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Guitar Hero Live recupera a chama de outrora

Porque é que precisamos de Guitar Hero?

Guitar Hero chegou com a fúria e irreverência típica de uma banda carregada de música electrizante que não precisa de mais ninguém para suceder. No início era algo estranho carregar guitarras de plástico mas a diversão que se tinha com os jogos rapidamente ultrapassava qualquer sensação de vergonha que pudesse surgir quando nos apanhavam num slide vitorioso com a guitarra na vertical pelo chão da sala. Como parece ser inevitável em tudo o que nasce fixe e livre de imposições corporativas, alguém encontrou nesta experiência um potencial para lucro bastante elevado.

O que nasceu como uma explosão de diversão sem compromissos tornou-se num compromisso anual no qual o lucro estava em primeiro lugar na lista de ambições. Guitar Hero saiu dos bares escondidos onde começou a tocar e fui catapultado para os grandes estádios de um dia para o outro. As famílias começaram a aderir e a massificação mundial foi o passo seguinte. A saturação de lançamentos cansaram os fãs e essa sensação em muito ultrapassou o valor dos avanços que a experiência em si ia dando desde os dias em que começou.

Tal como aconteceu a bandas propriamente ditas, a perda da "inocência" e "garra" com que começaram para dar lugar à necessidade de lucro acima da criatividade, fizeram com que a sobre-exposição se tornasse insustentável. Os passos de menino que a série ia dando de jogo para jogo, chegamos a ter 3 num só ano, e a necessidade de lucrar com a venda de periféricos começaram a danificar a moral e imagem da série.

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Adicionalmente, a série caminhou para um perigoso meio termo no qual a equipa de produção tornou o jogo confuso na tentativa de agradar a Gregos e Troianos. Enquanto uns queriam algo casual e acessível, outros procuravam a chama inicial com músicas difíceis mas credíveis. Tal não aconteceu e quando os casuais começaram a largar o jogo, porque outra coisa mais recente surgiu, foi também quando os dedicados começaram a largar o jogo porque a dificuldade era aumentada de forma artificial. Desde o aumento de notas só porque sim, a falta de fidelidade na implementação das mesmas que lhe retirava a credibilidade e sensação de fidelidade que a experiência obteve. Tudo isto ditou que Guitar Hero teria que sair de cena.

Como acontece com algumas das melhores bandas, o hiatus indefinido deixou os jogadores a pensar se seria definitivo ou temporário. Passados alguns anos, os instrumentos de plástico não pesam e até ficamos com pena de os ver ali a apanhar pós, a sorrir enquanto relembramos grandes momentos e tardes que passaram a voar. A Activision provavelmente sentiu o mesmo e acreditou que estava na hora de ressuscitar a série com o apropriado nome de Guitar Hero Live.

Na sessão de jogo que tive na E3 apenas posso dizer que a Activision e o FreestyleGames parecem saber o que de mal e bom foi feito em Guitar Hero no passado. Quer isto dizer que parecem empenhados em estabelecer um novo produto focado nas suas forças mas sem qualquer problema em combater as suas fraquezas. Toda a espalhafatosa campanha de promoção inicial mostra que a Activision pode cair nos erros do passado mas o contacto com o jogo fez-me acreditar que podem estar perante algo que merece tal tratamento.

A Activision faz tudo à grande, basta olharem para Skylanders ou Call of Duty e percebem que a companhia se dedica para que todas as suas séries tenham a exposição que acredita merecerem. Guitar Hero Live beneficia dessa postura. O espaço do jogo na E3 é espectacular e está repleto de pessoas dedicadas à sua promoção. Cumprem na perfeição o papel para o qual foram contratados e fazem sentir aquela vibração que um jogo destes tanto precisa.

Eis a nova Guitarra.

O espalhafato pode enganar e sugerir que a Activision está a disfarçar através da máquina de fumos e jogo de luzes a qualidade do produto mas quando temos contacto com os instrumentos sentimos então que o estúdio pode estar perante algo interessante. Olhando para o passado do estúdio inglês, percebemos que não é a sua estreia no género e que está bem posicionado no que diz respeito a como um jogo de ritmo se deve portar.

Ao contrário do passado, Guitar Hero Live apresenta uma nova guitarra (o instrumento com as principais alterações) que ao invés de implementar ao longo do pescoço da mesma os seis botões, centra no topo todos esses seis botões em duas linhas horizontais. Isto permite desde logo que aquela forma artificial de aumentar a longevidade (forçando o jogador a movimentar a mão pelo pescoço da guitarra só porque sim) desapareça e se sinta que as coisas estão mais focadas e credíveis.

Sentimos que as coisas estão mais acessíveis e a dificuldade que irá surgir está devidamente implementada. Foi a minha maior alegria constatar que Guitar Hero Live está pronto para ser divertido. A fama da série poderá assustar os responsáveis por esta tarefa mas estão a fazer de tudo para disponibilizar uma experiência divertida e que se sente ainda mais autêntica do que anteriormente.

A confusão inicial pode estar relacionada com a falta de prática. Muitos dias sem jogar Guitar Hero, mas quando finalmente regressamos conseguimos entender o que está a ser feito. A forma como as notas estão implementadas continua a promover a dificuldade mas agora aquela artificialidade parece ter desaparecido e temos algo credível cuja sensação é boa. A mão está "presa" a um local e são os dedos que vão subindo e descendo, alternando entre as duas linhas.

No ecrã as cores das notas foram reduzidas a duas: pretas para representar a coluna superior de três teclas e brancas para representar a coluna inferior de três teclas. Tal como seria de esperar, sentimos maior facilidade porque a mão está mais fixa mas o constante movimento cima/baixo faz-nos sentir desafiados na mesma e quando o somos sentimos que é de uma forma válida e divertida.

Acima de tudo o que senti é que Guitar Hero Live está pronto para respeitar o jogador e voltar a adquirir o estatuto de fixe. A componente visual subiu a parada e agora temos atores reais, plateia real que reage à nossa prestação e aumenta até a intensidade das coisas. A editora e o estúdio estão a fazer de tudo para reconquistar o respeito e interesse dos jogadores com este novo Live e existem vários factores para tal. Maior cuidado nas músicas escolhidas, um foco no gameplay e como esta aparente simplificação poderá permitir uma maior dificuldade que ganhará o respeito do jogador.

Aqui em Los Angeles é fácil perceber que o género já não tem o mesmo apelo de outrora entre as massas mas conta na mesma com os seus seguidores. Caberá ao FreeStyle Games descobrir a fórmula para tornar Guitar Hero novamente relevante e parecem estar a caminhar na direcção certa. O mesmo espalhafato de outrora, uma vertente visual ainda mais respeitável e funcional, e fundamentalmente um gameplay sem tretas. Focado e à procura de maior fidelidade do que nunca.

Resta agora esperar se o novo esquema de cores, notas e a guitarra em si vão poder em conjunto com a dificuldade e seleção de músicas criar o Guitar Hero que todos os fãs desejam: sem tretas e com muita diversão.

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