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Guilty Gear Xrd SIGN - Análise

Mais forte do que tu!

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Guilty Gear está de regresso mas para muitos é uma estreia. Inicialmente assustador mas recompensador se investires o tempo necessário.

Guilty Gear Xrd SIGN é o mais recente título numa série que começou o seu percurso na PlayStation original. Grande parte do seu percurso passou ao lado da maioria e permaneceu como um jogo de nichos, uma série de fighting games com personagens demasiado estranhos, histórias caóticas e gameplay complicado. A Arc System Works, e em especial os trabalhos de Daisuke Ishiwatari, tornaram-se mais amigáveis do público adepto do género com a chegada de BlazBlue e a espécie de revival que Street Fighter IV trouxe apenas ajudou. A indústria dos videojogos ficou mais atenta aos fighting games e o 2D foi novamente visto com bons olhos, tal como o 2.5D onde se insere este SIGN. De 1998 a 2008, a série Guilty Gear esteve activa mas agora, depois de quase 8 anos praticamente a dormir, eis chegado o momento de um estrondoso regresso.

Xrd SIGN começou desde cedo a cativar. Além de ser um dos primeiros jogos do género para a actual geração de consolas, onde chega como exclusivo das consolas PlayStation, é também o primeiro jogo na série a descartar os sprites desenhados à mão, focando-se agora em visuais cell-shading, fruto do uso de um motor externo: o Unreal Engine 3. Guilty Gear sempre foi uma furiosa injecção de adrenalina enquanto ouvimos a mais espectacular música rock e SIGN prometeu desde logo cumprir com todos os requisitos que os fãs desejam. No entanto, um leque de personagens abaixo do número presente nos anteriores (somente 14 mais 3 como conteúdo adicional) e a promessa do estúdio de criar um sistema mais amigável dos estreantes, poderia introduzir uma filosofia diferente da habitual que inevitavelmente poderia mudar a imagem da série.

Felizmente, Guilty Gear Xrd SIGN consegue ser tudo o que prometeu e mesmo com algumas falhas, não deixa de ser o estrondo que sempre foi para quem se apaixonou há vários anos e ainda está melhor posicionado para cativar novos curiosos. Para os que não estão familiarizados com a série, pessoalmente apenas havia jogado um outro jogo antes deste, tudo poderá parecer um pouco assustador. Não conhecemos a terminologia, não conhecemos os parâmetros do gameplay, não sabemos as regras que teremos que respeitar inicialmente e posteriormente quebrar para tentar surpreender o adversário. Não conhecemos os personagens e ainda não criamos os laços tão importantes para estabelecer favoritos. Xrd SIGN poderá ainda assustar devido à quantidade de modos que apresenta mas isso iremos descobrir que é bom.

No dia 3 de Junho a Europa recebe finalmente Xrd SIGN.

O aconselhado é mesmo entrarem logo no modo Arcade. Desta forma vão reencontrar personagens que não viam há muito ou então conhecer pela primeira vez figuras estranhas (Faust cria um bom primeiro impacto). Assim que entrarem no mundo, assim que começarem a assimilar o que se passa nesta estranha série de acontecimentos, vão estar a terminar o modo com vários personagens, a aprender estilos de luta, a conhecer as regras do gameplay e, mais importante, a descobrir personagens favoritos. Com personagens estranhos não é de admirar que usem armas estranhas (caso de I-No que usa uma guitarra eléctrica ou Bedman que é precisamente o que o seu nome diz: um homem que luta com a cama onde está deitado)!

Após passarem por este modo, após conhecerem o que anda Ramlethal Valentine a fazer, quem é Sin Kiske ou qual o mistério em torno de Zato-1 ou porque é que Venom tem o cabelo daquela forma, podem então entrar no enorme modo Story. Inicialmente este modo parecia ser o maior trunfo de Xrd SIGN mas na verdade é uma incrível oportunidade perdida. Graças ao Unreal Engine 3 e às técnicas cell-shading, este modo dá-nos eventos e diálogos que mais parecem um anime e é pena que não seja interactivo. Ao invés de o jogador entrar em combates em momentos fulcrais, o modo decorre como se fosse um filme. Decorre após os eventos presenciados no modo Arcade e aprofunda de forma brilhante este universo. Pena mesmo sermos só espectadores.

Tirando alguns curiosos, este modo torna-se completamente irrelevante quando poderia ser o mais poderoso do jogo mas ainda assim temos mais por onde escolher. Os modos M.O.M, Network, Training, Tutorial, Mission e Challenge serão os principais pontos onde iremos passar a maior parte do nosso tempo no jogo. Imagem que o Story apenas serve para vos introduzir no jogo, estes restantes vão permitir que comecem a ir além da superfície do que nos é possível. O modo M.O.M é um curioso modo que nos obriga a cumprir certos desafios para recebermos medalhas e evoluir o personagem. Poderá tornar-se chato rapidamente mas é na mesma uma curiosidade que poderá causar algum impacto pela diferença.

