Ishi-Sengoku-Den SADAME - Análise
Os quatro heróis feudais.
A Nintendo 3DS celebra por esta ocasião 5 anos desde o seu lançamento na Europa, a 25 de Março. 5 anos repletos de imensos jogos, grandes memórias e bons tempos passados com títulos inconfundíveis. Apesar da sua prestação algo turbulenta no início, que levou o antigo presidente Satoru Iwata a baixar o preço, a portátil da Nintendo levantou voo no final de 2011 e depressa singrou como plataforma dedicada, num mundo orientado para os "smartphones", "tablets" e outros dispositivos móveis, quando muitos já vaticinavam o pior. Embora sem atingir os estrondosos números alcançados pela Nintendo DS, a 3DS é igualmente uma máquina de sucesso, como comprovam os números de vendas no Japão e as séries tremendamente bem sucedidas como Yo-Kai Watch e Fire Emblem, que chegarão em breve à Europa.
Com espaço no mercado e sendo a consola da Nintendo mais vendida no momento, é natural que para lá dos jogos mais sonantes e emblemáticos, tenhamos uma oferta diversificada, constituída por jogos mais pequenos, porventura mais simples, mas nem por isso menos interessantes quando decidimos dar-lhes uma oportunidade. Todas as semanas chegam frequentemente novidades à eShop, tanto da Wii U (que temos dado destaque no nosso Webisódio de Novidades Nintendo), como da 3DS. Pequenos "grandes" jogos, alguns "low cost", entre aquelas surpresas oriundas do Japão, que só com o labor e cuidado que grassa pelo país do Sol Nascente nos são proporcionadas.
É o caso de Ishi-Sengoku-Den Sadame, oriundo do Japão, do estúdio Mebius, publicado na Europa e Estados Unidos, exclusivamente para a 3DS, pela mão da Rising Star Games. A partir do momento que me debrucei sobre o jogo, prestando atenção, vários elementos ganharam destaque. Trata-se de um jogo de role play de acção, de perspectiva isométrica, no qual controlamos um de entre quatro tipos de guerreiros no período histórico do Japão feudal. Muramasa é talvez um dos ícones mais seguros nesta matéria, proporcionando aquela jogabilidade 2D "old school", combinada com uma arte e design memoráveis. Mas, ainda que mais simples, por força de uma menor produção, Sadame consegue destacar-se e reclamar a nossa atenção, não apenas à custa de visuais seguros e com efeitos de luz marcantes, como oferece uma jogabilidade minimamente desafiante, embora uma acção mais rápida e um melhor contacto com os inimigos nos deixasse mais agradados.
100 anos depois da guerra Onin, o Japão está literalmente envenenado, coberto por criaturas colossais que espalham o caos e o terror. Abissais monstros irrompem pelas aldeias, destruindo o que encontram pela frente numa penada. É neste cenário dantesco que emergem quatro heróis: um monge, um assassino, um samurai e um ninja. Eles são o símbolo da esperança, a última réstia de salvação e só eles poderão restaurar a paz, derrotando o maléfico Nobunaga. O conceito do jogo é relativamente familiar pelos fãs dos jogos de role play de acção: enfrentar vagas de inimigos, decepar alguns generais a meio caminho da "boss battle" que nos aguarda lá para o final. Enquanto progredimos equipamos novo equipamento, desenvolvemos novas habilidades ao subir de nível, utilizamos poderes especiais sobre os adversários mais complicados e coleccionamos o seu espólio.
"Abissais monstros irrompem pelas aldeias, destruindo o que encontram pela frente numa penada. É neste cenário dantesco que emergem quatro heróis: um monge, um assassino, um samurai e um ninja"
Até aqui tudo normal. A parte mais interessante, passa no entanto pela selecção do nosso guerreiro, uma vez que os quatro apresentam armas específicas e um diferente arco narrativo. É certo que em termos narrativos não estamos por uma trama tão notória e surpreendente como em Muramasa. Poderá até passar um pouco ao lado da maioria dos jogadores, mais interessados nas mecânicas e na acção, do que propriamente naquela história de monstros e vingança. O Samurai é muito mais previsível na utilização das espadas, enquanto que o monge executa magias que o deixa algo abrigado dos ataques inimigos. Já o Ninja consegue executar com rapidez os movimentos, enquanto que o Rogue é uma espécie de "witcher".
Findas as maiores batalhas não só teremos que consultar os items, na tentativa de descobrir melhor equipamento, como ao subirmos de nível ganhamos acesso a uma árvore de habilidades, que em função do elemento escolhido nos oferece poderes diferenciados da árvore normal de habilidades. Além disso, é possível incluir gemas nas armas, causando mais dano sobre o inimigo. Embora a jogabilidade seja inicialmente interessante e minimamente apelativa, não tarda até reciclar o mesmo conceito vaga após vaga, sem oferecer mudanças e alternativas em termos estratégicos. A dificuldade não é muito elevada. Podemos despachar certos bosses em poucos segundos, o mesmo sucedendo com as vagas de inimigos, o que contribui para essa sensação de repetição, numa evolução algo morosa, quase desnecessariamente. Também por isso não tarda até chegarem ao final, após sensivelmente três horas a combater.
Destaque para os visuais, com imensos "sprites" a lembrar os jogos "old school" 2D, os velhinhos jogos de role play, com bons efeitos de luz e uma estética feudal bem conseguida. De facto, é muito à custa desta parte que nos deixamos levar até às batalhas finais, pois de outro modo poderia ser uma experiência ainda mais limitada, algo diluída. Sadame é talvez um jogo para um nicho de jogadores. Dos fervorosos fãs dos jogos de role play de acção até aos amantes do retro, poderá despertar alguma coisa neles, mesmo sem almejar o género com a projecção que outros títulos conseguiram.