Cooper, Renault 5 Turbo, Volkswagen Golf Gti, Lancia Delta e Fiat Abarth para além de comportamentos distintos mediante diferentes graus de arranque e velocidade de ponta, denotam ainda uma física inconfundível mas sempre entusiasmante de se pôr à prova cada vez que se passa por um gancho ou se descreve uma curva rigorosa. Enquanto que o Mini Cooper inclina mais nas curvas apertadas, o Lancia Delta, mais ajustado na suspensão, parece agarrar melhor ao asfalto e dar-se melhor com deslizes.

A escolha dos veículos é suficiente e na progressão do jogo os melhores resultados acrescentam alguns brindes como um equipamento sonoro típico dos carros polícia. Numa tentativa de fomentar a personalização os produtores apostaram nos decalques que podem ser aplicados nas partes laterais, tejadilho ou traseira. Ainda que seja vasto o conjunto de opções a edição resume-se à escolha de uma cor para o carro e outras fantasias predeterminadas, sem margem de alteração. À cata de outros aspectos que tornam estes carros verdadeiros pertences a inclusão de diferentes toques de buzinas e o acender das luzes médias garantem uma particular admiração pelas máquinas.

Prosseguindo a uma resolução de 720p e correndo a 60 frames por segundo GTi Club não é um jogo deslumbrante em termos visuais mas consegue ser mais sedutor que a versão das arcadas já que a Riviera exibe-se muito colorida, sob um bonito céu azul, havendo bastante cor espalhada pelas ruas com algum nível de contraste e pequenos pormenores que ajudam à composição do quadro gráfico como as barreiras de pneus que se desfazem quando atingidas ou a marina onde estão atracadas algumas belas embarcações. Aqui e acolá, com os carros mais próximos persistem algumas falhas na animação, mas também se mantém uma boa sensação de velocidade impulsionada pelo roncar dos motores.

Numa vertente para jogador a solo o jogo divide-se pelos três níveis de dificuldade; fácil, médio e difícil. Se no primeiro caso o percurso é unívoco e fechado, no último grau de dificuldade é possível escolher por cada volta um percurso distinto do anterior, usando atalhos e outras opções para fugir ao trânsito e adversários de modo a ganhar tempo. A partir daqui sente-se que as opções do jogo começam a escassear e quando se passa a dominar com outra ligeireza o esquema de travagem, memorização dos atalhos e controlo dos veículos, o interesse do jogo transfere-se para as corridas em rede, até um máximo de oito jogadores, gerando-se corridas de maior imprevisibilidade. Integrando uma equipa, correndo por si através dos três níveis de dificuldade, ou modo “Bomba” na qual os concorrentes devem livrar-se dos explosivos (chocando contra outros veículos) para não ficarem excluídos também não deixa de ser verdade que as opções escasseiam ao fim de bastante tempo na rede.