Passar para o conteúdo principal

Lego Star Wars: The Skywalker Saga - Numa galáxia distante feita peça a peça

Liberdade para explorar nove filmes adaptados.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Numa adaptação bem conseguida de nove filmes da saga Skywalker, este é o melhor, mais divertido e humorístico Lego Star Wars.

Sinto que esta derradeira entrada da saga Lego Star Wars vem fechar um círculo que a Traveller Tales Games iniciara há 17 anos, quando produziu o primeiro Lego Star Wars, então denominado The Video Game. Recordo-me perfeitamente de ter importado a versão NTSC de uma loja online, do Canadá (a mesma onde comprara dois meses antes Resident Evil 4, para a Game Cube), em finais de Março de 2005, o que me levou a ter acesso ao desfecho de Revenge of The Sith, que só veria no cinema em Maio. Tive o cuidado de parar de jogar antes de entrar nos eventos do terceiro Star Wars. Como tinha visto Phantom Manace e Attack of the Clones, avancei por grande parte do jogo, sem receios. Agora que as três trilogias estão finalmente disponíveis num só jogo, o mais longo e não sem alguma polémica pelo meio, bem como alguns adiamentos, eis a oportunidade para reviver a adaptação ao formato humorístico e divertido da Lego, dos nove filmes que compõem a saga principal Star Wars.

São três trilogias, nada mais nada menos do que nove filmes, cinco missões por cada filme adaptado, o que dá 45 missões centrais, para além do tempo extra nos mundos presentes e nos quais podemos sair da história e simplesmente entrar numa onda recreativa com personagens, naves e outros aparelhos. Não se pode dizer que este não seja um regresso esperado. Podemos até antever que a Warner e a TT Games continuarão a patrocinar e desenvolver novos jogos da saga a partir dos filmes spin off e paralelos à saga principal Star Wars. É um universo praticamente sem fim à vista. Como nos habituamos a um jogo Lego por ano, não podemos descartar num futuro próximo o regresso aos meandros de uma galáxia que nos habituamos a ver em convulsão.

Centenas de personagens para coleccionar.

The Skywalker Saga consegue captar o interesse dos fãs de Star Wars e ao mesmo tempo incutir e espalhar o gozo e divertimento das peças Lego entre o público juvenil. Isso talvez ajude a explicar em parte porque continua a ser um jogo acessível, o que não quer dizer impróprio e muito menos aborrecido para os jogadores que procuram um bom desafio. Num jogo que pretende ser sobretudo uma adaptação, com doses de humor, dos filmes e não a reprodução exacta e precisa dos filmes, mesmo os jogadores veteranos habituados a jogos difíceis não descartam um bom e divertido jogo, com muitos puzzles, combates, objectivos e risadas à mistura. Se há coisa de que nos habituamos a encontrar nas múltiplas franquias Lego desde 2005 é a sua configuração como produto capaz de chegar a diferentes faixas etárias e de as entreter, proporcionando momentos que se podem definir como agradáveis e bem passados.

Liberdade de exploração da saga

Com as duas primeiras sagas cobertas, assim como o primeiro episódio da sequela (The Force Awakens), em termos de novidade na adaptação ao formato videojogo temos The Last Jedi e The Rise of Skywalker. No entanto, a inclusão das duas primeiras trilogias, assim como o primeiro episódio da sequela, equivalem a episódios completamente refeitos. Quando em 2005 praticamente era dada atenção às personagens e a alguns elementos do cenário, maioritariamente vazios, hoje temos em cada episódio uma produção muito maior, com mais elementos no cenário, mais personagens e uma atenção ao detalhe, especialmente no tratamento das coisas como peças Lego, bem mais convincente.

