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Kokuga - Análise

Shmup do mesmo diretor de Ikaruga, Radiant Silvergun e Gradius V.

Kokuga é a mais recente produção da GRevolution, um estúdio japonês responsável por shmups ou jogos de bullet hell, como também são conhecidos por terras do sol nascente. Este estúdio estabeleceu até parcerias com editoras como a Taito e produtoras como a Treasure de modo a desenvolver franquias relevantes, entre as quais se encontra Ikaruga e Gradius V. Além disso, à cabeceira desta produção encontra-se um diretor veterano, Hiroshi Iuchi, que é, nada mais nada menos, que o grande responsável por Radiant Silvergun, o clássico de culto Ikaruga - eternizado nas arcades e na defunta Dreamcast, com passagens por GameCube e Xbox Live -, Gradius V e boa parte da produção de Gunstar Heroes, sendo estes os jogos mais sonantes de uma larga lista de produções que atestam a sua experiência dentro do género dos shmups e da acção vertical/horizontal.

A entrada na eShop de Kokuga, como exclusivo Nintendo 3DS, vem assim projectar mais motivos de atenção sobre este peculiar título, uma vez que a sua matriz exclusivamente nipónica, poderia implicar, noutros anos, algum afastamento do mercado ocidental. Tal como Code of Princess que fez a travessia no digital, e o ainda recém-lançado Project x Zone, no retalho, são tempos magníficos estes, que nos permitem aceder, ainda que em forma exclusivamente digital (mas também beneficiar de um preço significativamente mais em conta) a jogos desta particular categoria.

A história de Kokuga aponta para um conflito de nações. A maior parte do jogo é um treino de preparação para o combate a sério, refere o narrador, citando uma directiva militar.

A questão que estará certamente a reverberar nas vossas mentes, por esta altura, é sobre como fica este Kokuga entre as produções de Hiroshi Iushi. Poderá superar esse brilhante Ikaruga e Radiant Silvergun, impondo-se aos seus esquemas de diferentes polaridades de ataque? Se neste particular domínio é verdade que Kokuga se apresenta um pouco menos bullet hell, sendo visivelmente menos festivo e explosivo, do ponto de vista da fórmula, da inovação e da acção, enquanto factores diferenciadores, podemos dizer que este título de Hiroshi Luchi é uma muito agradável surpresa, que vai ganhando mais e mais consistência à medida que penetramos no seu âmago. Embora comece por se revelar algo pesado e complexo de gerir, não tarda até que tudo seja mais intuitivo e sobretudo desafiante, bem na linha dos clássicos hardcore.

Kokuga é um tanque futurista capaz de disparar um projéctil de cada vez (com um pequeno intervalo de tempo entre cada disparo) a partir do canhão instalado no seu topo. Isto poderá deixar de pé atrás quem pensa nos mais comuns dos shmpus, plenos de disparos sucessivos, o tal mar de balas quase infindável. Mas isso só não sucede aqui em termos de base, porque a partir do momento que avançam para o combate, podem aceder a uma vintena de cartões que uma vez activados permitem, por exemplo disparos em cadeia, em 3 vias, através de raios laser, envio de bombas e outras opções que funcionam apenas por alguns segundos depois de activados, como uma espécie de power ups. Estes dividem-se entre os cartões com power ups ofensivos ( cartões vermelhos), mas também existem power ups defensivos ( cartões azuis), como criação de um escudo protector de Kokuga, reforço de defesa do tanque, conserto do aparelho. O poder final e mais destrutivo de todos, capaz de limpar todos os inimigos à volta do tanque, é o Napalm. A designação dispensa apresentações.

A movimentação do Kokuga, parece algo pesada, especialmente quando jogam pela primeira vez. Na verdade, Kokuga movimenta-se em 360 graus, numa perspectiva top-down sobre um cenário futurista 3D, sem scroll horizontal ou vertical (permitindo que o jogador avance ao longo de grandes áreas e corredores recheados de inimigos). Para isso serve-se do botão analógico, sendo que o canhão do tanque é controlado de forma autónoma, sendo operado, para a esquerda ou para a direita (também num movimento de 360º) a partir dos botões L e R. De certo modo, isto é o preço a pagar por ser um shmup que prescinde do scroll horizontal ou vertical, já que nos títulos mais normais, o jogador apenas comanda a posição do aparelho através de um analógico e gere os disparos noutro botão. Aqui com a extensão de opções e dualidade de comandos, há mais trabalho de mãos.

As cores dos cartões indicam o esquema dual, entre power ups de ataque (vermelhos) e defesa (azuis).

Contudo, é também graças a esse sistema que encontramos o ponto diferenciador deste para outros jogos. Se é verdade que isso parece tornar o jogo mais difícil, não tarda até que, ao fim de algum tempo de adaptação, estejamos plenamente acostumados ao sistema e prontos para enfrentar os maiores bosses, puro trabalho de fan service de Hiroshi Iuchi. No final de cada área existe um boss à espera, mas antes de lá chegar há que ultrapassar corredores e zonas por onde temos de comandar, com sucesso, o nosso tanque.

