LEGO Legends of Chima: Laval's Journey - Análise
Era uma vez um mundo chamado Chima.
As franquias da série Lego estão bem e recomendam-se. A Traveller's Tales já não se dedica a outros temas há anos (foi este estúdio que fez o Sonic 3D e Toy Story 2), mas também é evidente que o sucesso recolhido com os jogos da franquia Lego permite-lhe ter uma base de trabalho que não dá para outros projectos. E quando o que se faz tem qualidade, o melhor é mesmo dar continuidade. Depois de dois jogos exclusivos para as plataformas da Nintendo, com Lego City Undercover para a Wii U e 3DS e com Lego Marvel Super Heroes pelo meio, chega-nos agora Lego Legends of Chima: Laval's Journey, pela mão da Warner Bros. Com edição para a Nintendo 3DS, PS Vita e Nintendo DS, este jogo difere da maioria das produções do estúdio, muitas delas baseadas em licenças oficiais do cinema, como Star Wars, Piratas das Caraíbas ou Indiana Jones. A versão que trazemos a análise é para a Nintendo 3DS.
A ausência de uma licença, à semelhança de Lego City Undercover, permitiu à produtora focar-se em determinados aspectos do jogo, especialmente dentro do género role play e sand box, outra vez recuperado neste Laval's Journey. Enquanto que nos jogos da série Lego baseados em licenças torna-se obrigatório seguir um guião de acontecimentos relevantes, neste domínio de maior autonomia narrativa, a produtora dá alguma primazia a mecânicas e processos de interacção, sem ter de os forçar a certos enquadramentos narrativos. Contudo, tendo em conta as plataformas para que foi construído, Lego Legends of Chima está longe de ser um jogo complexo ou especialmente talhado para os jogadores hardcore.
Como complemento às peças Lego do Legends of Chima, faz sentido dirigir este jogo para uma audiência mais juvenil, uma vez que os mais graúdos, pese embora reconheçam o nível satisfatório das mecânicas e alguma profundidade que lhe está associada, poderão ficar desiludidos devido à ausência de dificuldade, algo que faz deste jogo uma espécie de passeio, no qual o desafio é mesmo a viagem e descoberta de Chima.
Este é um reino paradisíaco, em estado quase natural e de ordem mitológica, onde animais antropormóficos, como leões, águias, crocodilos, gorilas, entre outras raças, partilham o mesmo espaço. A co-habitação é pacífica, mas só até ao dia da ruptura, quando se instala uma crise por causa de um recurso natural chamado Chima. Com ele, os seus titulares podem criar ou destruir. Nas mãos de Cragger, príncipe da tribo dos Crocodilos e com o apoio da sua irmã que tem em mente chegar ao poder absoluto, impondo a sua vontade sobre todas as facções, aquele cessa toda a amizade que tinha com Laval - príncipe leão -, e dá origem a uma guerra que divide as raças.
Os leões não estarão sós nesta campanha. A eles se juntarão outras facções dispostas a impedir os planos levados a cabo por Cragger, nomeadamente as águias e os gorilas. Do outro lado, os crocodilos serão apoiados pelos corvos e lobos. Há uma razão de ser para esta narrativa. É que ao invés de comandar uma personagem ao longo da história, ou outras personagens em diferentes capítulos, o jogador pode mudar, a qualquer altura, de personagem, permitindo-lhe resolver puzzles e remover obstáculos ao longo do percurso. No entanto, a transição manual de personagens só é possível quando o jogador penetrar profundamente na história, chegando perto das outras facções, começando por controlar as respectivas personagens.
Além disso, cada personagem possui poderes e habilidades especiais que podem ser usados em circunstâncias específicas. Contudo, a escolha é na maior parte das vezes um processo previsível. Alem disso, os seus efeitos são demasiado óbvios, o que ao fim de algum tempo pode tornar-se num processo rotineiro. Por exemplo, o rugido de Laval pode destruir paredes e construções de pedras devido às vibrações que produz, enquanto que a água consegue sobrevoar plataformas distantes. Apesar das permanentes assistências e facilidade com que se descobrem e aplicam os poderes, encontra-se aqui uma grande variedade de personagens e respectivos poderes, algo que acaba por ser bastante satisfatório até ao final da aventura. E como este é um mundo aberto, completar tudo a 100% será o desafio suplementar e a parte do jogo que vos obrigará a redobrar o esforço.
Ao nível das plataformas, Lego Legends of Chima fica marcado pela facilidade com que se transita. As grandes áreas de jogo oferecem arquitecturas distintas, muitas plataformas, e quase sempre favorecem uma speed run até à batalha final. O design do jogo apela, como já referi, ao plano mitológico e ao natural. Temos assim um reino com bastantes espaços naturais, mas também muitos templos e construções que oferecem muitas surpresas. Contudo, os objectivos estão quase sempre à mostra e os puzzles não oferecem grande teste. Dominando o básico, só têm que quebrar algumas peças para construir uma ligação, usar mecanismos como roldanas para abrir portas, passar por espaços apertados a correr, entre muitos outros processos algo revisitados.
Enfrentar os adversários e múltiplos inimigos é tarefa constante. Para atacarem só precisam de pressionar o botão Y, enquanto que o botão B permite desviar dos ataques. Regra geral, não terão dificuldades em vencer, mesmo nos combates mais complicados, pois mesmo que percam todos os indicadores de saúde, não regressam a um checkpoint, nem perdem os vossos poderes, nem regressam ao princípio. A batalha prossegue, justamente com a saúde no máximo. Ora, esta ausência de perigo, aliada a uma ausência de desafio em termos de progressão, impede que uma audiência mais adulta retire pleno proveito deste jogo.
Haverá algum consolo nas propriedades tridimensionais de Chima, na diversidade de personagens, poderes e dimensão do mundo aberto, onde vingam imensos objectivos. No entanto, também falta a este jogo algum do humor contagiante que já vimos despertar noutros jogos, especialmente em Lego City Undercover ou então nos primeiros Star Wars, que funcionavam quase como paródia dos filmes.
Lego Legends of Chima revela-se satisfatório na sua simplicidade, talvez do mais elementar que já vimos sair do estúdio Traveller's Tales. Isso não é mau, uma vez que a jogabilidade não possui falhas nem tem bugs que afectem a progressão. Simplesmente, poucas vezes sai do espaço já calcorreado noutros jogos e a moderação da dificuldade retira aqueles momentos de maior tensão e sobre os quais ficámos satisfeitos quando derrotamos realmente os antagonistas.