Kingdom Hearts: Birth by Sleep
Terra encantada dos sonhos.
Um dos maiores trunfos da série Kingdom Hearts sempre foi a forma como jogava com a nostalgia do jogador, a forma como o fazia recordar os seus tempos de menino e quando descobriu os grandes contos de fadas da Disney. A forma como nos relembrava de toda uma inocência e verdadeiro encanto por histórias arrebatadoras e apaixonantes que a certa idade já começavam a ser recordadas mais como ensinamentos de valores morais. Com Kingdom Hearts a Square Enix conseguiu pegar numa marca de enorme respeito e estatuto, pegou nos seus mais acarinhados e famosos personagens e inseriu-os dentro de um mundo criado por si, habitado por personagens nascidas das suas mentes, numa história que tal como as da Disney, tinha muito mais profundidade do que à superfície se poderia supor.
Actualmente, a série Kingdom Hearts conseguiu conquistar um mérito e valor similar aos das obras cinematográficas que o inspiraram e lhe dão vida. Isto porque na verdade podem ser encarado como uma nova fábula sustentada em fábulas existentes mas com um novo argumento e toda uma série de novos valores que se vão desenrolando através de personagens que entretanto se tornaram marcantes para os que passaram do cinema para os videojogos. A nostalgia vinda dos filmes Disney que catapultava os dois primeiros jogos a patamares de excelência é agora a mesma que surge neste Birth by Sleep proporcionada por esses dois mesmos jogos. A sábia forma como a Square Enix soube expor a sua visão sobre os mundos Disney enquanto os honrava a cada momento, é um elemento que se mantém nesta nova aventura portátil e é o elemento que nos conquista imediatamente.
Birth by Sleep decorre dez anos antes do primeiro jogo e só por tal assume-se como mais uma importante peça desta aventura que há muito revelou ter muito mais para contar do que inicialmente se previa. São três histórias com três protagonistas diferentes que temos para descobrir e as jornadas de Terra, Ventus e Aqua vão estar intimamente interligadas, não fossem estes grandes amigos com corações dedicados ao bem. As suas aventuras vão levá-los a percorrer mundos míticos como o da Branca de Neve, o de Cinderella, o mundo de Peter Pan e ainda o mundo de Hércules, entre outros. Como não podia deixar de ser, todos eles habitados por um vastíssimo leque de personagens vindos dos seus respectivos universos.
Se na sua história e enquadramento dentro desta crescente série Birth by Sleep assume-se com a devida importância, também na jogabilidade recebemos elementos novos que podem influenciar experiências futuras. Isto porque se na sua progressão e sistema de combates Birth by Sleep é um jogo que segue nas linhas do que já vimos, os elementos introduzidos aqui conferem alguns toques de frescura a um sistema que poderia cair na preguiça face à aclamação. As novidades no sistema de combate incluem o Command System na qual ganhamos acesso a melhores atributos consoante preenchemos a respectiva barra cumprindo os necessários requisitos. Outra das novidades nas batalhas é o Dimension Link a partir do qual podemos invocar personagens já conhecidas para nos oferecerem novas habilidades para utilizar e uma vez preenchida a barra com o encadear de ataques, podemos usar um ataque especial e de maior dano. O novo sistema Focus também nos permite usar ataques de magia, durante os quais o jogo transita para uma perspectiva na primeira pessoa e temos que colocar a mira no alvo desejado.
Fora das batalhas também temos algumas novidades, sendo uma delas o Command Board. Esta espécie de jogo de tabuleiro é jogado com dados e cada quadrado tem as suas propriedades únicas. Mais importante ainda é o modo para vários jogadores que decorre na Mirage Arena e se por enquanto nada mais é do que um extra que parece ter sido dedicado a um público específico, como o do país de origem do jogo, no futuro pode ser um elemento de grande importância nos jogos de consolas caseiras.
No entanto nem tudo consegue triunfar ou agradar em Birth by Sleep e existe especialmente um elemento, que apesar de ser o único vai assumir um enorme peso na experiência, os longos tempos de carregamento. Por vezes demasiadamente longos, mesmo para uma portátil, tornam obrigatória a instalação de dados no disco e nem mesmo assim alguns deixam de ser longos. É um problema com impacto variável mas que não deixa de quebrar constantemente o ritmo.
Tirando isto, tudo no jogo parece querer emular um belo conto de fadas em versão tecnológica e os visuais são verdadeiramente arrebatadores. Do melhor que já vimos na plataforma e em jeito de brilharete a avivar a nossa memória do que vimos nas versões de consola caseira. Os mundos podem surgir em tons mais simplistas mas todo o jogo de nostalgia que incutem são um passaporte para as recordações de infância de todos os que em algum momento da sua vida se deixaram encantar por estas histórias. Mundos repletos de cor com personagens bem conhecidas em momentos que, como apanágio na série, poderiam perfeitamente estar inseridas nas obras cinematográficas originais. A isto devemos juntar uma componente sonora de grande qualidade e se para as músicas basta referir que estamos na série Kingdom Hearts, que só por si representa sinónimo de qualidade, também as vozes são fruto de um trabalho altamente competente e bem acima da média.
Kingdom Hearts: Birth by Sleep é um jogo em tudo digno de envergar o nome desta tão espantosa série de videojogos e um das melhores propostas que podem encontrar para a vossa PSP. Assume qualidade suficiente para se figurar como elemento importante neste universo e só é pena que alguns elementos técnicos o impeçam de se tornar numa experiência melhor.