Like a Dragon: Infinite Wealth - A insanidade japonesa
Uma nova escala e uma execução espetacular.
Like a Dragon: Infinite Wealth veio confirmar que na Ryu Ga Gotoku podes meter as mãos no fogo e fortalece a posição da Sega como um dos maiores portentos para os adeptos dos JRPGs, com uma forte ajuda da Atlus. Quem segue Like a Dragon já espera um energético cocktail de drama excêntrico, ação espetacular e repleta de exageros, loucas histórias paralelas à principal, e imensos mini-jogos que te fazem querer passar o máximo de tempo possível a saborear cada jogo.
No entanto, apesar de um leque de características que definem a personalidade da série, ninguém imaginaria a Ryu Ga Gotoku a apresentar um dos mais fenomenais e colossais jogos produzidos nos últimos anos no Japão. Mesmo esperando o que habitualmente dá forma ao carisma de Like a Dragon, é impossível não ficar rendido e surpreendido com Infinite Wealth, que parece quase aproximar-se dos contornos épicos de um GTA em termos da ideia, são jogos cujo conteúdo os torna quase infinitos.
Like a Dragon: Infinite Wealth tornou-se num dos meus jogos favoritos de todos os tempos e o que torna tão especial é que a Ryu Ga Gotoku não se afastou da sua filosofia ou postura. Este jogo é tudo o que já conheces, mas elevado para uma nova escala, amplificado para novos volumes e ainda assim capaz de surpreender.
Intenso drama numa rotunda
Como é de esperar, Like a Dragon: Infinite Wealth aposta tudo num enorme drama japonês e mesmo que a viagem te leve para Honolulu, Hawaii, nos Estados Unidos, o sabor é distintamente nipónico. O método Ryu Ga Gotoku está aqui presente, com um novelo que capítulo a capítulo se desenrola de uma forma muito lenta e que facilmente faz sentir que tanta coisa acontece e ainda assim não ficaste a saber rigorosamente nada da trama principal.
É frequente ficar perante cutscenes que parecem totalmente fora do contexto, que as personagens passam por diversas situações e na verdade não se passa nada que realmente expanda a tua compreensão da trama geral. Não ficas a saber mais e é quase como andar às voltas numa rotunda e a saída sempre ali visível. É habitual na série, faz parte do plano para expandir gradualmente o drama, até tudo se ligar de formas que nem sequer imaginavas. É parte do charme e formas de reforçar que o importante é a jornada e não o objetivo.
Não me atrevo sequer a explicar o porquê de Kasuga viajar para o Hawaii, é pura loucura da Ryu Ga Gotoku Studio, nem sequer partilharei detalhes das atribulações que vive assim que chega à Honolulu, mas garanto que após aqueles longos períodos em que a história se arrasta, as conclusões valem a pena e aqueles momentos de puro ouro sobre interações e emoções humanas valem sempre o teu tempo.
Sistema de combate refinado
Um dos maiores prazeres de Infinite Wealth é constatar que o sistema de combate introduzido com Like a Dragon foi refinado. Muito do atrito que senti com algumas mecânicas e especificidades foi removido e dei por mim a pensar que esta é a versão que a Ryu Ga Gotoku queria alcançar na primeira tentativa, mas sem um ponto de partida não conseguia propriamente chegar à qualidade desejada.
Enquanto grande adepto de Judgment e Like a Dragon, não me importei nada com a transição para turnos (trouxe consigo uma inesperada e boa profundidade com o sistema de trabalhos, habilidades e equipamentos), mas Like a Dragon chegou com pequenos pontos que incomodam. Infinite Wealth resolveu isso e é muito mais divertido. São pequenas coisas, mas que fazem uma grande diferença para melhor.
Vais passar muito tempo a combater, especialmente a treinar para ficar à altura dos desafios (agora és avisado do nível recomendado antes de entrar num grandioso segmento de história no qual não podes treinar por XP) por isso o sistema tem de ser divertido. A Ryu Ga Gotoku permite agora que te movimentes com as personagens dentro de um círculo azul, o que torna possível atacar o alvo de forma a enviá-lo numa direção específica, o que possibilita um ataque extra de um aliado se estiver no seu caminho.
O novo elenco surge em classes diferentes, com ataques loucos, e é divertido explorar cada um deles, mas são as pequenas melhorias que se distinguem. A movimentação da personagem chega acompanhada de um ícone para informar que o ataque fará com que a personagem pegue num objeto para atacar, e não és atacado quando inicias um ataque e passas por um adversário. São exemplos especiais de refinamento num sistema de combate que regista pequenos pontos de atrito na sua versão inicial.
