inFAMOUS - Retrospectiva
Uma questão de poder.
Foi a 19 de Janeiro de 2006 que surgiram as primeiras informações sobre um videojogo de "Nova Geração Altamente Secreto" por parte do Sucker Punch mas na altura ainda estávamos longe de saber qual era esse jogo. Embalados pelo carinho do público que se encantou com a trilogia Sly na PlayStation 2, o estúdio de Washington, na América do Norte, começava a trabalhar na PlayStation 3 mas somente a 11 de Julho de 2007 tivemos a apresentação oficial de inFAMOUS em plena E3 2007. Esta foi a apresentação de uma nova propriedade intelectual feita a pensar nas capacidades da nova geração, agora anterior, que procurava combinar três elementos simples: um mundo a lembrar os comics, ação numa cidade livre para explorar e uma enorme vertente dramática. Se Sly foi para as crianças, inFAMOUS era para os adultos.
Nate Fox, director no Sucker Punch, tem sido o maior porta-voz do estúdio para a série inFAMOUS e desde bem cedo começou a elogiar a capacidade da PlayStation 3 para elevar este tipo de experiências em mundo aberto. "Tudo o que queres fazer o hardware consegue fazer. Penso que isso é visível. A qualidade gráfica deste jogo é de facto muito elevada," disse ele em entrevista em Setembro de 2008. Fox falou sobre os fundamentos na criação de um jogo com um super herói que funcione e que para isso foi preciso criar poderes para Cole, o herói, para que funcionem bem dentro do contexto deste jogo, sempre com a diversão em mente. "Cole dispara relâmpagos das mãos porque é algo que funciona muito bem num videojogo," explica Fox, acrescentando "ele pode trepar em qualquer lado e saltar entre prédios porque isso é divertido."
Foram cerca de 22 meses desde o anúncio oficial em Julho de 2007 até o lançamento a 29 de Maio de 2009 na Europa. Tendo ainda direito a uma demonstração no dia 21, os jogadores estavam finalmente prontos para receber Cole MacGrath. Cerca de 4 anos dentro da, na altura, atual geração, e o Sucker Punch provava o seu valor, provava o poder, no verdadeiro sentido da palavra, que uma nova propriedade intelectual pode envergar. Ao mesmo tempo provava que por muita que seja a publicidade e marketing com que uma editora apoia o seu jogo, se este não tiver qualidade e substância para se justificar, tudo será inglório. inFAMOUS parecia ter tudo, ou quase. Um bom vilão, um bom twist no enredo, um protagonista com o qual nos podíamos identificar e uma gameplay divertida.
"O primeiro trailer de inFAMOUS dava a conhecer a visão para uma aventura em mundo aberto no qual os seres com poderes serviam um enredo dramático."
inFAMOUS recebeu um eletrizante 9/10 aqui no Eurogamer Portugal e lembro-me muito bem que quando o joguei o que mais me cativou foram as cutscenes em estilo comic, a fluidez do jogo que nos permite utilizar super-poderes numa cidade aberta e todo o sistema karma e consequências. inFAMOUS foi um caso de paixão instantânea e um daqueles jogos que fica com o jogador por muito tempo. O enredo que se aprofundava e tudo o que foi construído em seu redor para o suportar e validar, os personagens secundários de suporte, a sensação que estávamos dentro de uma banda desenhada da Marvel Comics e toda a diversão que daí resultava foram os principais condimentos.
"Numa aventura que pode ser terminada em cerca de 14 horas, várias foram as ocasiões onde a vontade de jogar só mais um bocadinho venceu. Passadas duas horas ainda se queria jogar mais um bocado e quando não se está a jogar, está-se a pensar em jogar. InFAMOUS é um desses tais jogos com esse tipo de efeitos, capta o jogador e prende-o até que o acabe. No entanto o fim é somente metade do caminho pois assim que terminado o jogo, comecei logo outro só para ver como seria com as escolhas opostas." Sem qualquer multi-jogador e sem qualquer desejo de tal, inFAMOUS era um perfeito exemplo do que se pedia a um jogo para sua consola em 2009: diversão e capacidade para surpreender. Além disso, o sistema karma e o pleno concretizar da sensação que as decisões do jogador afetavam o desenrolar do jogo foi delicioso.
Ao relembrar este jogo e ao reler a análise, lembro-me perfeitamente do entusiasmo que o jogo me deu, a de estar perante um produto capaz de assumir-se como adulto e sério mas também com aventura e fantasia para os mais jovens. "A maior valia de inFAMOUS é mesmo a forma como o Sucker Punch encarou o género e soube compreender as suas vantagens e debilidades. Um personagem com super-poderes num mundo aberto poderia facilmente tornar-se monótono, mas ao manter no jogador um objectivo e uma história interessante garante que só se não o quiser, tem sempre um objectivo em mente e um caminho a seguir."
Mas ao relembrar os momentos passados a jogar inFAMOUS, desde a descoberta de Zeke passando pelos momentos dramáticos a tentar bater missões que pareciam bem equilibradas na sua dificuldade, lembro-me bem de como era divertido passear pela cidade mesmo sem qualquer objetivo. Os diferentes distritos da cidade, o viajar pelos carris e as missões secundárias ajudavam o jogo a conquistar personalidade. Acredito que inFAMOUS conquistou a grande maioria que o jogou e acredito que muitos deles que em Maio de 2009 estavam à porta da loja, estão agora ansiosamente à espera do terceiro capítulo.
