Passar para o conteúdo principal

LEGO Movie Videogame - Análise

Não tão espetacular como quer ser.

Analisar videojogos baseados em filmes raramente se revela uma experiência satisfatória por razões já mais do que sabidas. É comum o período de produção ser curto, a liberdade criativa está limitada, o orçamento pode não ser suficiente e/ou então a equipa é inexperiente. Alegremente, LEGO Movie Videogame é um dos raros casos em que a adaptação aos videojogos não é um desperdício total. Porquê?

LEGO Movie Videogame não enfrentou os mesmos desafios que outros jogos adaptados do cinema. A fórmula para os jogos de LEGO há muito que está definida, muito antes de estreia do LEGO Movie, que provou ser uma sensação nos filmes de animação capaz de entreter miúdos e graúdos. Apesar do resultado positivo, não há que enganar, o filme é a estrela, o jogo é apenas uma forma de capitalizar o seu sucesso na área dos videojogos pegando na fórmula de sucesso e já conhecida da TT Games.

Não têm que propriamente ter visto o filme para que possam jogar LEGO Movie Videogame. Alias, se jogarem antes de ver o filme, já vão ficar a conhecer uma parte considerável da história, visto que o jogo segue os eventos do filme e até usa como cinemáticas algumas das suas sequências. Sendo assim, o jogo não funciona como um complemento do filme, mas antes como uma forma de reviver o filme num formato diferente.

O filme procura ser uma celebração do universo LEGO, e como consequência, o jogo acaba por seguir o mesmo destino. As personagens de diferentes universos LEGO, incluindo universos exteriores, principalmente da DC Comics, estão presentes nesta aventura. Não fiquem surpreendidos quando o Super-Homem, Batman e Wonder Woman aparecerem para vos ajudar com os seus poderes. Contudo, o papel destas personagens é secundário, as caras principais são as personagens criadas de propósito para o filme: Emmet, Wildstyle, Vitruvius, Metal Beard e Unikitty.

Para os inexperientes em jogos LEGO, a progressão é linear e a troca de personagens é fundamental para resolver os puzzles criados para os diferentes níveis. Cada personagem tem acesso a uma habilidade única que contribuirá para concluir uma parte do puzzle. Ao jogador cabe perceber que personagem terá que utilizar, para isso basta estar atento aos elementos do cenário que dão pistas. Emmet, o protagonista de LEGO Movie, pode usar o seu martelo pneumático para esburacar o chão ou a parede nas zonas que estão sempre assinaladas com a devida textura. Vitruvius, uma espécie de Ganfalf com a voz de Morgan Freeman, consegue com o seu bastão abrir portas secretas. Estes são apenas alguns exemplos dentro de um legue de personagens gigante.

A quantidade de personagens para desbloquear é absurda. Nem todas são essências para completar a aventura. Essas, as que são essenciais, são desbloqueadas eventualmente. Mas para os colecionistas, que gostam de desbloquear tudo e mais alguma coisa, LEGO Movie Videogame tem muito para oferecer. A parte mais divertida é controlar estas personagens invulgares mas imediatamente adoráveis. A minha favorita foi Unikity, uma gatinha muito simpática misturada com unicórnio mas que quando se zanga se transforma num gato gigante furioso e assustador.

O problema inerente a qualquer jogo de LEGO que use a fórmula já conhecida, é que se jogaram um, então já experimentaram todos. É uma condição causada pelo uso do esquema familiar com poucas ou às vezes sem nenhuma alteração. A situação não é diferente do que acontece com os lançamentos das séries anuais, mas no caso de LEGO, parece que não há esforços a ser feitos para evoluir a fórmula, que começa a tornar-se cansativa para aqueles que já conhecem alguns jogos da saga, ainda que inseridos em universos diferentes

Na minha situação, o último jogo LEGO que joguei antes deste foi LEGO City Undercover para a Wii U. A familiaridade sentida inicialmente é positiva, no sentido que ajuda a uma adaptação rápida. O sentimento de familiaridade é sempre bom, todos torcem o nariz ao desconhecido, mas devido à estrutura igual do princípio ao fim, o cansaço também é sentido mais cedo. LEGO City Undercover fugiu eficazmente a esta efeito por se situar numa estrutura de mundo aberto, uma novidade para a série, mas em níveis fechados, como este LEGO Movie Videogame, não há por onde fugir à arquitetura análoga aos outros jogos LEGO.

Este é maior defeito de LEGO Movie Videogame. Não é que não seja agradável por momentos ou que seja mau, simplesmente há a sensação de que já jogamos isto no passado. Em todos os níveis podem destruir quase tudo em vosso redor para recolher peças de LEGO suficientes para encher a barra a 100 porcento, isto para desbloquear uma das 70 peças douradas no final. No início é divertido, mas no fim já se torna enfadonho. Recolher peças de LEGO é opcional e podem chegar ao fim do jogo sem embarcar nesta tarefa, mas as peças de LEGO são a moeda de troca para as personagens que não tem um papel na narrativa.

"Os curiosos sobre a longevidade vão ficar satisfeitos em saber que têm no mínimo jogo para cerca de oito horas."

O combate permanece básico, sem qualquer dificuldade ou exigência de execução. Basta carregar no botão de ataque algumas vezes e os adversários desfazem-se peças. Para ser honesto, há inimigos mais difíceis, que requerem habilidades especiais para serem derrotados, mas excluindo essas raras ocasiões, o nível de desafio é baixo. É suposto que os jogos de LEGO sejam apropriados para todos as idades, e seria injusto pedir uma elevada dificuldade de um jogo que nunca se propõe a isso, não obstante, não é suposto que o jogo se torne aborrecido.

O humor foi se tornando numa das imagens de marca dos jogos LEGO, pelo que nem precisam de perguntar pela sua presença em LEGO Movie Videogame, que por si só já está inserido no género humorístico. Mas enquanto os outros jogos LEGO podem aproveitar cenas que na sua forma original não têm piada e torná-las engraçadas, estamos diante de um jogo que tudo o que pode fazer é reutilizar o humor do filme. É engraçado de qualquer modo, capaz de despertar um sorriso aqui e ali, mas nada que desperte uma valente gargalhada.

Os curiosos sobre a longevidade vão ficar satisfeitos em saber que têm no mínimo jogo para cerca de oito horas. Este é tempo que vão demorar a terminar a história, mas como já referi, há muito para desbloquear e ainda vão precisar de horas adicionas até ganharem acesso a todas as personagens, descobrirem os coleccionáveis escondidos nos níveis e por último, desbloquear os blocos dourados.

Para concluir, regressando ao que estava a dizer no início, LEGO Movie Videogame é competente, dentro das restrições de ser a adaptação de um filme. Não é o melhor jogo LEGO que podem encontrar nem tão pouco o mais original, mas se procuram conhecer o filme num formato diferente não vão ficar desiludidos, mas não esperem algo "espetacular" como é dito na letra da música oficial.

6 / 10

Lê também