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Instagram e Activision processadas por promoverem armas de fogo

Famílias querem responsabilizar a Meta e Microsoft pelo massacre de Uvalde

Call of Duty: Modern Warfare 3 (2023)
Crédito da imagem: Activision

Numa atitude sem precedentes, as famílias das vítimas do tiroteio na Robb Elementary School, em 2022, abriram processos contra o Instagram, a Activision - criadora do popular jogo Call of Duty - e um fabricante de espingardas semiautomáticas. A informação, publicada pelo The New York Times, destaca a acusação das famílias de que essas empresas ajudaram a "treinar e equipar" o jovem atirador que cometeu o massacre.

As ações judiciais, apresentadas no segundo aniversário do trágico acontecimento que custou a vida a 19 alunos e a dois professores, argumentam que as empresas envolvidas desempenharam um papel crucial na formação do atirador, um adolescente de 18 anos que comprou a sua arma - uma espingarda do tipo AR-15 - poucos dias antes do ataque. As acções judiciais, uma instaurada na Califórnia e outra no Texas, alegam que estas empresas "prepararam" o jovem para se tornar num assassino em massa.

O processo judicial na Califórnia, que menciona a Activision, é um dos primeiros a implicar um criador de videojogos na promoção de armas utilizadas em massacres. As ações judiciais argumentam que, sem a ajuda das empresas de tecnologia e de videojogos, o fabricante de armas Daniel Defense nunca teria conseguido estabelecer contacto com o atirador, que vivia isolado numa zona rural do Texas.

A Activision, através de uma porta-voz, expressou as suas "mais profundas condolências às famílias" em Uvalde, mas disse que "milhões de pessoas em todo o mundo gostam de videojogos sem recorrer a atos horríveis". As outras empresas envolvidas não comentaram de imediato.

Josh Koskoff, advogado que representa as famílias de Uvalde e que anteriormente obteve um acordo de 73 milhões de dólares com a Remington pelo tiroteio de Sandy Hook, está a liderar estes novos casos. Koskoff argumenta que a Daniel Defense, fabricante de armas, só conseguiu chegar ao atirador com a ajuda de terceiros, como empresas de tecnologia e videojogos, que facilitaram o acesso e a promoção de armas junto do público jovem.

As novas ações judiciais deparam-se com grandes obstáculos, tais como a Secção 230 da lei federal, que geralmente protege as plataformas online de ações judiciais relacionadas com conteúdos publicados por terceiros, e uma lei federal de 2005 que concede uma ampla proteção aos fabricantes de armas contra a responsabilidade por tiroteios. No entanto, Koskoff já utilizou exceções a esta lei em ações judiciais anteriores, centradas na comercialização de armas.

Os processos judiciais também apontam para o facto do atirador de Uvalde ter passado muito tempo a jogar Call of Duty, incluindo uma versão do jogo que apresentava o modelo de espingarda vendido pela Daniel Defense e utilizado no massacre. A combinação de videojogos violentos e a promoção de armas nas redes sociais é uma área de preocupação crescente para os defensores do controlo de armas.

Para além disso, o Instagram é acusado de permitir que a Daniel Defense promova os seus produtos na plataforma, apesar de uma proibição formal de publicidade a armas. A ação judicial alega que o Instagram permitiu que os fabricantes de armas contornassem as proibições de publicidade, promovendo conteúdo "orgânico" e usando influenciadores para atingir o público jovem.

Além disso, as famílias de Uvalde processaram a Daniel Defense e uma loja de armas local no Texas por terem vendido armas ao atirador antes deste ter completado 18 anos. A ação judicial menciona um e-mail enviado ao atirador, Salvador Ramos, incentivando-o a concluir a compra de uma espingarda do tipo AR-15.

Com estas ações judiciais, as famílias de Uvalde esperam responsabilizar as empresas que dizem ter contribuído para a tragédia e chamar mais a atenção para a perigosa intersecção entre as redes sociais, os videojogos violentos e a cultura das armas.

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