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Metal Gear Solid HD Collection - Análise

Dois dos melhores da última geração.

Metal Gear é inegavelmente uma das séries mais adoradas da indústria dos videojogos, assim como Hideo Kojima é considerado por muitos como uma das mentes mais geniais ao serviço do nosso querido media. Cada um dos jogos da série foi marcante na sua época, mas mais do que isso, conseguiu apresentar sempre algum tipo de evolução, enquanto respeitou sempre as suas raízes de ação centrada no elemento "stealth".

A série começou com Metal Gear em 1987 na MSX2, mas a versão moderna da série é tradicionalmente relacionada com o lançamento de Metal Gear Solid em 1998 para a Playstation. A ordem cronológica dos acontecimentos não é coincidente com a ordem de lançamento dos jogos da série, mas existem interligações entre todos eles, formando um dos tramas mais badalados e aplaudidos na história dos videojogos.

Não foi por isso estranho, quando aproveitando a celebração dos 25 anos da série, a Konami anunciou uma coleção remasterizada para as consolas de sala atuais, que como sabem, apesar de não disponibilizar o primeiro Metal Gear Solid, oferece os dois jogos seguintes, MGS: Sons of Liberty e MGS: Snake Eater e ainda MGS: Peace Walker que saiu originalmente na PSP.

Ora, provavelmente devido a algum tipo de limitação da Vita quando comparada com as consolas de sala, a transição para formato de bolso sofreu a amputação de Peace Walker, contando apenas com a sua própria versão dos outros dois jogos encontrados na coleção HD original. Esta omissão não representa uma grande perda de valor, mas é algo estranho, pois trata-se do único dos três originalmente desenvolvido para um formato portátil.

Para começar, deixem-me dizer que aconselho vivamente jogarem Metal Gear Solid antes de pensarem mergulhar nesta coleção. Não quero dizer com isto que Sons of Liberty não pode ser apreciado sem jogar o título anterior, mas para apreciar convenientemente a narrativa, é melhor entrar nesta aventura com algum contexto, os jogos da série já deixam imensas "pontas soltas" por si só.

A qualidade geral dos dois jogos não está em causa, são dois dos maiores clássicos da geração anterior. Assim, o objetivo desta análise não é tanto julgar o valor dos jogos, mas mais da conversão para a Vita e em que medida a experiência chega da forma mais fiel possível ao jogador.

Começando por Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty, originalmente lançado na Playstation 2, chega a esta coleção HD na sua versão Substance, com todos os extras, incluindo as célebres VR missions onde podemos por as nossas habilidades à prova. No geral continua uma experiência intemporal, centrada na componente de espionagem tática, onde existe sempre um propósito para a ação. Este é aliás um dos aspetos que distingue Metal Gear Solid das montanhas de shooters genéricos que existem no mercado, a força do contexto, das nossas motivações, da forma como o jogo relaciona o jogador com os eventos.

E Kojima não faz por menos neste campo, durante a aventura existe quase tanto de segmentos com diálogos e "cutscenes", como de gameplay. Se são daqueles jogadores que passam estes momentos à frente, esta não é a franquia para vocês. Sons of Liberty é ainda assim, talvez o mais confuso da série, com imensas referências de difícil interpretação, principalmente para alguém completamente novo na franquia.

Em termos visuais a transição de MGS: Sons of Liberty para a Vita está bem conseguida, mas a sua geometria básica e texturas enevoadas revelam já alguma idade sem grande apelo. Adicionalmente, o esquema de controlos que na altura foi revolucionário, hoje poderá ser estranho para os jogadores, habituados aos jogos modernos de ação na terceira pessoa onde encontram muita mais liberdade. Passamos o tempo todo a alternar entre uma vista de cima durante a navegação, e a primeira pessoa quando queremos disparar, o que infelizmente é apenas possível se estivermos parados.

O jogo utiliza ainda o ecrã tátil da consola no lugar dos botões de ombro para alternar entre as armas, obrigando o jogador a tirar o polegar dos botões físicos para o fazer deslizar pelo limite do ecrã até à arma correta. Por mais charmoso que seja a utilização de um ecrã táctil, existe perda de exatidão, e obriga-nos a ajustar a posição da mão segurando a consola, por outras palavras, quebra a "sintonização" com a experiência.

Metal Gear Solid 3: Snake Eater foi na altura do seu lançamento publicitado por levar a Playstation 2 ao seu limite, não sei se isto corresponde exatamente à verdade, sei sim que foi um dos melhores da respetiva geração de consolas, e é sem dúvida um dos videojogos mais bem escritos que conheço. Cronologicamente é o primeiro jogo da série, inspirado num período conturbado da humanidade, em plena guerra fria onde o perigo de uma guerra nuclear foi assustadoramente real.

"Snake Eater foi um dos melhores da respetiva geração de consolas, e é sem dúvida um dos videojogos mais bem escritos que conheço."

Snake Eater chega à Vita na sua versão Subsistance, que como novidade principal, trouxe consigo um elemento de sobrevivência bem inscrito no seu gameplay. Durante a aventura, Snake tem que fazer coisas como caçar para comer, aplicar ligaduras manualmente e até cozer os próprios golpes para parar as hemorragias. O sistema de camuflagem foi também uma das grandes novidades em Snake Eater, com o jogo a abandonar os ambientes fechados que caracterizaram a série, colocando o jogador em plena selva soviética, com grande parte dos cenários em espaço aberto apenas com a vegetação envolvente para nos dar cobertura.

O jogo continua também com uma forte componente cinematográfica, com montes de diálogos e "cutscenes" que cultivam uma multidimensionalidade impressionante nas personagens. Com o foco numa iminente catástrofe nuclear, o jogo mantém ainda várias relações entre Snake e outras personagens, sempre com imensa credibilidade, de onde se destaca claro, a relação entre Snake e a sua mentora The Boss.

O esquema de controlos é idêntico ao que acontece em Sons of Liberty, mas em termos visuais a transição para o fantástico ecrã OLED da Vita foi muito mais suave. Existe muito mais detalhe nos cenários, algo exigível num ambiente selvagem, os segmentos cinematográficos têm texturas mais fiéis, e as animações das personagens em particular são menos robóticas quando comparadas com as do seu irmão mais novo.

Acaba por ser curioso chamar a esta coleção uma "HD collection", tendo em conta que o ecrã da Vita nem sequer suporta alta definição, não tenciono perder muito tempo com os aspetos técnicos desta conversão, para isso podem ler a análise tecnológica publicada aqui na Eurogamer na passada semana. É sim verdade que no final do dia, esta coleção tem menos valor do que a versão para as consolas de sala, e cabe assim a vocês decidirem se o formato portátil compensa a falta de Peace Walker e uma resolução e framerates menores do que na PS3 ou Xbox 3630.

Pessoalmente julgo que Metal Gear Solid 3: Snake Eater justifica por si só o preço do jogo, e no geral, a quantidade de conteúdo presente nesta coleção acaba por nos fazer esquecer as omissões desta versão. Como bónus, esta versão da Vita traz ainda os dois primeiros jogos da série publicados na MSX, Metal Gear e Metal Gear 2: Solid Snake. São títulos de outros tempos, mas onde podemos ver já algumas das características que tão bem conhecemos da série.

Se nunca jogaram algum destes dois jogos e têm uma Vita, então esta coleção é praticamente obrigatória. Para os que conhecem, também é uma excelente oportunidade para reviver dois dos melhores jogos das últimas décadas, e ainda por cima em formato de bolso.

8 / 10

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