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Guacamelee! - Análise

Viva Mexico!

Era uma vez um mero agricultor que decide dar uma ajuda na festa da sua aldeia. Eterno apaixonado pela filha do El Presidente, Juan Aguacate é bem conhecido entre seu "pueblo" mas nada o havia preparado para o confronto que o esperava. Quando a mansão onde a sua apaixonada vive é atacada, Juan perece às mãos de Calaca, uma mente criminosa de terrível poder que tem um só objectivo: emergir o mundo dos vivos com o dos mortos e ser adorado por todos. No entanto o reino dos mortos é apenas uma outra parte da realidade e ali descobre uma máscara especial que o torna num bravo luchador e arranca na sua demanda pelo salvamento da sua amada e do mundo.

Guacamelee! é o terceiro jogo dos Canadianos no drinkbox studios, o terceiro em exclusivo via PlayStation Network, e este é sem dúvida o seu melhor. Toda a temática aqui faz-me até pensar que estava perante um produto oriundo do México mas tal não é o caso. O que temos aqui é um aparente resultado do que parece ser um casamento de Super Metroid com Castlevania: Symphony of the Night caso tivesse sido feito no México. O fruto desta combinação é um dos mais divertidos jogos da PlayStation 3 e PlayStation Vita que podem neste início de 2013.

Este é um side-scroller em 2D no qual o jogador vai desbravar caminho por vários locais diferentes enfrentando desafios nos cenários assim como adversários letais que nos tentam impedir. Tudo dentro de uma temática bem Mexicana e sempre com a possibilidade de o jogador regressar a locais por onde já passou para tentar com as novas habilidades adquiridas aceder a locais onde não poderia anteriormente.

Tudo aqui é muito simples e directo mas consoante vamos progredindo, Guacamelee! demonstra uma incrível e bem-vinda profundidade que nos faz acreditar que esta equipa passou mesmo imenso tempo a estudar os clássicos que o inspiraram. Existe aqui empréstimo criativo mas também existe muito engenho e empenho, algo que apenas posso saudar pois tudo aqui é fruto de mérito e quem sai beneficiado é o jogador.

Se tal como eu tem Symphony of the Night como um dos clássicos favoritos de todos os tempos, que a dado momento me levou por curiosidade a conhecer o material que o inspirou, então Guacamelee! é uma recomendação sem hesitação. É um daqueles jogos que cresce em vocês e que nada mais vos pede a não ser que se divirtam e nem pede para que digam que é o melhor jogo do "F0R3V3R" em compensação.

Temos então um jogo dividido por vários locais que apresentam vários caminhos possíveis ao jogador que se acabam por cruzar e jogam tanto com a verticalidade como com a horizontalidade para imprimirem maior profundidade nos seus designs. Na primeira passagem por eles temos locais inacessíveis que vão ficando ao nosso alcance consoante obtemos novas técnicas que permitem destruir os obstáculos que bloqueiam o seu acesso. Nesses locais temos acesso a novos itens que melhoram os nossos atributos (que também podem ser comprados nos altares onde o jogo também grava automaticamente o nosso progresso) e apresentam alguns dos mais saborosos e difíceis desafios.

Estas técnicas que vamos obtendo consoante a progressão permitem progredir com maior facilidade pelos cenários e enfrentar com melhor capacidade a vertente plataformas do jogo (depois de terem o duplo salto voltem a jogar do início sem ele e notam logo a sua ausência mais do que a sua presença depois de habituados) mas também nos ajudam a despachar mais cedo os inimigos.

Guacamelee! tem um sistema de combate simples no qual temos um botão de ataque, um para esquivar, um para agarrar os adversários e nos armarmos em "luchadores" com grabs e essas coisas, e ainda um para recorrer às técnicas especiais que juan aprende. Tudo é muito simples mas com o progredir dos acontecimentos vamos passar de uma postura "Isto é básico e fácil!" para uma de "É possível fazer isto e encadear todos estes golpes?" revelando uma incrível profundidade no sistema de combate para enfrentar criaturas que conferem uma espantosa diversidade aos combates.

Estas técnicas especiais permitem que Juan desencadeie golpes poderosos que lembram os melhores personagens dos melhores jogos de luta e estas conferem uma boa variedade aos combates. Mais do que isso, vão ser vitais para a progressão nos níveis do jogo e quando dermos por ela estamos a testar novos e diferentes combos que encadeiam estas técnicas especiais e temos todo um estilo visual de gabarito a decorrer à nossa frente.

Não há dúvida que Guacamelee! é um jogo que vai crescendo e o jogador cresce com ele, assim como todo o gosto que tem pelo produto. Existe uma boa curva de aprendizagem em bela sintonia com uma boa gestão da progressão e da dificuldade. Até as lutas contra bosses estão bem implementadas e levam em toda a consideração o progresso que o jogador teve até ao momento. Especialmente quando os níveis assumem quase uma forma de quebra-cabeças de escala variável com troca de dimensões à mistura.

Quando Juan ganha a capacidade para a qualquer momento saltar entre a sua realidade e a dos mortos, os combates e plataformas conquistam todo um novo nível de desafio e apelo. A não ser que queira ficar a dar socos ao ar para levar sem piedade sopapos na máscara, Juan tem que alternar entre o mundo dos vivos e mortos para que as sombras se tornem figuras completas e possam ser alvo de um som suplex ou cabeçada especial. De igual forma os níveis revelam ou perdem elementos consoante a realidade em que estamos.

