Layton's Mystery Journey: Katrielle and the Millions Conspiracy - Análise
Tal pai tal filha.
Oriunda da Level-5, a série Professor Layton adquiriu uma enorme projecção ao longo dos anos. Começando na Nintendo DS, em 2007, com o lançamento de Professor Layton and the Curious Village depressa os jogos do professor se transformaram num compêndio de puzzles integrados em grandes investigações. Acompanhado pelo fiel assistente Luke, ambos nunca dispensaram um bom puzzle. Assim foi ao longo de várias edições para a Nintendo DS e, posteriormente, na Nintendo 3DS. Há não muito tempo, até o universo do professor se cruzou com a barra dos tribunais de Phoenix Wright, o que resultou num título peculiar, atentas as diferentes mecânicas de ambos os jogos.
Grande parte do êxito da série Professor Layton explica-se não só pela habilidade da Level-5 em contar uma boa história como pela maximização das potencialidades das consolas portáteis da Nintendo, especialmente o ecrã táctil, através do qual é dada uma interacção muito eficaz para os diversos puzzles. Todavia, atendo o crescimento do mercado mobile, através de plataformas como o iOS e o sistema Android, a editora responsável pela série entendeu estarem reunidas as condições para desenvolver um novo jogo para esses sistemas, a par da 3DS.
Assim, Layton's Mystery Journey é um jogo que integra o mercado mobile, operando uma transição um tanto esperada, mas sem perder de vista as origens, ao mesmo tempo disponível para a Nintendo 3DS e recentemente disponível no mercado Europeu. Trata-se de uma extensão previsível, a chegada aos formatos iOS e Android, mas parece que nesse prolongamento a Level-5 optou por criar um jogo diferente, significativamente fora do modelo dos anteriores e já veremos porque razão.
Vale a pena aplaudir a concessão de protagonismo a uma personagem feminina. Desta vez, o professor e o seu fiel assistente estão ausentes, pelo que a figura em destaque é justamente a filha Katrielle ou "Lady Layton" como os produtores estiveram quase a baptizá-la por ocasião do anúncio do jogo. Ela é uma aspirante a detective e está a começar uma carreira, ainda que sem o pai por perto, que aliás é um dos mistérios que grassa nesta aventura, o seu desaparecimento. É na tentativa de descobrir o seu paradeiro, após dedicar-se à resolução de casos, que Katrielle vai entrar numa jornada que para sempre marcará o seu futuro.
Katrielle acrescenta uma frescura a uma série demasiado polarizada em torno de dois protagonistas que conhecíamos como as palmas das nossas mãos. Muitas vezes apanhados de surpresas em tramas compostas por voltas e reviravoltas, desta vez não temos um caso de fundo mas uma sucessão de casos que a recém formada investigadora terá de conduzir e resolver. A ausência de uma grande narrativa acaba por ser o maior condicionamento desta edição, a julgar pela forma como lhe faltam aqueles momentos a que estávamos acostumados nas tramas em que o professor era chamado a intervir.
Ao mesmo tempo, parece faltar aquela aura de mistério e factor inexplicável que pendia sobre as aventuras, de forma prolongada e consistente. Aqui não é diferente, mas o destaque é dado a uma série de casos, investigações fechadas, ainda que tenhamos uma série de situações insólitas, como assassinatos, entre outros casos misteriosos. Contudo, dada a sua reduzida dimensão, são resolvidos com maior simplicidade o que abrevia o ritmo a que estávamos acostumados encontrar. No começo, Katrielle contará com a preciosa ajuda de um canino falante chamado Sherl (interessante abreviatura de Sherlock Holmes), bem como Ernest Greeves e Emiliana Perfetti. O cão, por exemplo, anunciando-se como um detective, desconhece o que lhe aconteceu, qual a causa por detrás da transformação. Há toda uma série de peripécias que ocorrem desde o primeiro instante. Não só situações cómicas como encontramos personagens com propensão para o humor, o que dá uma melhor disposição às histórias.
Dado que há muitas personagens para descobrir, atentos os diversos casos, os encontros e conversas formam um lado interessante desta estrutura por segmentos. Mas, o mesmo sucede com os puzzles, que voltam a surgir em catadupa, bastante diversificados e por vezes com um grau de complexidade inferior. Fruto da colaboração que a Level-5 manteve com Akira Tago, um renomeado criador de puzzles japonês, muitos dos títulos da série contaram com a sua colaboração, o que se reflectiu na qualidade dos quebra-cabeças. Infelizmente, ao perder a vida, o ano passado, a sua colaboração cessou e isso reflecte-se um pouco no trabalho final.
De resto os puzzles mantém a mesma estrutura e design, o que significa a utilização de pistas que aclareiam a solução. No que toca à investigação, voltamos a percorrer vários pontos relevantes de Londres, inquirindo testemunhas e interagindo com vários uma série de elementos da área que inspeccionamos, usando a lupa. O exame de objectos e conversas com as personagens adquirem extrema relevância, se queremos conduzir o caso até ao desfecho. Depois de terminado, não significa que não possam voltar atrás. Descobrir um puzzle que passou ou simplesmente inquirir uma personagem é possível, mas terão que repetir muitos processos. À semelhança de outros jogos da série, alguns mini-jogos ficam acessíveis. Desde a criação de refeições até à gestão de uma loja, podendo mudar as roupas e os acessórios de Katrielle.
Layton's Mystery Journey segue muito de perto as pisadas dos jogos anteriores, mas desde cedo percebemos que é uma aventura diferente do que estamos acostumados. A troca de protagonistas, por um rosto feminino que corresponde à filha do icónico professor parece dar algum alento e frescura, embora numa história menos misteriosa. Os casos projectam um ritmo diferente, com o chame a que nos habituamos na série, tendo sempre os puzzles em grande destaque, mas de um modo geral é uma aventura menos consistente e memorável.