Atividades opcionais loucas debaixo das luzes de Honolulu
Por estas alturas (este é o nono jogo numerado na série e o décimo na linha principal) já é mais do que sabido que a Ryu Ga Gotoku povoa os seus jogos com uma quantidade absurda de conteúdo opcional, desde aquelas viciantes missões extra nas quais ficas em situações cómicas aos mini-jogos e claro, clássicos da Sega. No entanto, apesar disto já ser uma parte da personalidade de Like a Dragon, não o considero que deve ser um dado adquirido, deve ser celebrado a cada nova entrada.
Com as luzes de Honolulu a servir como palco para diversas novidades, das quais falarei em seguida porque merecem um espaço próprio de tão fenomenais que são, dedico um pouco do texto para aplaudir o regresso das missões opcionais repletas de desventuras com Ichiban, especialmente porque muitas expandem o gameplay com situações e mecânicas que estão presentes nesses segmentos (Kasuga como duplo num filme de ação a correr pelas ruas). O Karaoke está de volta com aquelas cutscenes de acompanhamento que são um mimo, tens dados, a nova app de encontros para encontrar parceiros românticos e os clássicos Dreamcast da Sega.
Virtua Fighter 3tb em HD a 60fps, tal como SpikeOut, um clássico perdido da Sega lançado nas arcadas e agora em consolas, é a primeira vez para a versão original de SpikeOut, e ainda Sega Bass Fishing, são tesouros da Sega que merecem imenso carinho. Jogar a campanha de Like a Dragon: Infinite Wealth ocupa mais de 70 horas, mas o relógio facilmente vai além das 100 horas com tanto fenomenal conteúdo opcional. Também não posso deixar de referir Crazy Eats, um mini-jogo de entrega inspirado em Crazy Taxi no qual pedalas por uma pequena parte da cidade para entregar comida e ganhar recompensas. A Ryu Ga Gotoku foi muito além do que era esperado e entregou um colosso que servirá como referência futura.
Dondoko Island e Sujimons
Like a Dragon: Infinite Wealth é um jogo de escala colossal e está repleto de conteúdo com enorme qualidade, de tal forma que dou por mim a pensar que muito dele poderia ser apresentado como expansões pagas e justificariam esse estatuto. Especialmente Dondoko Island e tudo o que foi feito em torno dos Sujimons, de tal forma bem pensados e divertidos que quase parecem conteúdo que habitualmente chegaria como expansão.
Dondoko Island é uma sátira a Animal Crossing, através da qual Ichiban fica encarregue de recuperar o brilho de uma ilha. Com o teu contributo vai passar de local decrépito para um autêntico paraíso, e as possibilidades são imensas. Terás de construir estabelecimentos e atrações, limpar os vários locais e trabalhar para devolver o esplendor a esta ilha. Também tem um elemento de gestão de negócio e é tão fácil perder horas somente em Dondoko Island. O tempo que passas na ilha, com todo o gosto, é maior do que muitos jogos completos.
Além disso, este Like a Dragon: Infinite Wealth deixa-te viver uma aventura Pokémon em versão Ryu Ga Gotoku, como quem diz, repleta de disparate. Existem diversos humanos caricatos e absurdos que são considerados Sujimons e terás de os apanhar a todos. Existe uma liga Sujimon, Professor Sujimon e toda uma narrativa em torno disto. Além de sistema gacha Sujimon, terás outros treinadores para enfrentar com estes humanos e criaturas excêntricas. Vibra com o humor característico da série e repito, parece um conteúdo que outras empresas lançariam como uma expansão paga mas que já se encontra disponível.
Um momento Kodak da Sega
Like a Dragon: Infinite Wealth contribuiu imenso para reforçar a fenomenal sensação que estamos a passar por algumas das mais empolgantes semanas na história dos videojogos, fora dos elétricos meses de final de ano. Entre Persona 3 Reload e agora este majestoso esforço da Ryu Ga Gotoku Studio, as produções japonesas mostram um brilhante engenho no equilíbrio entre preservação da sua essência, expansão de escalas e refinamento para atrair mais audiência. É um dos melhores jogos japoneses que já joguei e sem dúvida o melhor esforço deste estúdio.
Prós: | Contras: |
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