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Inspector Zé e Robot Palhaço em Crime no Hotel Lisboa - Antevisão

O jogo mais português já feito.

Este não é o primeiro jogo produzido em Portugal, mas acho que este é o primeiro genuinamente português. Deixem-me explicar. Nunca antes tive a oportunidade de experimentar um título que aproveitasse tão bem a nossa cultura e forma própria de falar. É mesmo com os textos, isto é, os diálogos entre as personagens que Inspector Zé e Robot Palhaço em Crime no Hotel Lisboa sucede em criar aquela sensação de familiaridade que sabe tão bem, como quando viajamos para fora do país por um longo período de tempo e depois chegamos finalmente a casa. O nosso país pode não ser o melhor do mundo, podemos estar em crise e ter uma classe política pouco famosa, mas é o "nosso país", e é por isso que fico com um sorriso na cara por vê-lo retratado num videojogo.

Inspector Zé e Robot Palhaço em Crime no Hotel Lisboa não é um mero point and click, é também uma comédia e uma sátira ao Portugal da década de 80 mas cujos traços ainda estão hoje presentes na sociedade. Logo a começar pela personagem principal, temos um detetive gabarolas que só pensa em dinheiro. Um dos seus amigos, o tenente Garcia que pertence à polícia, frequenta bares nas horas de trabalho e está envolvido com prostitutas. No decorrer da história também conhecemos uma brasileira voluptuosa que só quer boa vida e tem vários amantes. No meio destas personagens estereotipadas, a mais normal é o robot palhaço, que tem sempre uma anedota seca para contar.

A trama está bem patente no título escolhido para o jogo. Ocorreu um crime no Hotel Lisboa, e a polícia, incompetente, tem que recorrer à ajuda do Inspector Zé para resolver o caso de um homem que se suicidou com 14 facadas nas costas. Só com a chegada do ilustre Inspector Zé à cena do crime, que se assemelha a uma cena retirada do CSI, se chega à conclusão que afinal isto não é um suicídio, mas antes um homicídio.

Cai então nos ombros do Inspector Zé a tarefa de encontrar o culpado. Sendo este um jogo de detetives, a escolha pelo género point and click é ideal porque o jogador terá que encontrar no cenário a pistas escondidas mas cruciais para desvendar este caso. Nem sempre é fácil encontrar as pistas, umas são mais óbvias que outras, mas é necessário que as encontrem para os interrogatórios.

Depois de descobrirmos todas as pistas necessárias, podemos progredir no caso questionando os suspeitos. Antes de avançar com as questões, é dada a opção de escolher qual das personagens levará a cabo o interrogatório, o Inspector Zé ou o Robot Palhaço. Há sempre três opções de questões e apenas uma está correta. Além de escolherem a pergunta correta, também devem escolher a evidência acertada para suportar essa pergunta. A pergunta a escolher e a evidência são óbvias (pelo menos no início), mas algumas das perguntas erradas são tão hilariantes que até dá vontade de falhar só para as dizer.

"Nunca antes tive a oportunidade de experimentar um título que aproveitasse tão bem a nossa cultura e forma própria de falar"

A forte aposta no humor é bem-vinda. Nunca antes houve uma produção nacional deste género, mas creio que o Nerd Monkeys está num bom caminho para criar algo genuíno e autêntico. Hoje já não se fazem muitos jogos como este. Excluindo The Walking Dead, é difícil apontar um point and click que tenha sido popular nos últimos anos. Crime no Hotel Lisboa é uma máquina do tempo que nos transporta para uma época em que The Secret of Monkey Island era uma referência no mundo dos videojogos. É por isso que este é um jogo sobretudo para os saudosistas, aqueles que são capazes de apreciar os gráficos pixelizados da época dos 8-bit e 16-bit.

As influências e as referências a eras passadas, aquilo a que hoje categorizamos como retro, são mais que óbvias, nesta versão dei de cara com várias. Numa das ruas da Lisboa retratada neste jogo há uma loja PresPlay repleta de máquinas arcade em funcionamento (infelizmente não é possível experimentar nenhum dos jogos). Na esquadra da polícia há um Robcop escondido atrás de uma porta. O quarto 404 do Hotel Lisboa é uma referência ao famoso erro 404. Fora isto, há pormenores deliciosos como o tradicional táxi pintado de preto e verde que nos transporta para os vários locais (também podem ir a pé, se quiserem).

Do tempo que passei com Crime no Hotel Lisboa, só tenho coisas positivas a partilhar. Gostei sobretudo da sua simplicidade e como consegue encantar com pouco (no bom sentido). É caso para dizer que o que é nacional é bom, agora resta esperar pela versão final para comprovar.

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