LocoRoco Remastered - Análise
Rechonchuda bola amarela.
Na recente PlayStation Experience a Sony anunciou a remasterização de 3 jogos: Parappa the Rapper, Patapon e LocoRoco. As razões na base desta selecção não foram explicadas, mas poderá eventualmente estar ligado ao regresso de Parappa, num novo jogo a operar como "crossover" com Gitaroo Man. Quanto a Patapon e LocoRoco não se perspectiva por enquanto o seu regresso, embora sejam dois jogos marcantes do legado PlayStation Portable (PSP), ambas produções do Sony Studio.
Estes dois jogos foram exemplos da boa criatividade e originalidade que a consola portátil da Sony recebeu, mesmo que os seus maiores êxitos e contributos para as mais de 80 milhões de consolas vendidas, tenham origem no ocidente. Na verdade, LocoRoco recebeu até uma grande fatia em termos de publicidade, assim como campanhas por todo o mundo, embora não seja um dos mais vendidos para a PSP. Lançado em 2006, abriu a porta para um conjunto de sequelas e evoluções, assim como outros jogos, entre os quais está Patapon.
LocoRoco é daquelas experiências simples e acessíveis, sem grandes mecânicas complexas e guias exaustivos. O jogo tem uma base do tipo arcade, adequada a proporcionar uma interacção imediata, sendo isso que acaba por ditar a diferença e explicar porque viria a receber sequelas e diferentes versões, entre as quais uma para o mercado "mobile".
A estética do jogo é quase primária, através de desenhos muito básicos mas dotados de grande personalidade. As cores são muito contrastantes, apelativas, mas ao mesmo tempo há todo um sentido e organização enquanto jogo de puzzle e plataformas mais complexo do que a uma primeira vista podemos imaginar. Lembram-se de Katamari Damacy, no qual controlavam uma bola que à medida que rolava e chocava com objectos se colava a eles ficando cada vez maior até agarrar autênticas cidades? LocoRoco proporciona igualmente um conceito invulgar e original, mas mais simples. Ao invés de controlarem uma personagem, cabe-vos controlar o mundo, inclinando-o para a direita e para a esquerda de modo a fazer rolar LocoRoco, a personagem de aspecto circular e gelatinoso que supostamente irá eliminar os Mojas, um exército alienígena que veio perturbar aquele outrora pacífico e tranquilo mundo.
Ao longo de cinco mundos divididos por oito níveis, LocoRoco terá múltiplos desafios pela frente, assim como vários objectivos a realizar, numa prestação que é avaliada depois de atingida a meta. A história não é apresentada na forma mais convencional e ao princípio temos até alguma dificuldade em perceber como aquilo se arruma, uma vez que se trata de usar aquele mundo como instrumento de jogo mas ao mesmo tempo descobrir as suas peculiaridades e sobre como podemos tirar proveito de LocoRoco.
A primeira nota a ter em conta é que esta personagem começa pequena, do tamanho de uma pequena bola gelatinosa que cabe na palma da nossa mão, mas que depressa aumenta de volume, ao alimentar-se de bagos que vai ingerindo ao longo do nível, assim como certos frutos. Este aumento de tamanho exponencial produz efeitos ao nível da jogabilidade, sendo necessário atentar num indicador fixo no canto superior esquerdo do ecrã que nos diz quantos LocoRocos temos. Através de uma habilidade especial (pressionando o botão círculo), a personagem desmultiplica-se em bolas amarelas, cada uma com autonomia para rolar livremente. É a partir daqui que os puzzles começam a ganhar consistência e profundidade.
Em certas passagens temos que desmultiplicar a personagem, de modo a fazer passar as pequenas bolas por uma zona estreita. Outras vezes é necessário um conjunto de dez ou mais, para que em voz uníssona produzam um determinado efeito musical, terminando o nível ou activando uma espécie de elevador que dá acesso à plataforma seguinte. É importante recolher o maior número de bagos e tornar LocoRoco cada vez mais "obeso" e pesado. A física está sempre presente e isso não se fica apenas por vermos rolar a personagem mas em sacudir a terra de modo a que esta se projecte no ar. A distância e direcção da projecção dependem da melhor articulação entre inclinação (R1 ou L1) e impulso (L1 e R1 em simultâneo).
No jogo original, os comandos por movimentos não eram uma opção, sendo agora possíveis no Dual Shock 4, embora a precisão dos botões nas costas do comando seja um pouco mais eficaz nas situações de maior conflito. O grau de dificuldade é moderado e em termos gerais podem completar o jogo ao fim de algumas horas, mesmo que algumas barreiras e situações delicadas possam forçar a repetição, lá para diante. No final de cada nível são revelados alguns dados, nomeadamente o total de LocoRocos acumulados e coleccionáveis. Descobrir percursos secretos e abrir pequenos tesouros requer mais alguma dedicação, pelo que a longevidade depende do tempo que dediquem a explorar todos os níveis.
À medida que penetramos a fundo no jogo percebemos que se trata de uma produção feita para um ecrã de consola portátil. Num ecrã de generosas dimensões tudo nos parece muito grande e com poucos pormenores, adequado por isso para um pequeno ecrã "wide" como o da PSP. No entanto as cores ganham mais algum reforço nesta passagem para a alta definição, ainda que no essencial da jogabilidade nada tenha sido alterado. Talvez mais interessante seja observar a viabilidade e manutenção do conceito, mais de dez anos depois. Se não jogaram o original é provável que sintam na mesma admiração pela arte, música e design. Sem gráficos realistas, corre fluidamente na PS4, numa resolução de 1080p e a 4K no moelo Pro, mas é o design, a música e a arte que sobressaem e se revelam intemporais.
Joguei e tenho o original, mas tornou-se numa experiência interessante voltar a percorrer os níveis e dar conta de que conceitos simples e eficazes podem muito bem permanecer no tempo sem perder qualidade, envelhecendo bem (penso em Tetris e Pac-Man nos exemplos mais destacados). Pena que neste quadro colorido 2D, a dificuldade conheça um incremento só nos mundos mais adiantados: os primeiros são fáceis de resolver, embora a 100% seja um outro desafio. Pena também que a Sony tenha deixado passar a oportunidade para incluir as sequelas e outras versões, no que seria uma remasterização mais dilatada em conteúdos e tentadora em especial para quem jogou o original mas falhou os restantes. A ausência de novos elementos também retira algum entusiasmo no momento da escolha. Até que ponto se justifica esta remasterização, sem mais acrescentos ou novidades, é uma questão que se coloca inevitavelmente. O original foi um produto do seu tempo, um exclusivo portátil, mas apesar do interesse em voltar a jogar e descobrir, só mesmo se não tiveram a oportunidade de experimentar é que valerá a pena gastar os 14 euros, que é quanto a Sony pede por esta versão. Não levará muito tempo até completarem os 5 mundos mas tão cedo não esquecerão esta rechonchuda bola amarela.