Helldivers - Análise
Super Camaradas.
Os Suecos do Arrowhead Studios provavelmente não são conhecidos por muitos mas depois de Helldivers isso deverá mudar, pelo menos um pouco. Frequentemente temos visto estúdios que pegam em fórmulas ou mecânicas de jogo já estabelecidas para lhes introduzir novos parâmetros e procurar criar novas experiências de jogo. Agora que vivemos numa era na qual os AAA não são a face exclusiva da indústria, a responsabilidade dos estúdios mais pequenos e independentes aumentou, o mais delicioso e vê-los a cumprir com as expectativas. Estúdios como o Arrowhead são o tipo de estúdios que mais admiro, são os que têm a capacidade para nos darem experiências nem sequer sabemos que as queremos mas que depois até perguntamos como não existem há mais tempo.
O mais recente exclusivo digital das plataformas PlayStation, é um jogo que volta a pegar nos dual-stick shooters mas aplica-lhe um toque seu ao introduzir mecânicas em tempo real num universo em constante movimento. Helldivers é um novo universo no qual poderemos entrar e no qual o valor da cooperação terá novos patamares. A ideia é mesmo como o nome indica, mergulhadores que descem ao inferno para cumprir os seus objectivos e caberá ao jogador ditar o rumo de uma gigantesca batalha pelo futuro. Como diriam os mais sábios, dual-stick shooters há muitos, então porque valerá a pena jogar Helldivers? Lê comigo e descobre.
A Super-Terra é uma versão futurista do nosso próprio planeta. Uma versão na qual uma democracia controlada governa sobre toda a humanidade. O governo conseguiu lavar a cabeça aos habitantes e estes agora são seus fiéis servos sem qualquer tipo de hesitação. O problema nem está aqui, pois não? Tudo perfeitamente natural! O pior está nas três raças extra-terrestres que rodeiam a nossa Super-Terra. O governo mundial dita que são uma ameaça para o nosso futuro e então teremos que viajar pela galáxia, de planeta em planeta para recuperar tecnologia, activar pontos de defesa estratégicos e dizimar estas três raças.
Para o jogador, isto significa que irá incorporar a pele de um membro de uma unidade de combate, os Helldivers, nesta viagem pela galáxia que vai ficando mais intensa a cada novo confronto. O jogo coloca o jogador em missões cujos níveis são gerados de forma aleatória, com dificuldade crescente, sendo possível escolher em que ponto da galáxia queremos lutar. Existem objectivos específicos a cada missão e cada uma com uma dificuldade específica. O melhor de tudo é que não estamos sozinhos nesta luta pois mesmo quando estamos ausentes do jogo, o mundo dele não pára. Desde que esteja alguém a jogar, a luta está a ser travada e assim somos uma parte de um todo.
Este lado tão forte da personalidade de Helldivers é ao mesmo tempo um dos seus maiores atractivos, a sensação de pertencer a uma crescente comunidade activa num contexto pouco explorado nas consolas, mas ao mesmo tempo poderá ser um dos seus maiores problemas. Quero desde já abordar este elemento pois acredito que será fundamental para a apreciação do jogo por parte de qualquer um. Helldivers é um jogo muito divertido mas que rapidamente se pode tornar aborrecido para quem o vai jogar a solo. A sensação de repetição poderá instalar com velocidade de cruzeiro e a dificuldade poderá forçar uma experiência chata. A simplicidade das missões e ocasionais picos de dificuldade podem fazer com que a experiência sofra imenso.
Em alguns momentos, mesmo com várias vidas, perante a imensidão e ritmo de inimigos, o jogo começou a cambalear mas quando entram no multi-jogador e ao lado de mais três pessoas começam a desbravar a galáxia, Helldivers funciona à série. Acreditem que quando estão a jogar com mais pessoas mesmo as suas fragilidades ficam esquecidas. O design simples dos níveis e o repetir das mesmas acções fica mais suave pois estamos perante uma experiência que a qualquer momento nos pode dar algo novo e imprevisível.
