Injustice: Gods Among Us - Análise
A fúria dos deuses.
Para os amantes dos fighting games, a presente geração de consolas tem conhecido enormes regressos, mas também novas propriedades intelectuais. É o que sucede com Injustice: Gods Among Us, o novo jogo de luta da NetherRealm. Se Super Street Fighter IV, juntamente com Tekken Tag Tournament II, Soul Calibur V e até mesmo Mortal Kombat provaram que as produtoras com pergaminhos dentro do género souberam injectar suficientes novidades nas suas séries mais galardoadas, outros jogos como BlazBlue, Street Fighter X Tekken e agora Injustice: Gods Among Us, demonstram que ainda sobra margem de manobra para o género e que existem mais alternativas para lá das séries mais afamadas. Sendo essencialmente novos projectos para quem tenha menos afinidade por alguma das séries instaladas, para a NetherRealm, Injustice GAU representa uma boa evolução do seu último trabalho; Mortal Kombat, lançado em 2011.
Embora sejam jogos oriundos dos mesmos estúdios, a existência de semelhanças acaba por ser inevitável, ainda que o seja em termos estruturais. Tendo em conta a jogabilidade, a apresentação e o respectivo conteúdo, só no plano da acomodação das personagens em palco é que conseguimos encontrar pontos de aproximação entre as duas produções. Entrando mais a fundo pela mecânica de combate e novidades preparadas tendo em mente o vasto Universo da DC Comics, a impressão e o resultado finais acabam por revelar jogos bem diferentes. E muita dessa divergência deve-se à boa materialização deste universo DC que a equipa liderada por Ed Boon, o director criativo da NetherRealm, conseguiu realizar.
A originalidade da narrativa é talvez o ponto de partida mais saliente para uma experiência que, para lá do tradicional sustento baseado nos golpes e mecânicas mais tradicionais, alcança uma autêntica atmosfera de acção e destruição, capaz de causar um forte impacto para quem aqui chega, juntando-se a isso um fascinante design, inspirado em locais como Arkham Asylum, Metropolis e Atlantis. Na verdade, este é um dos jogos de luta mais autênticos e bem realizados que tive oportunidade de jogar esta geração, e passaram-me pelas mãos quase todos os fighting games.
Injustice: GAU não só é um jogo fortemente atraente e cativante, como também se revela pleno de mecânicas e combinações adequadas a satisfazer os jogadores mais exigentes. As combinações mais simples permitem rapidamente aos menos treinados superarem os primeiros desafios com sucesso, mas o poder maior do jogo surge a partir do momento que se põe em prática os poderes exclusivos das personagens em conjugação com uma intensa interacção a partir de certos objectos colocados no cenário.
De resto, ao assentar fundações em torno das características e poderes das personagens, sentimos que era possível ver esta experiência soltar-se da espinha tradicional dos fighting games e ir um pouco mais além. Fica sempre a impressão de existir um potencial por explorar. Criada a transição entre arenas à custa de uns golpes mais fortes aplicados ao adversário junto a um limite, surge um efeito de transição e progressão do combate que podia ser mais explorado. Além disso, é relevante salientar o interesse da NetherRealm em criar uma narrativa mais segura. Os jogos de luta sempre tiveram essa dificuldade. A estrutura mais arcade das produções clássicas reflecte-se nisso e numa série de sequências que se sentem desconexas com os momentos de combate.
Isto não quer dizer que Injustice: GAU tenha uma fantástica história, mas é a sua colocação dentro dos contextos de combate que está para lá da maioria das histórias dos fighting games. Porém, existem dificuldades que não se podem perdoar. Ao juntar mais de duas dezenas de personagens, pô-las sob um mesmo destino obriga à criação de alguns contextos forçados e para os quais nem sempre descobrimos explicações plausíveis. De todo o modo, a originalidade da história define-se nos primeiros minutos. Os segmentos iniciais mostram-nos a destruição de Metropolis causada por Joker, num atentado nuclear que matou milhões de pessoas. Nas mãos de Batman, acaba por sofrer na pele a ira de Superman, que enganado por si, mata Lois Lane e o seu filho. Enraivecido, tira a vida a Joker e instala uma nova ordem. Batman irá liderar um grupo de revoltosos, determinados em colocarem um ponto final ao regime de Superman.
O ponto mais saliente do modo história é a sua divisão por capítulos. Em cada um, o jogador irá controlar diferentes personagens. No primeiro capítulo assumimos o comando de Batman, o primeiro lutador por defeito e uma das personagens mais carismáticas e apetecíveis para os fãs de Akham Asylum e Arkham City. Um pouco à semelhança de Mortal Kombat, a história é contada quase de forma interactiva. As personagens aproximam-se e quando está prestes a começar o combate, a cena animada dá lugar à perspectiva em tempo real. As transições suaves entre narrativa e jogo promovem mais fluidez e tornam mais credível a construção narrativa no momento que precede o combate, porque o jogador sente que se trata de uma sequência, sem cortes e paragens.
Neste périplo contra Superman, Batman vê-se forçado a convocar as forças da Justice League a partir do plano alternativo onde os planos de Joker não foram concretizados. Isto levará a confrontos inusuais, na medida em que o choque entre realidades implica que algumas personagens tenham de enfrentar um seu duplo. Nalguns segmentos esta decisão expõe algum do seu risco devido à articulação entre 24 personagens. Apesar de evidenciar algumas lacunas, não me lembro de um outro fighting game com uma narrativa tão estruturada e desenvolvida. Numa só passagem o jogador conhece os dois lados das forças, as suas motivações, e ainda dá uso às suas diferentes habilidades e golpes especiais.