House of Ashes review - O jogo de terror ideal para as noites frias
Uma história diferente sobre vampiros.
Estamos quase em Novembro, um sinal de que o inverno e o frio estão a chegar, instalando-se cada vez mais a cada dia. Confesso que é uma época que não me agrada, sou mais uma pessoa de calor e de sol. Mas, por outro lado, tenho que admitir que é altura ideal para umas sessões de terror. Embrulhado numa manta, com um ambiente taciturno, estão reunidas as condições perfeitas para desfrutar de um dos meus géneros favoritos.
Por mais que adore o terror, tem sido complicado encontrar material que me deixe satisfeito. É uma categoria complicada de surpreender, de fazer alguma coisa diferente ou de inovar. Dos muitos filmes de terror lançados anualmente, contam-se sempre pelos dedos das mãos aqueles que valem realmente a pena. Nos videojogos é mais ou menos a mesma coisa.
Um dos maiores problemas deste género é que, pessoas calejadas como eu, conseguem quase adivinhar o que vai acontecer na história e até mesmo antever um susto. Isto acontece porque existe bastante pré-formatação no terror e acaba por perder a piada. Um claro exemplo disto é o subgénero dos zombies, que foi explorado até à exaustão nos últimos anos, tanto por filmes como videojogos, e a premissa é sempre a mesma, com pequenas variações.
House of Ashes explora a origem dos vampiros
Como fã de terror e ávido consumidor do género, digo desde já que gostei bastante de House of Ashes. Não vira de avesso o conceito de um jogo de terror, mas nunca se tornou previsível. Apesar de já conhecer o trabalho da Supermassive Games desde Until Dawn, House of Ashes é o primeiro capítulo da antologia The Dark Pictures que joguei. Se estás na mesma situação do que eu, relaxa. Cada jogo tem uma história independente, sem necessidade alguma de conheceres o que aconteceu nos outros jogos.
"Não vira de avesso o conceito de um jogo de terror, mas nunca se tornou previsível."
O que é interessante na narrativa é como mistura acontecimentos reais com mitologia. O palco para House of Ashes é a guerra no Iraque. Numa tentativa de encontrar as supostas armas de destruição massiva, um grupo de soldados de elite recorre a tecnologia de satélite para detectar infraestruturas subterrâneas. O que acabam por encontrar, no entanto, é completamente inesperado: uma ameaça ancestral, esquecida, presa num templo sumério que tinha sido engolido pelas areias do deserto.
A interpretação que House of Ashes faz das criaturas que hoje todos conhecemos como vampiros é diferente. Geralmente, pensamos em vampiros como humanos com grandes presas que apenas saem à noite em busca de um pescoço suculento para sugar sangue. A perspectiva que este jogo mostra é diferente. Algumas das características tradicionais associadas aos vampiros foram preservadas, mas houve originalidade por parte da Supermassive Games, o que é importante para dar ao jogo alguma sensação de frescura.
Conseguirás chegar ao fim sem deixar morrer ninguém?
Em termos de jogabilidade, House of Ashes funciona de forma muito parecida com os jogos anteriores da Supermassive Games. É aquilo a que muitos chamam de jogo cinemático, envolvendo muitas sequências com Quick Time Events (QTEs). Contudo, há que sublinhar que este capítulo dá-nos controlo total sobre as personagens em várias ocasiões, principalmente em momentos que envolvem exploração. Por outras palavras, o jogo não se resume a QTEs do princípio ao fim, existe uma boa gestão do doseamento para não ficares aborrecido da jogabilidade.
"O jogo não se resume a QTEs do princípio ao fim, existe uma boa gestão do doseamento para não ficares aborrecido da jogabilidade"
A perspectiva do jogador vai rondado de personagem em personagem. Não só vemos a perspectiva dos soldados americanos, também vamos controlar soldados iraquianos que, no meio de um confronto, também acabaram por cair para dentro deste templo perdido. A dinâmica de termos soldados de forças inimigas e, simultaneamente, uma ameaça que ultrapassa ambos os lados cria situações intensas, de conflito constante. Através de decisões e de escolha de falas, o jogador controla o relacionamento entre as personagens e decisões em momentos críticos.
As tuas decisões têm um peso real nos acontecimentos. Sem querer revelar muito, vou apenas dizer que um pequeno corte numa personagem acabou por decidir o destino de outra na sequência final do jogo. Como é habitual neste tipo de jogos, nem sempre as opções em cima da mesa são agradáveis. No que toca à escolha de falas, existem sempre três opções, sendo que uma delas é sempre ficar calado. O relacionamento das personagens afectará, mais adiante os acontecimentos. Se duas personagens tiverem bom relacionamento, uma vai tentar salvar a outra e vice-versa.
Podes partilhar a experiência com quatro amigos
Embora seja um jogo narrativo, que habitualmente são jogos apenas para um jogador, House of Ashes tem um modo cooperativo. Existem duas opções: Movie Night, em que a experiência é dividida entre quatro pessoas no sofá (cada uma a controlar uma personagem, passando o comando), e Shared Story, em que jogas com outro jogador online. Pessoalmente, prefiro as experiências de terror sozinho porque acredito que intensifica a sensação de receio, mas é óptimo que possas partilhar a experiência caso surja essa oportunidade.
O jogo está disponível com legendas em Português do Brasil, ou seja, sem dobragem. Acho que os actores escolhidos para dar voz às personagens encaixam que nem uma luva e fizeram um trabalho excelente, pelo que seria um desperdício jogar com outra língua que não seja a original. Há que referir também a excelente qualidade visual atingida (jogámos a versão PS5). Em grande parte das cenas, as personagens apresentam um realismo impressionante. De longe a longe, reparas em pequenas texturas nos cenários de menos qualidade, mas no geral, é uma experiência altamente cinematográfica.
Uma boa história de terror em que te sentes envolvido
Sem grande espaço para inovar na jogabilidade, um jogo destes "vive" ou "morre" pela sua história. Felizmente, a história de House of Ashes consegue entregar tudo aquilo que esperas do género de terror sem cair nos estereótipos habituais. O leque de personagens, para além de ser diversificado, tem espaço para crescer ao longo da história. Neste tipo de jogos, a liberdade do jogador para traçar o rumo dos acontecimentos é sempre limitada, mas confesso que fiquei surpreendido pela quantidade de margem que existe para o fazeres.
Relativamente à longevidade, deves demorar em média cerca de 8 a 10 horas para terminar pela primeira vez. Há secções do jogo que te dão liberdade para explorar, em que podes encontrar objectos que desbloqueiam premonições. A longevidade depende um pouco do quão meticuloso serás nestas partes. Confesso que fiquei com vontade de jogar pelo menos outra vez, para tomar decisões diferentes e ver se consigo salvar todas as personagens. O jogo tem modos de dificuldade, pelo que também podes experimentar jogar em Difícil, mas isto só afecta o tempo que tens para reagir às QTEs. Em modo Normal, creio que falhei apenas uma QTE (e foi porque estava distraído).
Com a noite de Halloween pertíssima, se estás à procura de um jogo de terror para marcar a ocasião, House of Ashes é uma proposta terrorífica pelas razões já mencionadas. Ainda que não tenha nada de propriamente novo em jogabilidade, entrega uma história sobre vampiros diferente de todas as outras que já vimos, com influências de filmes como A Múmia, As Above, So Below e The Descent. Uma aposta seguro para os fãs de terror.
Prós: | Contras: |
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