É possível começar a jogar pelos episódios I, IV e VII

Ainda existem, no entanto, grandes porções que embora se assemelhando a construções do tipo Lego, não se desfazem, são intactas e fazem parte do grande cenário, que ajudando a compor e produzir contexto cénico, não são passíveis de destruição. Não obstante, as áreas são bem maiores, com pontos que abrem caminhos alternativos, passíveis de segunda passagem, o que equivale a ter muito por explorar. Além disso, podendo avançar de forma linear, seguindo os objectivos, nalgumas áreas abre-se uma espécie de área de recreio, onde podemos modificar de personagem, testar máquinas, adquirir peças e efectuar até uma série de missões secundárias.

Nos primeiros jogos da saga Star Wars, havia que respeitar a sequência dos episódios. Em Star Wars The Video Game não tínhamos forma de começar a jogar Revenge of the Sith. Começávamos por Phantom Manace e só depois de este concluído é que passávamos a Attack of the Clones. Agora, é possível começar pelo primeiro episódio de cada trilogia, o que equivale aos episódios I, IV e VII. Optei por jogar de acordo com a ordem cronológica de produção, mas se quiserem podem começar pela trilogia prequela ou pela sequela. Cada episódio integra 5 grandes missões, de duração variável, que de um modo global assimilam os pontos mais relevantes do filme. Ainda que os pontos de ligação sejam evidentes, é interessante desfrutarem dos jogos sem pensarem no que é mais próximo ou afastado. É como se a TT Games nos mostrasse o seu “take”, uma viagem que adquire traços humorísticos, quase caricaturais.

O universo Star Wars num só mapa

Os cinco grandes momentos de cada episódio não têm uma duração exacta, embora em média possam variar entre 2 a 4 horas, dependendo da forma como tiram partido da experiência. Se estiverem preocupados em acabar depressa as missões principais, o modo contra-relógio permite ver tudo entre uma a duas horas. No entanto, o melhor está em deixar o relógio num plano secundário e simplesmente desfrutar do jogo. Há muitas missões secundárias, até porque à medida que acumulam tempo de jogo, adquirem novas personagens e sempre podem voltar a níveis anteriores experimentando puzzles e caminhos alternativos com outras personagens. Tirando partido dessas personagens que integram diferentes classes, os seus poderes especiais permitem diferentes abordagens. É uma mistura interessante, um conceito de jogabilidade à Lego, no sentido de misturar as peças e testar diferentes combinações.

Os cenários estão mais detalhados, com naves e estruturas como se fossem construidas com peças Lego.

À medida que avançam entre missões, as localizações onde as mesmas decorrem ficam disponíveis num grande mapa da galáxia. Esses pequenos pontos registam as principais missões, agregadas num grande holograma que vos deixa ter uma ideia dos mundos da galáxia. A partir de uma determinada altura, podem sair da lógica narrativa e entrar numa lógica de exploração, viajando entre mundos e experimentando diferentes personagens. Não muda o desfecho dos filmes nem produz alterações na narrativa, no entanto é como se pudessem saltitar entre níveis já percorridos. Claro que se preferirem podem navegar de forma linear entre o primeiro e o último episódio da saga.

Existem dezenas de personagens para coleccionar, sendo que todas estão ligadas a uma classe e ao mesmo tempo são passíveis de evolução, através de uma árvore de habilidades que é desbloqueada à medida que investem através das peças adquiridas durante a exploração. Existem muitas coisas para recolher, assim como muitas personagens e isso torna a experiência mais interessante, indo para lá da simples interacção com puzzles e eventos principais dos filmes. Obter mais personagens e desbloquear habilidades é na verdade muito simples e só o tempo investido nos leva a aumentar a parada. Além disso, existem muitas naves e outros elementos passíveis de interacção. Cobrir tudo implica muito mais tempo do que as horas em média gastas por cada episódio, pelo que o factor longevidade é grande, indo muito para lá dos nove episódios.

