Kena: Bridge of Spirits review - Um dos melhores jogos de ação e aventura do ano
Apesar das inspirações, Kena torna-se em algo muito próprio.
Kena é uma jovem Guia Espiritual que a partir de uma vila abandonada iniciará a sua busca pelo santuário sagrado na montanha que visualiza bem cedo no início desta experiência de ação e aventura. No entanto, para lá chegar, Kena terá de encontrar os Rot, pequenos companheiros espirituais que lhe dão novas habilidades para que possa manipular os cenários e dissolver a podridão que se abateu sobre estes locais anteriormente belos. No entanto, os espíritos errantes, capturados pela podridão, de tudo farão para a impedir e assim temos as bases para um novo jogo que inspirado por outros tenta alcançar o seu próprio espaço na indústria. É algo peculiarmente ambicioso quando falamos do primeiro jogo de um pequeno estúdio indie, composto por apenas 15 pessoas que tiveram ajuda de outros estúdios.
Kena: Bridge of Spirits é um título que considero fascinante pois é composto por partes inspiradas noutros jogos, mas que acaba por se tornar em algo próprio e que facilmente ficará na mente de quem o jogar como um exemplo do talento indie nos videojogos. É um jogo relativamente simples, mas equilibrado e que gere bem as mecânicas que terás de usar para que não te sintas cansado. Diria mesmo que o equilíbrio entre simplicidade, acessibilidade e desafio são dos maiores triunfos de Kena, um jogo que enverga uma estrutura linear para se tornar num tipo específico de experiência. Confesso que é uma lufada de ar fresco numa atualidade em mundos abertos que parecem obrigatórios. Existe espaço para todo o tipo de designs nesta indústria e Kena é um bom exemplo desse argumento.
Este é um jogo de ação e aventura, com puzzles e saltos à mistura, cujo sistema de combate e dificuldade te poderão fazer pensar em Dark Souls, mas cujo aspeto e temáticas narrativas te fazem sentir que os mais recentes The Legend of Zelda foram a maior inspiração. É um jogo com alguns problemas, mas cujos méritos triunfam facilmente sobre os defeitos.
A espiritualidade da aventura
Como referido, Kena é uma Guia Espiritual e para libertar estes locais da podridão, ela terá de encontrar os Rot, pequenas criaturas adoráveis que ajudam imenso a Ember Lab a alcançar aquele efeito de filme de animação de Hollywood em formato interativo. A origem da Ember Lab está precisamente aí e por isso não surpreende a incrível qualidade geral dos gráficos, o design visual (desde posicionamento da câmara em momentos chave, cores dos cenários e todo o efeito de transformação com a explosão de cor nos locais ao remover a podridão) e as cinemáticas, revelam bem a mestria desta equipa na apresentação de narrativas cinematográficas em estilo de animação.
"É uma experiência linear que evidencia como nem tudo precisa de um design aberto ou durar 60 horas para te divertir."
No gameplay em si, isto resulta num jogo onde corres por locais maioritariamente lineares, com muitos saltos pelo meio e imensos colecionáveis espalhados pelos cantos. Além disso, terás combates contra criaturas ferozes, puzzles cuja simplicidade não esconde uma certa inteligência na sua conceção e claro, as mecânicas de uso dos Rot para interagir com cenários e inimigos. Tudo isto resulta num jogo muito divertido e diria que somente nos combates consegui ficar menos empolgado com o que a Ember Lab conseguiu, devido ao que chamo de elementos artificiais para aumentar a dificuldade, mas já chego a essa parte da experiência.
Se fazes parte dos que não se incomodam com a linearidade e adoram jogos de ação e aventura, continua a acompanhar-me para descobrir como este jogo indie de orçamento mais limitado consegue envergar méritos e qualidades que muitos dos maiores estúdios não conseguem transpor para os seus jogos. Kena: Bridge of Spirits é claramente um jogo feito por jogadores para jogadores, capazes de disfarçar muito bem a sua experiência limitada nesta indústria.
Visuais incríveis, combates difíceis e puzzles inteligentes
A Ember Lab esforçou-se para alcançar uma qualidade visual geral de elevado gabarito e apesar de ser possível avistar imensos elementos mais básicos nos cenários, é inegável que Kena: Bridge of Spirits se torna num dos jogos belos jogos de 2021. Nada mau para um indie que também é o primeiro jogo do estúdio. O design linear torna-o mais básico, mas o foco no uso dos Rot, os combates difíceis, especialmente nos bosses e ainda momentos com puzzles que dão gosto de descobrir são ainda mais marcantes no momento de formar a imagem de Kena: Bridge of Spirits. Este é um daqueles casos no qual as coisas que faz bem facilmente conquistam.
