Hotline Miami - Análise

O propósito de Hotline Miami é mesmo distorcer a realidade de tal forma que deixa o jogador à nora relativamente ao que está a acontecer, dando a origem a mais perguntas do que respostas. A confusão é instigada pela forma como o jogo comunica connosco. A estória não é contada de forma tradicional. Não há narrador e o texto/diálogos são raros. O que resta a fazer é interpretar e estar atento aos pormenores, uma das dicas que o jogo nos dá.

A vantagem de Hotline Miami é o agarrar o jogador logo no começo com o seu inegável carisma e não o deixar fugir até ao final do jogo, e até mesmo depois disso, continuamos a regressar para repetir os níveis que nos deixam extasiados e para conseguir melhores pontuações (para conseguir o cobiçado troféu de obter "A+" em todos os capítulos).

É durante as chacinas que Hotline Miami revela o seu efeito coruscante. Chacinas parece-me a palavra adequada para descrever os atos do misterioso protagonista, que pinta o chão com o sangue dos inimigos por qualquer área que passe. Apesar do jogo ser completamente bidimensional, é impressionante a forma como, limitado ao seu estilo artístico retro, consegue criar cenas de violência brutais.

Oficialmente, Hotline Miami pertence ao género da ação, mas podia facilmente pertencer igualmente à família dos jogos de estratégia, dado que estas dimensões estão sempre presentes a qualquer momento. Quando falamos em níveis neste caso, estamos a falar na realidade em andares de edifícios, que é essa a estrutura apresentada.

Numa perspetiva de cima para baixo, conseguimos ver parte do andar e um pouco mais adiante arrastando a câmera com o ecrã tátil. A dimensão estratégia é encontrada aqui. Os andares estão divididos em compartimentos preenchidos por inimigos, que podem ter nas mãos um simples bastão ou uma arma de fogo. Antes de avançar, temos que pensar em várias factores: que arma usar, qual a ordem de abordagem aos inimigos, e qual máscara usar.

As máscaras, que já mencionei antes, dão habilidades vantajosas e abrem a hipótese de personalizar a jogabilidade de acordo com os diferentes gostos. Há uma máscara que aumenta a velocidade do movimento, outra que nos torna difíceis de detetar, uma outra em que os cães deixam de nos atacar, entre várias. Escolher a máscara que se adapte a nós é importante, mas o nível e as suas dificuldades também deve ser levado em conta na escolha.

Hotline Miami obriga a pensar rápido, conjugando estratégia com um ritmo de jogo furioso que só dá tempo para respirar após a conclusão do nível. Acrescentem a isto um nível de dificuldade elevado (o jogo é imperdoável, basta um passo em falso e com um único golpe para morrer), e o resultado é brutal. É impossível ficar indiferente perante Hotline Miami.

Com Hotline Miami obtêm o pacote perfeito. É uma maravilha com uma jogabilidade simples mas com profundidade suficiente para não se tornar repetitivo, tem valor de repetição (existe um final secreto para desbloquear), a estória e a forma como é contada é diferente de tudo o resto que já tenham presenciado, é desafiante, a banda sonora é divinal, e o aspeto visual, apesar de não ser para todos os jogos, dá-lhe uma identidade forte.

Honestamente, Hotline Miami não se resume a estas qualidades. É daqueles jogos que têm mesmo que ser experienciados na primeira pessoa para se perceber o gozo tremendo que dá. Mas é mais que um guilty pleasure. Sim, há muita violência e gore envolvidos e fazem parte da sua identidade, mas o que seria de "Scarface" sem estes elementos?