A grande dificuldade consiste em tirar um dos polegares afecto ao botão analógico ou aos disparos para pressionar rapidamente um dos quatro cartões disponíveis no ecrã táctil (por norma selecciono com os polegares). No meio de um combate mais disputado, uma fracção de segundo pode custar danos irreversíveis e até mesmo a explosão de Kokuga. Percebe-se que o jogo foi pensado exclusivamente para as características da 3DS, ao promover uma utilização segura do ecrã táctil. Através deste segundo ecrã o jogador pode seleccionar 20 cartões por nível e quando usa um deles, outros vão ficando disponíveis (em modo random). A colocação do segundo analógico através do circle pad extra não é possível, nem eliminaria as dificuldades se levarmos em conta as opções disponíveis. De facto, Kokuga é um shmup com imensa jogabilidade e uma mecânica repartida por diversos segmentos controláveis ao mesmo tempo, e que força o jogador a avançar pausadamente, pois não há um tempo limite.

Talvez por isso é que os produtores concederam tantos poderes (ainda que temporários). É que através dos fulminantes disparos laser, disparos de metralhadora ou então através da "última solução", a bomba napalm, os adversários são eliminados da área como quem sopra migalhas de uma mesa. Mas, em termos estratégicos, valerá a pena queimar todos os cartões antes de chegar ao boss final? É aqui que entra o desafio para os veteranos destes títulos; tentar vencer todos os inimigos usando o mínimo de cartões possível. No final e atendendo aos doze níveis de Kokuga, fica sempre a impressão de um desafio muito sólido e diferenciador da maioria dos shmups. Isso é reforçado pela colocação de obstáculos que permitem a Kokuga encontrar refúgio. O alcance dos disparos dos inimigos, exceptuando o laser, tem um alcance limitado, pelo que também podemos manter uma certa distância antes de iniciar a aproximação.

A sensação do embate dos projécteis, física dos disparos e rebentamento dos inimigos é muito boa e sólida. A perspectiva tridimensional reforça esse impacto, embora não seja um jogo tão luminoso e cintilante como Ikaruga. Existem também grandes máquinas adversárias - mechs de um design inconfundível -, e embora grandiososo, nunca chegam a assumir uma dimensão colossal. Talvez de modo a nunca pôr em causa a fluidez de jogo e a boa frame rate, a equipa de produção optou por restringir um pouco o âmbito da riqueza visual que podíamos esperar de um shmup. No entanto, o nível de acção e arte é grande, principalmente o primeiro.

O multiplayer co-op via modo download é sempre uma boa opção.

A estrutura dos níveis obedece a uma organização peculiar. Como que em forma de pirâmide, os níveis estão organizados por letras. Ao completar um nível, o jogador pode passar para o nível seguinte, imediatamente a casa mais próxima. Nos limites da pirâmide existem níveis extras, os verdadeiros combates (F-1, F-2 e F-3, o último), sendo todos os outros níveis de treino, como a história explica, logo ao começo. Curiosa é a progressão. Ao terminar um nível, o jogador obtém uma medalha e só pode prosseguir para o nível imediatamente seguinte (para a frente, para o lado, ou para trás). Porém se desistir e regressar mais tarde, pode recomeçar num outro ponto. Só os níveis F permanecem bloqueados.

Quase todos os níveis apresentam o mesmo design. Uma película quadriculada semi-translúcida, sobre a qual nos movimentamos, assim como os adversários, onde também existem obstáculos que temos de contornar, havendo por baixo dessa película fundos em três dimensões, embora quase sempre despidos. É um interessante conceito gráfico, apesar de possuir uma definição fria e um pouco vazia. Só a acção é que gera mais riqueza visual.

O modo normal é já por si difícil e se subirem de dificuldade até ao boss mode, o grau de exigência mede-se na capacidade dos inimigos resistirem aos vossos disparos. O boss mode, tal como sugere a designação, é apenas uma luta contra o adversário final de cada nível. Bom trabalho também nesta parte, já que estes enormes adversários oferecem diferentes quadros de ataque, requerendo da parte do jogador uma especial adaptação.

Em termos de experiência multiplayer, Kokuga oferece dois modos de jogo locais. Por download (opção limitada em níveis disponíveis), quatro jogadores podem jogar de forma cooperativa, desde que um deles tenha o jogo completo. No modo local completo, quatro jogadores terão que possuir o jogo para que possam desfrutar em pleno das respectivas opções.

No fim, Kokuga é mais uma valiosa oferta alternativa a Ikaruga, Radiant Silvergun e Gunstar Heroes do que propriamente um sucessor de qualquer um, posicionando-se como um trabalho ainda mais exclusivo de Hiroshi Luchi e que vem demonstrar a versatilidade deste designer. O controlo mais apertado e exigente do tanque afasta o combate do ritmo frenético da linha de shooters como Ikaruga e obriga o jogador a desenvolver um plano de ataque mais pausado, estratégico e certeiro. É um jogo extremamente desafiante, mas equilibrado, e na linha de outros árduos shmups, brutalmente recompensador. Disponível exclusivamente na eShop, por 14,99 euros, um preço bastante apelativo por um jogo desta dimensão.

8 / 10

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