Enquanto percorres os cenários, descobrirás Rot (as pequenas criaturas) que te ajudam a obter novas habilidades ou a solucionar puzzles nos cenários. Frequentemente, terás de lhes pedir para transportar objetos para locais específicos ou interagir com partes dos cenários e eliminar a corrupção. Passo a passo desbloqueais novas habilidades e o arco, altamente útil para os combates. Nos combates, os Rot podem ser usados se a sua respetiva barra estiver completa e servem para recuperar energia ou atacar pontos fracos nos maiores adversários. O sistema de combate vibra com animações e movimentos dinâmicos, mas existe estratégia aqui, sendo fácil pagar o preço perante os bosses. Apesar de frequentemente lutar contra a câmara e sentir que foi trabalhada propositadamente como um meio artificial de tornar mais difícil o jogo, Kena apresenta-te bons momentos de combate, com bosses repletos de movimentos que desafiam os teus reflexos.
"A qualidade visual consegue momentos deslumbrantes, tal como a banda sonora e as cinemáticas, muito acima do que esperarias de um indie."
Podes optar por martelar os botões de ataque, mas rapidamente perderás vida e quando apenas a podes recuperar em quantidade limitada e dependente do uso dos Rot, serás forçado a encarar com seriedade a maioria dos duelos. Uma imagem doce e uma alma diabólica este Kena. O timing é fundamental, saber quando atacar, o número de ataques que podes dar e quando fugir. Além disso, o arco ajuda imenso, mas a esquiva é essencial. No entanto, é a melhor forma de exemplificar o sistema de combate. Desvias-te cedo ou tarde e sofres na mesma dano. Ocasionalmente, os bosses até parecem saltar animações só para te acertar e existe um certo tracking nos movimentos que executam, o que se torna frustrante, mas no geral, este sistema inspirado em Souls consegue criar desafio de forma saudável.
Simplicidade artística
Enquanto produção indie de orçamento mais limitado, Kena: Bridge of Spirits cumpre um excelente papel para homenagear as suas inspirações, ao ponto de ser fácil imaginar uma sequela na qual a Ember Lab resolve as falhas e expande a escala do conceito. São precisas entre 12 a 15 horas para terminar a aventura, com imensos colecionáveis para apanhar e Rot para descobrir, ficando na memória um jogo com puzzles inteligentes e cuja simplicidade de um design linear não são entraves para uma das experiências mais divertidas do ano. Seria fácil imaginar a equipa a complicar no design e a tentar seguir modas atuais, mas é reconfortante ver que seguiram com uma ideia definida na mente e que usaram as inspirações para criar algo seu com espaço para crescer.
Se os bosses me fizeram ficar irritado com a câmara, os puzzles onde manipulas em tempo real parte dos cenários e até uma ligeira sensação do conceito Metroidvania, fizeram-me sentir que a Ember Lab merece a nossa curiosidade com este Kena: Bridge of Spirits. A recompensa foi sempre uma deslumbrante cutscene, digna de figurar num filme exibido nas salas de cinema, com imensos momentos visualmente incríveis. Sim, existem locais onde as texturas são mais básicas e as origens mais humildes do projeto são reveladas, mas ver um estúdio abordar com tamanha paixão e ambição o seu primeiro projeto é inspirador para esta indústria.
"Ação e aventura com puzzles divertidos e um sistema de combate difícil, Kena é um filho que lutou para formar a sua identidade à margem dos pais."
Uma aventura linear, altamente divertida para dar conforto ao coração
Kena: Bridge of Spirits é um jogo de ação e aventura com visuais deslumbrantes e temáticas adoráveis, mas cujo sistema de combate é altamente difícil e poderá exigir imenso dos teus reflexos. Não fossem os problemas de câmara, diria que Kena é uma magistral estreia de um estúdio que dá aqui o seu primeiro passo nesta indústria. O tom de um filme de animação interativo que frequentemente te deixará boquiaberto, um design linear para uma experiência mais focada, os puzzles simples mas que te dão uma boa sensação de realização quando os ultrapassas e as espetaculares cinemáticas, ajudam Kena a tornar-se num título incrivelmente curioso e apelativo. É um daqueles exemplos de uma experiência indie a desafiar conceitos e preconceitos desta indústria.
Prós: | Contras: |
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