Killer is Dead - Análise
Confuso desde início ao fim.
Se acompanham as minhas análises, sabem decerto que me tornei num fã do trabalho de Suda51. É o mais semelhante que temos a um Tarantino na indústria dos videojogos, sendo os seus jogos imediatamente reconhecíveis por possuírem determinados traços distintivos. E quem está familiarizado com os jogos de Suda51 está consciente que no papel principal está, habitualmente, um herói destemido e que pelo meio há humor, violência e damas em perigo, tudo misturado num cocktail alienado.
Killer is Dead apresenta estes traços, mas aposta menos no humor e dá a entender que quer ser um jogo mais sério que as anteriores criações de Suda51. Ao mesmo tempo, não deixa de lado um pouco de infantilidade, mostrando um lado imaturo e pervertido com o modo Gigolo, onde o objetivo é conquistar o coração de uma mulher apenas olhando para as suas partes intimas (peitos e aquela zona mais a sul) e dando-lhes presentes.
O modo Gigolo é apenas uma das coisas estranhas que se encontram em Killer is Dead. No seu todo é um jogo enigmático, que se torna difícil de compreender e interpretar, mas que capta a atenção com o seu charme e elenco de personagens curiosas.
Mondo Zappa é um protagonista diferente do que estamos habituados. É difícil criar empatia com ele dado que o jogo não faz introduções, e ainda por cima, esta é uma personagem que sofre de amnésia, não se lembrando do seu passado. No presente, Zappa é um assassino contratado para uma organização dos Estados Unidos que se dedica exclusivamente a assinar alvos a desejo dos seus clientes, desde de que seja paga uma quantia monetária.
Sobre Zappa, sempre acompanhado pela sua assistente inútil Mika Takekawa, sabemos que é um excelente espadachim e que o seu braço esquerdo foi substituído por um braço mecânico que em combate se transforma numa arma de fogo ou numa broca. No braço direito, segura uma espada aguçada que corta os inimigos como se fossem manteiga e absorve o sangue jorrado como recompensa.
Killer is Dead está separado por episódios (12 episódios, se queriam saber), como se tratasse de uma série de televisão. Em cada um dos episódios há um alvo diferente a abater, mas antes de chegar à sobremesa, que é o boss de cada episódio, há que passar pelos inimigos menores, chatos e repetitivos que vão aparecendo ao longo dos níveis. O problema é o mesmo encontrando em No More Heroes e Lollipop Chainsaw: Killer is Dead apresenta o seu melhor nos confrontos com os bosses e desleixa-se no resto, criando uma experiência irregular e com pouca criatividade.
A estrutura por episódios seria positiva se fosse utilizada para criar dinamismo, mas é caso contrário que se verifica. A estrutura e desenrolar dos episódios é monótona e sofre da mesma rotina do princípio ao fim.
Por outro lado, o combate é melhor e mais fluído que nos jogos mencionados no parágrafo anterior. Carregar no botão de ataque comanda Zappa para executar golpes furiosos, rápidos e gratificantes com a sua katana , mas a derradeira recompensa é pressionar o botão de desvio no momento correto, mesmo antes do adversário nos atingir, que abranda o tempo e liberta uma rajada rapidíssima e impiedosa de cortes que consume uma parte considerável da energia vital do oponente.
"Killer is Dead apresenta o seu melhor nos confrontos com os bosses e desleixa-se no resto"
Seguindo a mesma fórmula usada em jogos anteriores, há uma progressão da personagem, como o aumento da barra de energia e os novos ataques que podem ser comprados. Na prática, esta evolução faz a diferença se quiserem aventurar-se nos níveis de dificuldade mais elevados e conseguir uma pontuação elevada para ficarem bem posicionados na leaderboard.
Creio que um problema central é a familiaridade. Esta fórmula está gasta e não há nada de novo para ver. Não há inovação. Não é que os jogos anteriores de Suda51 sejam inovadores, mas pelo menos eram divertidos. Killer is Dead não consegue ser divertido nem um bom hack and slash capaz de competir com os melhores do género. A jogabilidade funciona mas é muito repetitiva e torna-se velha logo nos primeiros capítulos.
O que é especialmente difícil de perceber é a visão criativa de Killer is Dead. Este é um jogo mais negro, por vezes chega perto de ser sinistro, inserido num universo inicialmente semelhante ao nosso mas onde existem viagens até à lua, fantasmas, e as locomotivas até podem ganhar vida e ficar maléficas.
Se o mundo de Killer is Dead já é confuso, então a estória é para esquecer. Confesso que acabei o jogo e fiquei sem perceber muito bem o que aconteceu. Ajudando à confusão, o tempo dedicado para desenvolver a estória é pouco, as cinemáticas são curtas e as personagens pouco falam, praticamente obrigado o jogador a ler nas entrelinhas.
"A jogabilidade funciona mas é muito repetitiva"
Ao longo dos capítulos, Mondo Zappa vai recuperando lentamente a sua memória, com a ajuda de personagens misteriosas nos seus sonhos, mas o jogo nunca revela as cartas todas. Algo de errado se passa com o seu braço mecânico, que depois de uma execução fica roxo e causa dor a Zappa. Talvez a intenção de Suda 51 fosse colocar o jogador no papel do protagonista, não lhe dando a conhecer o seu passado para criar uma sensação desconfortável de confusão, mas isto é apenas uma suposição.
Onde encaixa o modo Gigolo no meio disto? Não sei, mas mais uma vez, os jogos de Suda51 não são conhecidos por fornecerem explicações lógicas. Durante as missões, Zappa recebe chamadas das beldades que lhe perguntam se se esqueceu delas, mas podem terminar Killer is Dead sem sequer passar por este modo. A única "Mondo Girl" que vale a pena visitar é a enfermeira Scarlett, que dá desafios cada vez mais difíceis para completar. A recompensa são os óculos "Gigolo", um acessório para espiar a roupa interior das raparigas com que Mondo se encontra.
Killer is Dead era um dos jogos que mais aguardava para este verão de 2013, mas chego ao fim desta análise com a conclusão que sobrepõe o estilo e show off à substância. O estilo visual é fantástico, carregando no preto nas sombras e exagerando nas cores berrantes e luminosidade, e o modo Gigolo certamente que captará a atenção de muitos pela sua natureza, mas por detrás esconde-se um jogo vazio com pouco para oferecer.