Jogar Star Wars como quem constrói legos

Diz-se que os jogos Lego são acessíveis. É verdade, Skywalker Saga não é diferente dos anteriores. Não nos trava e bloqueia com a crueldade de outras experiências que proliferam pelo mundo dos jogos. Há muitos combates e em momentos apertados serão sufocados pelas tropas do império, por exemplo, e por personagens como os famosos vilãos. É nesses momentos, ou boss fights” que terão de suar as estopinhas, realizando combinações de ataque e tombos bem sucedidos, evitando bloqueios. Dependendo da vossa personagem e das habilidades que possua, quão melhor trabalhada estiver mais possibilidades tem para aplicar golpes de sabre potentes. Se jogarem com Luke poderão arremessar o sabre na direcção do adversário, pontapeá-lo e projectá-lo numa sequência de golpes que nos lembra os jogos de acção da Platinum ou da Capcom. Não há bullet time, até porque isso não é imagem de marca da série, mas os golpes que poderão aplicar dependem de combinações, que não sendo exaustivas ou de grande complexidade, não deixam de requerer uma boa dose de atenção.

Aeronaves e muitos combates espaciais.

Se o combate nos deixa satisfeitos, cumpre salientar que nesta jogabilidade multi-género, os combates com armas de fogo ganham uma particular ênfase a partir do momento em que a câmara está agora mais próxima da personagem que têm sob comando. Podem usar as paredes para cobertura do fogo, apontar e alvejar os adversários usando as barreiras como defesa, se tiverem a usar uma arma de disparos laser. No entanto, em alguns momentos a perspectiva também reduz o ângulo e limita o campo de visão perante certas investidas, podendo causar mais dificuldade quando estamos num combate mano a mano, do tipo “brawler”.

Os combates a bordo das aeronaves integram como que a espinha dorsal de qualquer filme Star Wars, pelo que não poderiam deixar de estar representadas nesta adaptação. Correspondem a bons momentos, especialmente pela quantidade de naves e efeitos que gravitam pelo espaço, em ataques e movimentos de fuga. É pena que por vezes ocorram algumas quebras na qualidade das animações. Fruto da quantidade de elementos em presença, o motor gráfico parece ressentir-se em momentos de alguma sobrecarga, acabando por soluçar quando a acção está no auge. São apenas alguns frames mas o suficiente para nos deixar a pensar sobre a provável margem de evolução ou implementação de algum update que corrija estas sequências de maior intensidade.

Vale a pena mencionar a boa qualidade na adaptação a video jogo em termos de audio e vozes, com todos os temas memoráveis presentes. É uma óptima evolução, amparada pelo bom trabalho das vozes das personagens, o que resulta numa adaptação muito mais fidedigna e realista sem perder o traço humorístico das personagens e de muitas das suas reacções inesperadas.

The Skywalker Saga vem claramente fechar um círculo aberto pela TT Games, em 2005, com o jogo correspondente aos episódios I, II e III. Destes nove filmes da Skywalker Saga fica completa a estrutura basilar de Star Wars neste formato Lego. É toda uma evolução no tratamento, tanto em termos de produção como nos elementos chave dos filmes, aqui transpostos (muito acaba por ficar de fora, porém, especialmente a emoção em momentos dos filmes que só no cinema e diante de um grande ecrã adquirem a melhor projecção). Mas qualquer fã de Star Wars e Lego dificilmente sairá deste jogo de barriga vazia, até porque há outros ganhos neste formato que o cinema não concede. Há tanto para fazer e coleccionar nesta galáxia, não apenas no contexto das missões principais, que mal damos pela passagem do tempo. É o melhor jogo feito pela TT Games com a saga Star Wars, talvez o título definitivo. Não sabemos o que o futuro nos reserva mas este momento é óptimo e os fãs só têm que aproveitar.

Prós: Contras:
  • Nove filmes adaptados
  • Centenas de personagens e naves coleccionáveis
  • Tamanho das áreas e percursos alternativos
  • Vozes, sons e músicas originais
  • Combinação de acção com puzzles
  • Quantidade de objectos, armas e acessórios
  • Reprodução das aeronaves
  • Algumas arestas por limar em termos gráficos
  • Construções maiores com as quais não podemos interagir
  • Algumas personagens podem parecer semelhantes
  • Não tem legendas em português

Lê também