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Hydrophobia Pure

Águas turvas.

De certo modo esse amargo de boca pode ser atenuado se pensarmos que estão asseguradas mais duas continuações, quiçá a possibilidade para meter, por fim, a série nos eixos. A verdade é que apesar das boas intenções e da folha de correcções, este episódio de Hydrophobia continua repleto de inconsistências, omissões e momentos de pesada frustração, sobretudo no sistema de combate que chega a roçar pouco menos que o risível. Desde logo, encontrar munições suficientes para a pistola é o mesmo que encontrar uma agulha num palheiro. Depois, as diferentes munições não implicam grandes mudanças no jogo do esconde e caça. Primeiro sinal frustrante é a movimentação da personagem; inquieta e com toda uma animação rudimentar, apesar de se esconder junto a paredes e outros objectos para evitar tiros dos adversários, muitas vezes o debate instala-se contra os comandos até que Kate esteja protegida. Aquilo que devia ser um processo natural de confronto e um desafio honesto com a inteligência artificial do computador, descamba por completo. Os inimigos deixam-se ficar à mostra, mas por vezes, quando faltam munições mais capazes, a arma por definição mais parece dar-lhes umas alfinetadas.

Por outra banda, a estrutura do jogo pouco oferece de surpreendente. O ritmo é obvio; abater um adversário, recuperar a password, abrir as portas da área, percorrer algumas secções subindo por tubos e saltando entre pontes, para um novo embate e assim sucessivamente. Pior é o ritmo do argumento. Salvo dois ou três momentos com revelações chave sobre a revolta que ocorreu na embarcação, a ligação que Kate mantém com um colega que opera em termos informáticos é do mais básico e reside num simples diálogo sobre por onde seguir e para onde, como se estivéssemos com um sistema de GPS ligado.

O argumento é pouco estimulante e as poucas tentativas para explicação de todo o caos vivido a bordo do Queen of the World, têm pouco significado. Com efeito, o pesadelo começa quando um grupo de terroristas chamados "maltusianos", sequestram o barco e activam uma série de explosões que precipitam o afundanço da incrível embarcação. Os compartimentos ficam inundados, ocorrem explosões, precipitando algum caos derivado do fogo provocado pelas instalações de gás/combustível e pelos tubos de electricidade que lançam faíscas. A conjugação destes vértices que espelham influências de filmes como Titanic e Poseidon alimenta a sensação de caos e desconforto e por aqui o jogo capitaliza interesse, mas cuja utilização permanente (repisando recolha de dados informáticos para abertura de portas) retira boa parte do prazer de descoberta inicial.

Um arpão seria mais eficaz.

O ambiente caótico, de alarme, fogo e faíscas e a reprodução da água enquanto obstáculo para a progressão, formam, sem dúvida um pináculo relevante. Nalguns momentos a necessidade de mergulhar a maior profundidade para descobrir uma passagem ou puxar uma alavanca, contando com tempo limite, implicam todo um sentido de exploração subaquático alcançado com sucesso. Esperava-se um pouco mais na resolução dos puzzles, demasiado óbvios e reciclados, apesar do bom funcionamento do sistema que desbloqueia as frequências – sempre com tempo limite. O aparelho Navi convence e permite o acesso aos mapas, sempre fundamental para descobrir novos compartimentos.

Hydrophobia é um jogo que fica aquém do esperado, mesmo depois do "upgrade" e da descida de preço para os 800 pontos da Microsoft. Porém, as dificuldades no argumento são por demais indisfarçáveis. A forma abrupta como se completa o último terço do jogo (pouco mais de três horas de duração), reflecte o pouco cuidado em criar um argumento que merecia melhor consideração. Fica assim a impressão que os esforços foram canalizados especialmente para a movimentação da protagonista na água. A construção do ambiente caótico e a interacção com outros elementos revela alguma consistência. Porém o combate continua muito frustrante por força da péssima animação da protagonista e o reciclar de objectivos, não apaga o carácter simplista da obra. A correcção entretanto lançada melhorou significativamente a experiência, todavia os problemas estruturais continuam.

6 / 10

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