Penso que a melhor forma de relembrar o jogo está mesmo na conclusão onde podemos ler que: "inFAMOUS é simplesmente um dos jogos mais divertidos que joguei nesta geração e provavelmente o jogo que mais me deu prazer jogar durante o actual ano. Se não o puderem comprar devem pelo menos pedi-lo emprestado pois com certeza vão-se divertir e muito. A Sucker Punch consegue um resultado equilibrado com belos argumentos para cativar o jogador e tanto Cole como a cidade e a sua história dão imenso gosto de conhecer." O enredo, o protagonista e a sua relação com a cidade foram os principais condimentos de inFAMOUS mas também o foram na sua sequela e certamente o serão neste terceiro novo jogo.
Um dos maiores trunfos do jogo está em Kessler, o vilão principal do jogo. Desde o início da aventura que a real figura vilã vai sendo descortinada aos poucos. Não existe um claro desvendar do vilão desde logo, vamos aos poucos e poucos puxando o fio ao novelo e nesta cidade pós-apocalíptica nem tudo é tão transparente quanto parece. A vida da cidade é bem característica e pensada, os comuns cidadãos vivem reféns das vontades dos diferentes grupos armados, como os Primeiros Filhos, e sem dúvida que o seguir e desvendar do enredo é um belo atrativo num mundo aberto.
Após o lançamento, o bom trabalho do estúdio continuou a gerar frutos, depois da imprensa ter recebido bem o jogo foi a vez dos fãs PlayStation 3 e da própria Sony elogiarem inFAMOUS. Claro que é habitual os relações públicas darem a cara para louvar os exclusivos das plataformas que representam mas numa altura em que a guerra entre marcas estava num expoente raramente visto, cada palavra dita era gerida com o mais alto cuidado. Uma palavra errada poderia originar infindáveis gifs no NeoGaf e facilmente a empresa era conotada de forma negativa. A dada altura foi até avançado que inFAMOUS chegaria ao cinema através da Sony Pictures: O que mais me entusiasmou em inFamous é que é o primeiro jogo que experimentei que tem uma grande ideia e um arco de personagens. Penso que é o futuro dos videojogos," disse Sheldon Turner que trabalhou em obras como o remake de The Longest Yard, Up in the Air e X-men Origins.
O próprio Sucker Punch partilhou porque razão o estúdio se dedicava a exclusivos Sony, explicando que apesar do dinheiro ser altamente importante sem diversão nada feito e que "apesar de um jogo multi-plataforma dar-lhes muito mais visibilidade ele diz que, "introduz uma série de problemas, compromissos e dificuldades que não fazem com que criar jogos seja muito divertido. Na verdade, penso que muito do divertimento desaparece a partir daí." Ficamos também a saber até que ponto inFAMOUS cativou os jogadores que transformaram o interesse em compra: na América do Norte o jogo vendeu 176.000 unidades na sua primeira semana.
inFAMOUS bateu todas as novas propriedades intelectuais exclusivas estreadas na PlayStation 3, entre elas MotorStorm, LittleBigPlanet, Heavenly Sword e até o próprio Uncharted que como todos sabem se iria tornar na referência da consola da Sony. Como comparação, o primeiro Uncharted apenas vendeu 32.000 unidades na primeira semana na América do Norte. Apenas Killzone 2, Resistance 2 e Metal Gear Solid 4 venderam mais na primeira semana que inFAMOUS e todos eles já sequelas. Pelo final do ano ficamos a saber que em todo o mundo inFAMOUS vendeu 1.2 milhões de unidades o que aparentemente agradou à SCE.
Isto porque cerca de cinco meses depois e já estávamos a a falar de uma possível sequela que todos já sabem ter acontecido. inFAMOUS 2 foi um jogo que melhorou em tudo sobre o original e que reforçou o estatuto da série dentro da família PlayStation. Confirmado a 4 de Junho de 2010 e lançado a 10 de Junho de 2011, inFAMOUS 2 recebeu um novo 9/10 aqui do Eurogamer Portugal na sua análise onde podemos ler que: "Se inFAMOUS já o era então a sequela consegue ser ainda mais um produto altamente recomendável para todos os que procuram diversão nesta indústria. Simples e descomprometido mas com profundidade e estrutura para brilhar, inFAMOUS 2 é uma daquelas sequelas que faz muito mais de bem do que de mal. Mesmo dentro de um género popular é algo relativamente único e só é pena que alguns pontos se mostrem ligeiramente inferiores não permitindo um épico."
"Na América do Norte, inFAMOUS vendeu 170,000 unidades na primeira semana contra as 32,000 de Uncharted no mesmo respetivo período."
Em Agosto de 2011 a SCE recompensou a qualidade dos dois jogos da série e premiou o trabalho do estúdio comunicando ao mundo a sua aquisição. Shuhei Yoshida, presidente dos WorldWide Studios, descreveu o Sucker Punch como um dos estúdios mais aclamados na indústria e mostrou-se agradado pelo estúdio pertencer agora à família Sony Computer Entertainment. Assim sendo, é com alguma naturalidade que inFAMOUS foi alvo de destaque na revelação da PlayStation 4, evento no qual foi confirmado que inFAMOUS: Second Sond está a caminho da PlayStation 4. Avançamos 1 ano e 1 mês no tempo até à atualidade e estamos aqui, na semana de lançamento de Second Son e cheio de expetativas.
A nossa análise chega muito em breve e quanto ao futuro nada sabemos mas olhando para o original uma coisa é certa, inFAMOUS estava destinado à grandiosidade e ainda bem que assim aconteceu. Pode não ter o estatuto de outras séries mas atualmente parece mais pronto para enfrentar o futuro que muitas outras séries da SCEE e o seu público dedicado certamente vai crescer imenso nos próximos meses.