Isto porque, independente de jogarem a solo ou em cooperativo, o que vão encontrar é uma galáxia dividida por três sectores nos quais temos várias planetas com missões específicas. Depois de escolhermos as armas, habilidades especiais e equipamento, a nossa nave envia a nossa cápsula para o planeta, onde aterra num local escolhido por nós. Cumpridas as missões, que podem ir desde activar mísseis de defesa num planeta hostil a recuperar peças de tecnologia para nos ajudar na luta, os Helldivers vão mostrar que estão aptos para todo o serviço.
Como em qualquer dual-stick shooter, existe sempre uma mecânica que os distingue dos demais. Em Helldivers é a possibilidade de combinar este gameplay clássico com elementos de acção mais ao encontro de um jogo na terceira pessoa. A possibilidade de recorrer a estratagemas especiais como turrets, pedir mais munição, ou pedir um ataque aéreo (sempre através de comandos específicos no d-pad) incutem uma bem-vinda pressão no ritmo de jogo e impedem que se torne monótono, quando jogado em cooperativo especialmente pois a solo poderá irritar tanto inimigo a atacar-nos.
Nestas pequenas "arenas" vamos travar intensos combates que se tornam suportáveis a longo prazo graças à presença de outros jogadores. Desculpem insistir nisto mas estava mesmo a ficar farto do jogo até entrar no multi-jogador. A importância da influência comunitária neste universo de jogo é imperativa demais e este é um jogo que é feito pela comunidade. Será importante perceber o que vai acontecer no futuro próximo pois depende muito dos jogadores. De momento, entrar em salas e procurar equipas a quem nos juntarmos é altamente rápido, fácil e intuitivo. Basta seguir para a zona indicada na nave e entrar na sala.
A forma como o cooperativo dinamiza e dá vida ao gameplay é incrível. Imagem que repetem vezes sem conta a mesma missão porque a dificuldade está acima das possibilidades, imaginem que tudo está muito repetitivo e estão a fazer o mesmo vezes sem conta. Isto começa a danificar a imagem do jogo perante quem o está a jogar mas assim que os amigos entram em combate, a loucura instala-se. Aprendemos novas formas de jogar, aprendemos como o friendly fire é algo a temer e respeitar, construindo assim novas regras de gameplay que nos vão sustentar no futuro.
Se existe a sensação que um jogo começa a vida quando é lançado, Helldivers é um desses jogos. Com um universo gerado de forma processual, com o toque da comunidade a fazer-se sentir na ordem de progressão e na gestão da dificuldade, este novo produto consegue alguns elementos bem singulares quando colocados no mesmo pacote. O gameplay é fácil de aprender e as regras a respeitar tornam-se muito mais divertidas de desafiar quando subimos a níveis que nos dão melhores oportunidades de jogo.
A bordo da SS Soberano, o comandante-chefe Steinmark permite-nos usar a consola do arsenal para melhorar armas e estratagemas: fundamental para perceber como pode o gameplay mudar tanto com uma simples escolha de arma. É aqui que vamos poder personalizar o personagem e é onde vamos passar alguma parte do tempo a gerir os materiais especiais que podemos encontrar pelos níveis. Além de cumprir com as missões, encontrar itens que permitam investigar novos estratagemas e melhorar armas será imperativo. Acima de tudo, fica a ideia que Helldivers tem muito por onde crescer e muito para oferecer se conseguir captar a vossa atenção.
Helldivers é aquele tipo de experiência que rapidamente se poderia tornar aborrecida. No entanto, faz como poucos e contorna a grande maioria dos problemas e torna-se num produto a ter em conta. Jogado sozinho, dá a sensação de estarmos a trabalhar em conjunto com toda uma comunidade em tempo real e com verdadeira progressão. Agora, em conjunto com mais três pessoas, especialmente amigos, Helldivers torna-se em qualquer coisa. O facto de ser tão simples mas ao mesmo tempo tão aditivo faz com que mereça a nossa atenção total e ficamos rendidos a este conjunto da progressão tempo real com gameplay dual-stick shooter. Um mimo.