Knack - Análise
O título diz tudo.
Knack tanto pode ser um jogo agradável como incrivelmente frustrante, ao ponto de ter que respirar fundo para me acalmar. Pela sua imagem, é fácil julgar Knack como o jogo de lançamento da PlayStation 4 indicado para as crianças, foi este o pensamento que me ocorreu na sua apresentação e que perdurou até ter a oportunidade de o jogar. Antes do início, podemos escolher a dificuldade: fácil, normal e difícil. Confesso que cheguei a considerar escolher "difícil", porque pensava que seria demasiado fácil e aborrecido, mas no final, fiquei grato por ter optado por normal, já consegue ser por vezes desafiante que chegue em normal.
Parece-me que estamos então perante um jogo com uma apresentação apelativa para o público infantil mas que em dificuldade é mais apropriado para um público mais experiente, a não ser que optem pele dificuldade facilitada.
A dificuldade de que falo não é constante. Knack tem picos de dificuldade, ora umas vezes progredimos nos níveis sem suar, ora outras vezes empancamos em alguma zona. Os checkpoints são frequentes, mas perder antes de chegarmos a estas zonas que guardam automaticamente o progresso feito é sinónimo de ter que percorrer de novo uma secção.
Knack apresenta-se como um jogo de próxima geração, mas passado pouco tempo mostra a sua faceta da velha guarda. A barra de saúde não se regenera com o tempo e a única forma de a fazer regressar ao estado máximo é perder (mas vão ter que começar de novo a secção) ou encontrar peças (é assim que Knack se regenera e aumenta de tamanho).
É mais um jogo de acção do que de plataformas, no entanto, não se excede em nenhum dos dois. As partes de plataformas são demasiado fáceis e pouco elaboradas, o combate está restrito a um só botão de ataque e a mais dois botões, o de desviar e saltar. O combate é básico, mas praticamente somos obrigados a ter o máximo cuidado para não perder nem um pouco da preciosa barra de vida. Deste modo, atacar com precisão e no tempo correto é essencial.
Apesar de ser um jogo longo (dura mais do que esperado), repete a mesma fórmula para os níveis de forma abusada. Em resumo, Knack começa na sua forma mais pequena no início do nível, e no fim termina sempre na sua forma gigante. Esta é a habilidade de Knack, a de aumentar o seu tamanho recolhendo relíquias, que são vestígios deixados por uma antiga civilização.
Um pouco adiante na trama, Knack descobre que também consegue aumentar de tamanho recolhendo peças de gelo, madeira e de vidro, o que vêm introduzir uma leve variedade na jogabilidade, mas acaba por ser uma variedade superficial, quase falsa, porque dá-mos por nós sempre a cair na mesma rotina repetitiva. Com as peças de gelo, Knack não pode estar muito tempo exposto à luz solar ou derreterá. Com os blocos de madeira pode incendiar-se se encontrar fogo, o que o torna uma grande ameaça momentânea, até que a madeira arda por completo. Na sua versão de vidro, chamada de "Stealth Knack", a personagem consegue passar por lasers de segurança sem ser detetado.
São pequenas variações que podiam ser mais exploradas para criar um jogo mais rico em jogabilidade, que é onde Knack peca e muito. O que creio ser mais grave, é que este só um título de próxima geração em gráficos. Knack deixa a desejar em vários aspectos. Na geração passada e mesmo na geração da PlayStation 2, Xbox e Gamecube já vimos muito melhor. E mesmo nos gráficos há por onde criticar.
É verdade que apresenta um visual muito limpo, texturas de qualidade e draw distances impressionantes, mas os níveis são demasiado vazios e formados pelos corredores aborrecidos que já percorremos tantas vezes em tantos outros jogos. No final, Knack não conseguiu deixar patente na memória um único nível ou cenário. O que perdurou foi a desilusão. Este é um jogo de próxima geração que não traz nada de novo nem de positivo. Quanto muito, Knack representa aquilo que os jogos para as novas plataformas não devem ser.
Enquanto personagem, Knack é pouco desenvolvido ao longo do enredo e praticamente não exibe rastos de personalidade. É parecido com um fantoche, recebendo ordens do seu criador e de outras personagens. Quando vamos passar horas a controlar uma personagem, é essencial criar alguma empatia com ela, e Knack falha neste ponto.
"A história é a parte mais interessante e até podia ser considerada uma aventura a ter em conta se a concretização dos níveis fosse melhor."
A história é a parte mais interessante e até podia ser considerada uma aventura a ter em conta se a concretização dos níveis fosse melhor. A narrativa é muito semelhante àquelas dos filmes de Indiana Jones, misturando o mistério de civilizações antigas com um mundo moderno. A complexidade da história é maior do que seria de esperar havendo uma série de reviravoltas inesperadas. Por mais estranho que soe, qualquer uma das personagens consegue ser mais interessante que Knack, que não mostra estofo para ter tanto tempo de antena.
A longevidade surpreende, mas esta é uma daquelas situações em que o ser mais longo o torna mais chato. Não há nada de errado em oferecer boa longevidade, conquanto, convém evitar cair na repetitividade. Knack cai nesta armadilha nos primeiros níveis e continua preso nela até ao final. É suposto repetirmos a experiência para desbloquear por completo os itens especiais, cujas peças se encontram escondidas em compartimentos secretos espalhados pelos níveis, se ao menos restasse vontade para tal...
Knack é até um dos jogos que é vendido juntamente com a PlayStation 4 num bundle, o que lhe dá bastante destaque nas prateleiras das lojas, mas entrar assim na nova geração não é digno. Esta é uma das piores opções disponíveis para a nova consola da Sony, o que por si só é particularmente estranho, afinal este é o jogo criado pelo próprio Mark Cerny, o arquitecto da plataforma, e como tal, deveria exibir ao máximo as potencialidades do novo hardware.