Little Inferno - Análise
Lareira amiga do ambiente.
O que há de mais agradável na cena independente desta indústria é a imensa quantidade de conceitos originais e criativos que podemos encontrar. Tão grande e diversificada que não raras vezes nos sentimos dispersos, sem saber bem o que escolher. Sendo um mercado dado a menos lucros, é natural que à falta de orçamentos para a produção, muitos dos laboriosos engenheiros recorram à originalidade para encontrarem consumidores para os seus jogos.
Little Inferno é um dos jogos que faz parte desse argumento. Desenvolvido pela Tomorrow Corporation, que já nos trouxe World of Goo e Henry Hatsworth, chega à Nintendo Wii U, aproveitando o seu lançamento para ganhar mais alguma visibilidade e destaque numa eShop que vai ganhando novidades todas as semanas. Anteriormente disponível para outras plataformas como o PC e Mac, não estamos perante uma completa novidade nesta versão que agora chega à WiiU. Mas há pontos especialmente relevantes nesta edição. A adaptação ao ecrã tátil do GamePad cria uma nova conveniência e imediata interação, e se a isso aliarmos a hipótese de se jogar no ecrã do GamePad, esquecendo o ecrã do televisor, podemos entrar de corpo e alma nesta lareira especialmente portátil, que nos leva a esquecer do frio e chuva que fazem lá fora. Um jogo sazonal, portanto.
Em Little Inferno somos convidados a queimar uma parafernália de coisas, como quem faz um “bonfire”. Nesta lareira incomum podemo-nos livrar de objetos e coisas surreais. O objetivo é fazer uma boa e quente fogueira. Tudo o que estiver à distância de um toque serve de combustível. Não há mais regras, nem objetivos particulares a cumprir, senão a possibilidade de efetuarmos combinações com certas coisas. De resto, tudo o que sabemos sobre este pequeno inferno, é que serve gerar calor para um par de pequenitos. Sem saber quando isto se passa, temos apenas a informação de que no exterior a neve cai incessantemente. Se quisermos que elas se conservem quentes, temos de manter o fogo na lareira.
Podendo ser jogado através do GamePad ou do comando Wii remote, é através da primeira opção que podemos usar o ecrã tátil, operando todos os processos de escolha com o simples uso do dedo, ou recorrendo à caneta stylus para mais alguma precisão. No centro do vosso ecrã está uma lareira, com uma espécie de carranca de ferro ao meio, que em vez de uma careta, parece sofrer de um efeito de encantamento, sempre com um sorriso inamovível, haja muito ou pouco lume. Na parte inferior do ecrã dispomos de um ícone que nos dá a possibilidade de escolher o que queremos queimar. No começo do jogo só uma divisão de objetos se encontra disponível, mas é o suficiente para começar a atirar coisas.
O processo de interação é bastante eficiente. Depois de arrastarmos os objetos para o centro da lareira, pegamos-lhe fogo. Para tal basta tocar com o dedo sobre a lareira, despertando uma chama semelhante à de um fósforo. Não há limite para aquilo que queremos queimar. O gozo está juntar uma lata de refrigerante, com uma bomba atómica, um busto de uma mulher viking e um esquilo que sopra ar por um tubo. O resultado é uma explosão seguida de um fogo forte, e enquanto as coisas ardem, podemos movimentá-las. Do seu interior saem moedas. Tocando nelas, há um valor que entra para o nosso saldo e que nos permite continuar a comprar mais coisas, pois todos os objetos têm um valor.
"Little Inferno não é um jogo particularmente recheado de grandes visuais. Vive sobretudo de pequenos detalhes que traduzem cuidado."
Quando progridem entre as listas de objetos disponíveis para queimar, o preço vai aumentando. Com efeito, existe uma limitação em termos do número de objetos que podemos atirar à fogueira, de uma só vez. Podemos comprar mais espaços para colocar objetos, mas isso custa dinheiro. Além disso, a disponibilidade de um televisor ou de um outro objeto mais caro, não é imediata. Há sempre um tempo de carregamento até que o bem que queremos queimar fique novamente disponível para compra.
O único objetivo que existe no jogo é a existência de combinações, uma espécie de “receita” para obter mais catálogos de coisas para queimar. Conjugando, por exemplo, figuras que possuem dentaduras terríveis, obtemos uma combinação. Para acertar nas coisas exigidas, há que prestar atenção ao nome da combinação. Nalguns casos trata-se de ler nas entrelinhas para descobrirmos o que é que devemos combinar. Se encontrarem dificuldades, não estão obrigados a efetuar todas as combinações por ordem. Podem saltar para os combos seguintes. A extensão das combinações é maior do que os catálogos de coisas para queimar. Para chegarem ao final do jogo, não terão de completar os combos todos, ainda que não leve muito tempo até terem os catálogos todos disponíveis, que é quando começam a sentir a limitação do jogo.
Quando têm sucesso na combinação de coisas queimadas, são-vos remetidas cartas. Umas vezes devem juntar objetos pedidos, sendo recompensados futuramente, outras vezes servem como prolongamento da estreita narrativa. O conteúdo bizarro de algumas missivas confunde-se também com a originalidade do jogo, mas suscitam sempre curiosidade e podem ser queimadas depois de lidas.
Em termos estéticos, Little Inferno não é um jogo particularmente recheado de grandes visuais. Vive sobretudo de pequenos detalhes que traduzem cuidado, como na descrição dos objetos e nos efeitos do fogo provocados pela combinação das coisas a arder, sendo bastante competente. As reações ao toque com o dedo através do GamePad encontram resposta rápida, sem atrasos ou problemas. A atmosfera sonora traz-nos algumas trilhas minimalistas, suaves e quentes, em ótima sintonia com o núcleo do jogo. O maior problema do jogo é a sua escassa duração. O número total de combinações, em 140, poderá alargar a longevidade, mas é sempre uma experiência bastante limitada e de utilidade circunscrita. Além disso, o preço ainda é significativo e pode afastar alguns utilizadores em função da simplicidade do conceito. Apesar disso, Little Inferno é um jogo muito agradável, especialmente pela interface acessível e originalidade do conceito. Como diz a letra Ring of Fire de Johnny Cash, “and it burns, burns, burns”.