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Kid Icarus - 3D Classics - Análise

Em aquecimento para Kid Icarus: Uprising.

Enquanto não renasce Kid Icarus na portátil 3DS com o subtítulo Uprising, num destino há muito requisitado por fãs que queriam ver o regresso de uma das personagens mais emblemáticas da primeira vaga de jogos para a Nintendo Famicom (NES), a Nintendo prepara próspero regresso a partir de uma versão 3D e portátil do clássico Kid Icarus. Este é assim mais um produto que integra a linha 3D classics e que pode já ser obtido gratuitamente por todos os consumidores de produtos Nintendo que registaram dois jogos de uma lista previamente disponibilizada. Relembro que ainda têm até 31 de Janeiro para beneficiar desta generosa oferta.

Os clássicos são lugares misteriosos. Velharias que não se confundem na passagem do tempo. Algumas, tão raras e marcantes, são leiloadas por valores de bem de luxo em sites como ebay, encontrando quase sempre um dono que quer fazer daquela peça escassa um pedaço mais da sua colecção. No fundo, é todo um baú de tesouros. Haverá alguns deprimentes, se puserem na equação o ET para a Atari. Porém, quando vamos ao encontro da linguagem primitiva dos videojogos que é no fundo o que lhe está na base e mais precisamente à empresa que ergueu a indústria após o colapso provocado pela Atari, encontramos muita matéria que vale a pena recapitular.

Nos idos de oitenta algumas capas de jogos fascinavam mais do que propriamente o conteúdo que podíamos obter a partir dos famosos cartuchos. Não vão ter desta vez uma caixa de cartão para colocar na prateleira da vossa colecção. Com o jogo puro e duro gravado na memória da portátil partimos para o seu desafio. Suado e árduo desafio.

Um desafio retro pouco complacente com jogadores impacientes

É sabido que actualmente os jogos oferecem um desafio acessível e ocasionalmente frustrante. As alterações chegaram sob a forma de sequencias lineares, regeneração da vida, gravação em pontos intermédios e embates com inimigos dotados de regras que explicam como sair do embate com sucesso. Há um hábito em viver neste dilema; na recuperação do jogo clássico que é frustrante porque faz doer quando se perde, e do jogo actual que teima em tornar demasiado simples e orientado o desafio.

Recuperando a linguagem clássica; dos saltos, das plataformas, dos inimigos que vagueiam pelo nosso percurso e nos retiram porções do indicador de vida, este jogo não é tão violento como um Metal Slug, Gradius ou Ghouls'n Ghosts.

Mesmo assim irá obrigar, por quem aceitar o desafio, a percorrer o mesmo caminho algumas dezenas de vezes como quem tem a paciência para construir um castelo de cartas vezes sem conta. Nele encontraremos, porém, derivações interessantes ao grosso das regras que vigiavam os jogos de plataformas. Ao longo de quatro grandes mapas o jogador terá de concluir 4 secções e no fim da quarta arriscar mais uma vez a pouca vida que tem contra poderosas criaturas que ao mínimo toque fazem mossa da grossa. Antes de lá chegar haverá que percorrer zonas exteriores, correspondendo à quarta zona, um complexo interior repleto de inimigos e labirintos que pegam fogo ao pouco que ainda reste de paciência.

A seu tempo será obrigatório lidar com o "timming" dos saltos, em particular no confronto com os inimigos. A possibilidade de Pit se levantar (e voar mais à frente) e conseguir disparar através do arco enquanto tem os pés levantados é uma vantagem aparente. Mal descobrimos que os inimigos circundam o raio de acção da nossa personagem, esquivando-se com sucesso, abrindo caminho para a retaliação, ficamos convencidos que a situação é bem mais complicada do que parece.

Algumas grutas pregam rasteiras e escondem inimigos que voam, fazendo trajectórias oscilantes no ar, obrigando-nos a uma dança de movimentos evasivos. Ali podemos perder uma vida em dois segundos, mas também podemos sair reforçados ao ganhar mais pontuação tirando-lhes a vida. É um risco jogar para ganhar. Os indefectíveis deste calibre de desafio serão recompensados mais à frente, podendo comprar poções mágicas, armas alternativas e outros objectos preciosos em troca dos corações deixados pelos inimigos abatidos.

Visualmente, Kid Icarus é um jogo com carácter. Talvez por isso os fãs de Pit tenham estranhado a sua ausência por tantos anos. O relacionamento com a mitologia grega confere-lhe uma particular imagética na arte e na composição dos níveis, especialmente no Underworld ao sermos forçados a libertar os humanos transformados em estátuas pela deusa Medusa a antagonista da obra. Uprising será assim uma oportunidade única para completar essa composição. Controlamos Pit, um jovem anjo da Angel Land que depois de conseguir libertar-se da prisão terrestre tenta chegar ao mundo do céu onde terá de encontrar e derrotar Medusa e restaurar a luz no território. O recurso ao manual do jogo faculta todos os dados da história e valerá a pena ficar com uma noção do arco narrativo.

Os efeitos do 3D não se fazem sentir tanto como nos clássicos Excite Bike ou Xevious. Mesmo assim há um grau de profundidade que pode ser ampliado ou diminuído criando uma competente sensação de afastamento dos fundos. A música molda-se bem ao arco narrativo do jogo e há uma sensação de progressão em jeito de role-play, através da aquisição de novas armas e melhoramentos que reforçam os atributos da personagem em momentos decisivos.

Neste momento Kid Icarus em versão 3D classics convence no quadro de jogos retro. Longe de ser impossível de passar, irá no entanto causar dores de cabeça aos que não se prepararem devidamente para a demanda. O apelo à repetição dos níveis vezes sem conta e o aperfeiçoamento de determinados movimentos ou memorização de processos são métodos clássicos e rotineiros nestes meandros, mas para preparar a recepção a Uprising esta aventura de acção retro em 3D é uma pequena preciosidade que merece voltar a ser descoberta.

6 / 10

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