Metal Gear Solid 3: Snake Eater 3D - Análise
Espionagem, sedução, selva e uma guerra nuclear para evitar.
Tudo o que fez de Snake Eater uma referencia para a série está lá; as cenas cinematográficas, os Cobra (discípulos de The Boss que são uma espécie de soldados modificados, treinados em torno de certas qualidades que os distinguem) e a dimensão do enredo envolvo em reviravoltas que culmina num final dramático. Snake Eater oferece o melhor de Kojima e há tanto "fan service" que se volta a descobrir com o mesmo prazer de há oito anos.
Quem ainda não acabou a versão PS2 de Snake Eater ou então a mais recente compilação em HD, encontra nesta versão exclusiva para a 3DS a derradeira oportunidade para voltar ao tema da guerra fria e descobrir a origem do "Big Boss". A temática ligada aos desenvolvimentos depois da segunda grande guerra, entre Rússia e Estados Unidos da América é o móbil perfeito para histórias de espiões, romance e desfechos comoventes e dramáticos. Neste jogo, Kojima serve-se da História para criar um novo acontecimento narrativo que tem origem numa arriscada missão. Naked Snake, assim se chama o nosso herói, deverá entrar em território Soviético e resgatar um cientista chamado Sokolov que estaria próximo de proporcionar aos russos uma arma com imenso poder de destruição.
Empurrado por uma iniciativa secreta, Snake terá de cumprir uma tarefa mais complicada do que o objetivo inicialmente proposto, à medida que sucessivos acontecimentos modificam o que lhe é pedido e a tensão entre soviéticos e americanos, ao mais alto nível, é crescente. Enquanto que as relações diplomáticas entre os dois estados com poder para usar armas nucleares vai chegando a um ponto de ebulição, há uma dimensão pessoal e íntima de Snake com protagonistas que surgem ao longo do jogo. No entanto e ao contrário do quarto episódio que derivou completamente em termos narrativos, a dimensão do enredo de Snake Eater está focada neste conflito em particular, principalmente quando sabemos que a mentora de Snake - "The Boss" - passou para o lado dos soviéticos, apostada em despoletar.
Até ao notável final do jogo (a derradeira batalha oferece um dos palcos que mais me impressionou até hoje) o argumento nunca se afasta em derivações desnecessárias do enredo central. Tudo é cruzado e apresentado com consistência em forma cinematográfica. Não esperem cenas tão dilatadas, ainda que estas possam abundar. Através do rádio há uma outra dimensão de conversas, típico chat. Podem sempre passar à frente se não quiserem escutar mais alguns desenvolvimentos que não são essenciais para perceber o principal da história.
A colocação dos Cobra como "bosses" estratégicos ao longo do jogo, cada um com características especiais, oferece uma das mais espetaculares sequências de combate. Alguns ficam marcados pela facilidade com que são vencidos, mas para cada um existe uma simbologia e significado que vão deixando marcas até culminarem num combate especial. Em termos de carisma poderemos retirar daqui alguns dos mais notáveis oponentes da série.
Para além disso, Snake Eater oferece um cenário bem diferente dos jogos anteriores. Enquanto espaço dominante, a selva transpira sons de toda a espécie. Mas nem só de ambientes verdes e acastanhados vive este jogo. Pelo meio há instalações militares, laboratórios e secções fortificadas onde encontramos toda uma maquinaria bélica que faz as delicias dos fãs. Mas a selva é o local chave para proporcionar pântanos, percursos alternativos, esconderijos e um conjunto de criaturas naturais que obstruem o caminho como cobras, jacarés e cães danados.
A conversão do jogo para a 3DS parece ter sido reforçada no campo sonoro. Isso é particularmente detetado quando avançamos por uma área guardada por soldados inimigos e escutamos todos os sons ao redor. Dos pássaros, aos batráquios, passando pelas passadas dos inimigos, Snake Eater vive do som e para o som. Qualquer movimento exagerado pode despertar a atenção dos adversários, que movidos pelo alerta aproximam-se do ponto de origem do som. Muitas vezes é o primeiro passo para fazer soar o alarme e é nessa altura que devemos agir da melhor forma.
O ecrã secundário assume uma função de mapa, de ordenamento do equipamento e permite gerir funções vitais do nosso protagonista. Sem qualquer auxílio na selva, estamos lá por nossa conta, o que significa que se tivermos ferimentos teremos de os curar usando uma série de objetos que podemos encontrar nos mais variados locais. A gestão das armas, munições e outros acessórios é igualmente operada pelo ecrã táctil. Sempre à distancia de um dedo fazemos todas as alterações necessárias.
Há oito anos Snake Eater foi um jogo marcante. Uma experiência que rapidamente se diferenciou das restantes e que nos revelou o melhor de Kojima. O aproveitamento da guerra fria enquanto ponto de partida para revelar muito sobre personagens como Big Boss e o desfecho com "The Boss" foi notável. Só pelo argumento valerá a pena voltar a chegar ao fim deste jogo, ainda que o seu domínio não seja tão simples como as restantes versões e tenha uma curva de aprendizagem mais dilatada. Alguns problemas no sistema de pontaria, quebras de "frame rate" e comandos da personagem podem ser mais evidentes em certas porções do jogo, mas não chegam a resultar em impedimento ou grande perda de valor (salvo se jogarem sem o segundo botão analógico). Snake Eater 3D é mais uma opção muito valorosa para os fãs de Snake.