Passar para o conteúdo principal

Kirby: Triple Deluxe - Análise

Algodão doce.

No vasto périplo pelas diferentes consolas da Nintendo, há um ponto comum transversal a todos os jogos Kirby: a doçura da personagem. Esta simpática bola cor-de-rosa é capaz de colher um sorriso dos rostos mais austeros, é capaz de transmitir uma boa sensação e, no entanto, consegue gravitar dentro de um imenso desafio graças às suas valências, inalando os adversários para usar os seus poderes. Mesmo dentro da linha mais tradicional da série, Kirby tem sido uma das icónicas personagens da Nintendo mais submetidas a diferentes experiências. Kirby Epic Yarn, o jogo que combinou tecidos e todo o envolvimento à volta das lãs com a jogabilidade clássica, permanece como uma das produções mais arrojadas.

O respeito pelas mecânicas mais tradicionais permanece. A capacidade de flutuar, enchendo os pulmões com ar e aprisionar os inimigos por meio de um vendaval são alguns dos elementos mais distintivos. Mas Kirby impressiona também pelos elevados níveis de ternura que transmite, como de resto transmitem todas as personagens da Dream Land, sejam elas heróis ou vilões. É um universo genuinamente bem representando, como que retirado de sonhos, de espaços paradisíacos, revelador de um certo "know-how" que o Hal Laboratory soube desenvolver e acarinhar desde o começo.

As funcionalidades da 3DS estão bem adaptadas aos diversos contextos de interacção.

Kirby: Triple Deluxe retoma as origens da série e parece posicionar-se mais perto dos clássicos, ao apostar numa mecânica amplamente reconhecida mas igualmente sólida e bem construída. Do ponto de vista visual, a adaptação para a portátil 3DS permitiu um bom aproveitamento do 3D, através de transições entre diferentes espaços, permitindo que a personagem transite para segmentos mais afastados e prossiga aí o seu trajecto, um pouco à semelhança de Donkey Kong Country Returns. Novos poderes foram incorporados, assim como diferentes transformações e mais alguns movimentos, mantendo a personagem, no entanto, os movimentos básicos reconhecidos.

Do ponto de vista do design, Kirby: Triple Deluxe entrega diferentes mundos de fantasia e originais, sem ao mesmo tempo deixar de revisitar personagens e momentos clássicos de outros jogos da série, que os fãs rapidamente reconhecerão. Mas é um mundo tão colorido, terno e rico conceptualmente, ao ponto de surpreender pela quantidade de áreas secretas e puzzles, e até pela dimensão dos níveis, por vezes longos e atestados de itens para recolher. A adaptação às funcionalidades da 3DS, como o giroscópio, também resulta positivamente, ainda que esta funcionalidade não seja propriamente uma grande novidade.

Ver no Youtube

Mais surpreendente é a dimensão do conteúdo. Tal como o nome do título sugere, Kirby: Triple Deluxe oferece uma dose tripla de divertimento. Ao invés de proporcionar uma única aventura, este jogo oferece ainda mais dois modos de jogo adicionais, totalmente diferentes, e que aumentam a longevidade do jogo. No princípio, 3 modos estão disponíveis: a aventura, composta por uma história nova, o Kirby Fighters, inspirado no sistema de combate de Smash Bros e o Dedede's Drum Dash, um agradável jogo de acção rítmica. Felizmente, estes acrescentos convencem. Seria diferente se cada um destes modos adicionais tivesse de subsistir por si. Porém e em conjunto servem um conteúdo bastante forte e seguro nas diferentes mecânicas.

Começando pela aventura, temos desde logo uma história nova. O sossego da Dream Land, a terra de Kirby, é numa noite substituído pela adversidade reinante em Floralia. Tudo aconteceu depois de a casa de Kriby ter sido içada por uns enormes rebentos da Dreamstalk. Ao mesmo tempo, o King Dedede foi raptado por uma misteriosa criatura e levado para esse espaço misterioso. Kirby não tem outra alternativa senão arredar pé e avançar nesse novo território. Haverá muitas surpresas e nem tudo é o que parece no começo da história.

A hypernova é a habilidade com mais destaque entre as clássicas e as quatro novas.

Ao todo, Kirby visitará seis diferentes mundos, compostos por aproximadamente uma meia dezena de níveis em cada um, aos quais acresce uma batalha contra o respectivo "boss". Não é uma aventura muito longa e o grau de dificuldade, apesar de incrementado a partir do terceiro mundo, não oferece o mesmo nível de desafio existente nos clássicos da NES e SNES. Apesar desta moderação, cada nível é mais longo do que o habitual, abarcando diferentes áreas secretas, planos de progressão em virtude das transições em profundidade e com muitos itens para recolher, pelo que o tempo gasto a explorar tudo aumenta assim que levarem a cabo uma exploração minuciosa.

O conceito e tema de cada mundo constituem uma das mais-valias do jogo. Todos eles muito diversos e ligados a contextos diferentes, como um espaço repleto de prendas e brinquedos, por contraponto a um mundo com fortes elementos da natureza, onde não faltam secções subaquáticas, a riqueza visual e atenção ao detalhe ganham ainda mais destaque graças a uma boa fluidez das animações, numa "frame-rate" sólida. As cores fortes e as sucessivas transições em profundidade, conjugadas com a presença de múltiplos adversários a realizar diferentes acções, promovem aquela jogabilidade que conjuga acção arcade frenética com plataformas, como se fosse um "brawler", quase ao ponto de nos dar uma espécie de introdução ao jogo Super Smash Bros.