Miasma Chronicles - A luva do poder
É a minha vez de jogar.
Proveniente do estúdio The Bearded Ladies, que nos entregou trabalhos como Mutant Year Zero e Corruption 2029, chega-nos agora Miasma Chronicles, mais um RPG tático futurista por turnos que nos transporta para um mundo pós-apocalíptico, particularmente num Estados Unidos da América despedaçado por uma força devastadora conhecida apenas como o "Miasma".
A premissa aqui centra-se num personagem principal, Elvis, e seus companheiros de jornada. Numa narrativa envolta em mistérios, Elvis torna-se no centro de todos os eventos. Inicialmente a sua demanda é a procura da sua mãe, mas à medida que vamos desenrolando o novelo deparamo-nos com uma amplitude de acontecimentos que suplantam todo o universo do mundo pequeno em que Elvis vivia. Com uma luva especial deixada por sua mãe antes de partir, vai gradualmente adquirir conhecimentos e poderes que o levam cada vez mais perto da verdade e de quem ele realmente é.
RPG tático por turnos
É esta a receita para esta nova aposta da The Bearded Ladies, voltam a entregar um trabalho após dois lançamentos dentro do mesmo género. Debruçado sobre uma jogabilidade por turnos, onde cada personagem possui os seus pontos fortes e obviamente fraquezas. Temos a possibilidade de envergar duas armas, habilidades, poderes e até artigos que lhe conferem vantagens (escudo, mais energia, etc). A abordagem a cada cenário é sempre necessitada de uma visualização da nossa equipa, se estão com toda a saúde e até se possuem a energia recarregada para a aplicação em combate de determinadas habilidades.
Inicialmente temos apenas dois possíveis elementos, Elvis e o seu amigo Diggs, um robot que ficou a tomar conta dele quando a sua mãe partiu. Depois com o desenrolar do enredo, juntam-se a nós mais personagens, com habilidades e capacidades próprias. Nessa altura podemos escolher os elementos que entram em confronto contra os inimigos, podendo ser num máximo de três.
As batalhas em si são um desafio, principalmente quando se joga em dificuldades mais elevadas. Temos de escolher muito bem as nossas ações, estudar o mapa e a localização dos inimigos. Há também que averiguar as fraquezas do adversário e os seus pontos fortes, escolher com o que atacar. É uma dança estratégica que resulta bem quando se fazem as escolhas corretas, mas que se torna rapidamente numa verdadeira frustração quando vemos a nossa equipa a ser destruída logo após os turnos iniciais. Dei por mim a carregar várias vezes gravações anteriores para que dessa forma pudesse alterar as escolhas e inverter o rumo dos embates.
Momentos interessantes que esbarram na narrativa
Nesta dança de estratégias dei por mim a obter feedback recompensador, a sentir que estava a dominar a situação, mas noutras ocasiões descortinei deficiências nos confrontos. Existem probabilidades de se conseguir atingir o inimigo, conforme a sua cobertura e local onde se encontra a respetiva cobertura dada pelos elementos do mapa, mas notei que mesmo quando as minhas unidades estão com a melhor cobertura possível há vantagem dos inimigos da IA. Numa cobertura onde existe apenas 20% de probabilidade em acertar no alvo, raramente os meus elementos o conseguem, mas essa mesma probabilidade não é consistente quando o inimigo nos ataca, os 20% de probabilidade não são reais quando somos nós o alvo a atingir. São estas inconsistências que me fizeram confusão e a questionar se está implementada uma certa artificialidade nos combates.
Nas possibilidades propriamente ditas ligadas à jogabilidade, temos personagens que são apetrechados com as referidas armas de fogo, granadas, medicamentos, habilidades, armadura e poderes ligados diretamente ao Miasma através das luvas especiais. Todas estas mecânicas são configuráveis. Temos apetrechos para as armas, como carregadores especiais e miras, para alterar a eficácia das mesmas. Os complementos são adquiridos nos vendedores que vamos encontrando pelos diferentes locais, em troca de créditos em forma de Plástico encontrado nos mapas e ao completar missões.
Artigos são tão caros para os tão poucos créditos que se consegue encontrar.
A economia do jogo é outro ponto que deveria estar mais equilibrado. Os recursos são encontrados pelos mapas, há que vasculhar cada recanto. Podemos encontrar artigos para usar nos combates bem como o tão importante Plástico. Inicialmente, nas primeiras horas, há uma enorme falta de créditos para que se consiga adquirir os artigos que estão nos vendedores. Um dos vendedores iniciais deixa até de fazer sentido, já que não temos créditos para comprar muitas das coisas que ele tem para vender, não entendi como determinados artigos são tão caros para os tão poucos créditos que se consegue encontrar na parte inicial da jornada. A economia não está bem afinada.
Problemas de stutter e alguns bugs
Tecnicamente, falo agora dos visuais, é decente e cumpre. Não é um estado de arte, há que ser realista a observar que é um pequeno estúdio. Mas não impediu de ser apelativo e cumprir perfeitamente com a proposta. São cenários convincentes e em certa medida bem construídos. Não posso deixar de salientar a presença do tão incomodativo stutter que tem assolado os jogos, principalmente no PC onde foi jogado para esta análise. O Unreal Engine é conhecido por esse problema, Miasma Chronicles é mais um para a lista. Temos muitas paragens, algumas graves que cortam a experiência por completo. Em algumas cinemáticas as texturas demoram a carregar. Um reparo também para a presença de alguns bugs, como personagens sem as armas nas mãos, outras a deslizar pelo mapa, ocasiões em que são colocados dentro de estruturas não acessíveis, entre outros.
É esta a proposta e apresentação de Miasma Chronicles, já amadurecida pelos trabalhos anteriores do estúdio. Não acrescenta muito aos anteriores, peca bastante por uma narrativa desprovida de interesse, apesar do tema ser rico e poder proporcionar uma aventura para ficar na memória. Os eventos que acompanham as nossas missões são demasiadas vezes deslocados de interesse, não agarram, não conseguem que nos preocupemos com os personagens e com o que lhes vai acontecer. Estas questões são agravadas pelas cinemáticas de qualidade questionável, são em tempo real e com o motor do jogo, mas perde-se muito devido às robotizadas expressões faciais e lacunas nos movimentos corporais. O final também me desapontou, não chegou à apoteose necessária.
Aquém das propostas anterior do estúdio
Miasma Chronicles foi a minha primeira experiência dos trabalhos deste estúdio, em certa medida uma desilusão depois de saber o quão bom foi Mutant Year Zero. É um facto que tem os seus momentos, mas são insuficientes para convencer e o destacar como uma forma de se caminhar no aperfeiçoamento de que já foi alcançado. Se gostas destes jogos vais ter aqui um desafio interessante, mas ficas avisado das lacunas evidentes em vários pontos fundamentais.
Prós: | Contras: |
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