O tom dos combates fica mais acesso e os níveis ficam deliciosamente mais exigentes e difíceis. É quase um jogo de ritmo no qual se entra onde os reflexos vão ser testados e a todo o momento o jogador sente estar perante um desafio válido e merecedor.

Ao comprarem a versão PlayStation 3 ou Vita adquirem desde logo a segunda sem qualquer custo adicional, benefício da campanha Cross-Buy que a Sony desenvolveu e Guacamelee! é um verdadeiro prazer de jogar se tiverem as duas plataformas, conciliando com a sua estrutura toda esta filosofia da Sony. Se estiverem na sala a jogar na HDTV mas precisam de sair ou alguém também quer utilizar o ecrã grande, podem simplesmente enviar o save para a nuvem e desligar a consola, em seguida podem pegar na Vita, descarregar o save da nuvem e continuar a jogar. Começam exactamente do ponto onde ficaram com tudo feito até ao momento do save.

O mesmo se aplica ao inverso, se estavam algures fora de casa a jogar e querem continuar do ponto onde ficaram assim que chegarem à HDTV, então podem-no fazer com toda a facilidade e comodidade. Além disso graças ao Remote Play podem até usar a PlayStation Vita como segundo comando para o modo cooperativo a dois. O segundo jogador assume o controlo de Tostada, a luchadora rosa que acompanha Juan no momento da sua transformação.

Obviamente que na troca de versões perdem/ganham qualidade gráfica e Guacamelee! aposta em visuais bem agradáveis. Colorido e a lembrar um desenho animado da Cartoon Network, este é um jogo que desde logo chama a atenção com os seus visuais. Não faz nada de espantoso mas mais do que cumpre, cativa e alicia o jogador a cada nova fase e em cada nova zona. Todo o mundo aqui apresentado é curioso de conhecer variado em termos criativos, artísticos, e isso só beneficia o seus visuais adoráveis.

Sem qualquer suporte para Português, este jogo desfruta ainda de uma banda sonora a preceito que encaixa bem em todo o desenrolar dos acontecimentos e na personalidade pretendida. Vários locais conquistam maior apelo graças à música que os vai acompanhando e a dado momento até abanava a cabeça ao som de algumas. Existem momentos memoráveis a conhecer aqui e podem contar com todo o empenho do som que vai saindo das colunas para ajudar nisso.

Tudo isto ajuda a que Guacamelee! ganhe ainda mais apelo e todos estes pequenos pormenores aglomerados realçam bem a atenção ao detalhe de que foi alvo. Claro que tudo serve um propósito, ajudar a aumentar a longevidade do jogo que numa primeira vez pode ser terminado em cerca de 6:06 horas em modo Normal, como no meu caso. Inicialmente tudo pode parecer bem maior do que acaba por ser consoante vamos progredindo mas o jogo está desenhado para ser jogado bem além do confronto final e até para ser jogado várias vezes.

Terminar em modo Normal desbloqueia o modo Difícil e aqui temos um desafio bem maior. Como é tradicional neste tipo de experiências, voltar atrás nos cenários para aceder a novas áreas às quais não poderíamos anteriormente, obter extras e encontrar segredos são os condimentos para a receita que tenta cativar o jogador a médio prazo. Aquele modo Difícil realmente torna as coisas mais interessantes e quase leva a acreditar que o modo Normal apenas foi um treino para nos habituarmos aos controlos e mecânicas de jogo.

Não vamos estragar quaisquer surpresas mas Guacamelee! está mesmo desenhado para premiar os mais dedicados, os exploradores e os que tem espírito bravo para os desafios. O modo Difícil apela mesmo ao cooperativo e tornam tudo mais fácil se tiverem um segundo comando ou uma PlayStation Vita por perto. Juan e Tostada enfrentam os bandidos Mexicanos que querem mergulhar em miséria.

Existem várias missões secundárias muito interessantes e divertidas, desafios extra como a procura por Orbs e todos os pedaços de coração e caveira, basicamente completar a 100% todas as áreas e isso pode potencialmente dar mais duas/três horas ao jogo. No entanto fica a sensação que poderia existir ainda mais de alguns elementos. A falta de mais lutas contra bosses e a compreensão de que tudo é bem mais fácil do que se imaginava inicialmente faz com que a força e coesão da experiência como um todo seja ligeiramente abaixo do seu potencial máximo mas ainda assim temos um produto a saudar.

Guacamelee! é mesmo um jogo daqueles que nos diverte sem compromissos e que demonstra uma saudável profundidade e inteligente humor. Os seus visuais são mais do que apelativos, a sua jogabilidade mais do que divertida e é um produto muito bem conseguido. Pena mesmo a longevidade e pena mesmo que não exista mesmo uma real sensação de retro-exploração como os melhores clássicos do género conseguiram. No entanto, tal como está, é um jogo que demonstra em pleno todo o incrível mérito que estas plataformas digitais de distribuição ganharam nesta geração de consolas. De desfavorecidas podem passar a ser o centro de destaque.

8 / 10

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