O modo Training é um dos modos obrigatórios para os estreantes mas serão os modos tutorial, mission e challenge que vão tornar muito mais coesa toda esta alucinante experiência. Não são nenhuma novidade para quem já teve contacto com uma qualquer obra de Ishiwatari e companhia, especialmente BlazBlue, mas aqui surgem provavelmente na sua forma mais profunda e bem estrutura que alguma vez vimos.

Além de nos ensinarem os rigorosos, exigentes timings, que quando aprendidos nos tornam muito melhores e consequentemente nos fazem desfrutar mais do jogo, estes modos de treino e desafio também nos ensinam a jogar com personagens específicos, o que mais gostarmos e aquele que queremos dominar. Combos longos e complicados ficam mais fáceis quando assimilamos os elementos mais profundos do gameplay que em sintonia com os mais básicos nos permitem obter um maior conhecimento dos sistemas. É sentida a evolução de um jogador se investirem o tempo neste modo.

Guilty Gear Xrd SIGN facilmente pode tornar-se num pesadelo, mesmo sendo fácil de aprender para um novato e oferecer alguma recompensa. No entanto, quem quiser passar para intermediário ou avançado, terá que aprender a engatar os combos, a respeitar os tempos de resposta, as diferentes opções de contra-ataque, de protecção e como passar de melhor forma da defesa ao ataque, ou vice-versa. Até a gestão dos ultra que acabam com o combate logo naquele momento se acertarem (se falharem perdem toda a barra dos especiais para todo o restante combate) será importante de aprender e rapidamente descobrem porque é que existe um equilíbrio tão delicado mas fascinante. Não existem desculpas para ficarem novatos, se quiserem podem tornar-se em jogadores dedicados satisfeitos, desde que invistam aqui o vosso tempo.

Visualmente SIGN é um espectáculo. A sensação de termos um anime interactivo já foi alcançada por diversas vezes, especialmente por estúdios como o Cyberconnect 2, mas agora a ArcSystem Works eleva a fasquia. Seja nas cutscenes ou especialmente nos combates, não fosse um ligeiro anti-aliasing e facilmente seriamos enganados a pensar que se tratava de desenhos animados. A forma como os personagens se movem, a fluidez das animações ao encadear combos, o formato 2.5D fica-lhe bem e não deixamos de ser impressionados a cada novo momento. Os especiais mais arrasadores, ou divertidos em alguns casos, ficam assim tão mais fascinantes devido ao motor de jogo e ao trabalho realizado. Mesmo que a interactividade com os cenários seja nula, alguns elementos dos mesmos são dotados de animação própria e ganham assim mais vida.

Durante o tempo que passei com o jogo jamais senti quaisquer quebras na fluidez das animações e nos golpes dos personagens. De igual forma, os combos desenvolvem-se sem preocupações e mesmo os arremessos aéreos apresentam grandes momentos durante os quais sentimos que a resposta dos comandos é sempre firme. A firmeza dos comandos é um dos maiores trunfos deste Xrd SIGN e o único problema aqui não está relacionado com o jogo em si mas com o Dualshock 4. Apesar de altamente competente e superior ao DualShock 3, o comando da PlayStation 4 poderá não oferecer a melhor forma de jogar Xrd SIGN e podem sentir algum desconforto após algum tempo. De forma alguma irá arruinar a experiência mas muitos podem sentir o desejo de algo melhor.

"Visualmente SIGN é um espectáculo."

Pena mesmo que Xrd SIGN não consiga um equilíbrio ainda maior. Existem muitos modos de jogo mas rapidamente descartamos a maioria e ficamos com apenas dois ou três. O mesmo se pode dizer dos personagens pois um número tão limitado de lutadores dita quase forçosamente que exista um maior controlo de qualidade. Pena que alguns personagens não cativem e que rapidamente sejam descartados. Por outro lado, existe uma bem-vinda variedade entre os poucos lutadores e facilmente encontram um trio favorito. No meio disto tudo, destas preferências pessoais, temos sem dúvida um sistema de luta competente que vos vai agarrar.

O maior elogio que posso tecer a Guilty Gear Xrd SIGN é o de ser um jogo altamente competente e divertido. Sei que poderá ser inicialmente avassalador mas quando investimos o tempo necessário para enfrentar os tutoriais e desafios, ficamos com um jogo que nos respeita e eleva. Para mim foi uma estreia e depois de BlazBlue acreditava que o barómetro de "estranho" não mais podia subir num fighting game, aparentemente estava enganado. Se querem algo cheio de estilo, substância embrulhado em bastante humor irreverente, sem mencionar o gameplay profundo, então não o deixem passar.

Guilty Gear Xrd SIGN ainda não está disponível na Europa, mas tem data de lançamento marcada (em formato digital) para 3 de junho.

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