Passar para o conteúdo principal

Miitopia review - O social da Nintendo

Pleno de humor mas leve em mecânicas.

Uma experiência de role play simplificada e automatizada, que tem o seu maior encanto no social e no caricato provocado pelos Mii.

É impossível olhar para Miitopia sem conhecer todo ou pelo menos boa parte do legado deixado por esse já antigo avatar criado pela Nintendo, em 2006. O Mii funcionou como o nosso avatar do jogo. Quando a Nintendo lançou a Wii, no final de 2006, os Miis surgiram como uma espécie de caricatura do nosso rosto. Mais parecendo um sempre em pé, com braços, pernas e troncos cilíndricos, só o rosto e o cabelo ofereciam verdadeiros sinais distintivos, embora fossem todos muito iguais. O Mii marcou a primeira década do milénio e prosseguiu pela segunda década, tanto na 3DS como na Wii U. A Nintendo criou uma série de serviços como o Miiverse ou StreetPass, possibilitando um intercâmbio entre os jogadores sob as mais diferentes formas.

Nalguns casos através de pequenos jogos do tipo role play, como na Mii Plaza, ou por via de desenhos no Miiverse (aplicativo que serviu a 3DS e a Wii U), Miis de todo o mundo partilhavam dados em encontros casuais nos aeroportos e noutras paragens onde havia alguém com a sua 3DS em modo activo ou descanso. Esses serviços revelam grande parte do serviço lan da Nintendo durante a década passada, até que a Nintendo lançou Miitopia, em 2017, como o culminar dessas interacções sociais dentro de um jogo de role play, a aventura dos Mii, que é também a nossa aventura, do jogador e daqueles com quem interagia e que podiam entrar em cena, enquanto personagens.

O sucesso de Miitopia não residia particularmente nas mecânicas enquanto jogo de role play. É de facto uma aventura que se ergue sob alguma simplicidade, tal como o Mii, de traços simples, mas eficaz nesse ensejo de polarizar o social, uma espécie de festim entre os Miis que transportávamos na consola, partindo daqueles role play tão nipónicos do final dos anos oitenta, onde combates por turnos se coadunam com traços humorísticos e o caricato da ocasião. A história nem sequer é das mais marcantes, suficiente apenas para proporcionar algumas risadas dentro desse tal convívio. Na realidade, é um jogo elaborado e a evolução "Ultimate", para usarmos o termo, do Mii Plaza. Com a entrada em cena da Switch e o crepúsculo da 3DS na mudança de década, é com alguma nostalgia e sentido de revivalismo que vemos Miitopia chegar à Switch, ao mesmo tempo que para muitos dos consumidores da plataforma, contactam pela primeira vez com o Mii, o nosso Mii enquanto personagem.

Level up

Coligação de forças contra o Dark Lord

Se tiveram a oportunidade de jogar a demonstração disponível na eShop, à semelhança do que acontece com outros lançamentos, a Nintendo permite a transferência do save para o jogo completo. Dessa forma não precisam de passar por todo o processo de criação da vossa personagem. No entanto e tendo em conta que as personagens do jogo são os Mii, é importante que aproveitem ao máximo para incluir os avatares dos vossos amigos, que é onde está grande parte do interesse desta experiência, como uma partilha ou uma coligação de forças contra o mauzão do jogo, o Dark Lord.

Esta figura que não tem assim um aspecto muito sinistro mas é profundamente maquiavélica, cometeu uma atrocidade quase irreparável. Roubou as caras e sinais distintivos dos habitantes de Miitopia, inclusive do próprio Rei. Depois, espalhou-as pelas criaturas daquele mundo de inspiração medieval, o que deu origem a uma série de situações insólitas. A fim de recuperarem os rostos perdidos e os atribuírem aos seus verdadeiros donos, terão que embarcar numa aventura do tipo épico, recheada de confrontos e combates por turnos, diálogos, explorando cada recanto das cidades, onde há tesouros à espera de serem reclamados.

Sendo este o mote e ponto de partida para a aventura, depressa damos conta que esta é uma aventura erigida em moldes relativamente simples, uma campanha leve e de sobressaltos moderados, já que nem sequer os combates chegam a ser muito exigentes, podendo um jogador de tenra idade ultrapassá-los com alguma facilidade. Depois da criação do nosso Mii e da escolha de uma classe à qual ficará afectado, embarcamos numa jornada que nos leva a agrupar até mais três jogadores. Todos estarão afectos a outras classes dentro de um leque de possibilidades, que vai dos feiticeiros aos guerreiros. As suas propriedades são cruciais, pelo que importa criar uma "party" equilibrada.

Em Miitopia há princesas e príncipes.

O mais engraçado é o intercâmbio e o caricato das situações e dos diálogos. Há uma veia humorística neste jogo, na forma como se gerem os elementos do social e da simulação da vida, através de intercâmbios proporcionados por uma ida ao cinema, ao café, ao hotel, cimentando as relações entre as personagens. É possível até que a relação entre duas personagens evolua para lá da amizade. No entanto, o domínio dessa causalidade é bastante limitado e tende a acontecer de forma linear, sendo suficiente o progresso dentro da aventura e a concretização de objectivos.

Combates em modo semi-automático

Na sua globalidade, esta é uma versão quase similar à original criada para a 3DS. Há que ressalvar algumas melhorias, designadamente em termos gráficos, com uma acomodação ao ecrã da Switch para uma experiência portátil, melhorias que não são tão perceptíveis quando jogado no televisor. No entanto, assim que passamos ao jogo propriamente dito, interessa mencionar o alargado editor da personagem, com mais opções ao nível dos penteados, através da inclusão de um conjunto de perucas. No que respeita a roupas e fatos de personagens de outros jogos Nintendo, como Mario ou Zelda, terão que usar os respectivos Amiibo.

A exploração de Miitopia é realizada sem grandes sobressaltos. Há vários serviços que podem utilizar, nas tais relações sociais, mas assim que entram numa masmorra terão que travar múltiplos combates. O sistema de combate é o mais elementar dentro do género por turnos. Tão elementar que as restantes personagens da party actuam por conta própria. Em função da sua classe, pode realizar ataques directos, curar algum membro em dificuldades ou simplesmente lançar um feitiço. O problema é a pouca autonomia dada ao jogador, o que nos leva a travar um combate em modo semi-automático. Preferia lidar com uma componente mais estratégica e evoluída, mas não, tudo é relativamente simples e linear, ao ponto de vermos os nossos comparsas em combate por um bom bocado de tempo, enquanto assistimos impávidos ou pouco serenos.

Ver no Youtube

Tendo em conta a extensão considerável das masmorras, boa parte da experiência torna-se previsível e aborrecida, algo que acaba por voltar a acontecer na masmorra seguinte e assim sucessivamente. Sem dúvida que é um jogo que evidencia falta de ritmo e ausência de mecânicas em pontos chave. Um role play que pretenda ser bem sucedido requer mecânicas cativantes. Percebo que Miitopia viva muito do humor de circunstância e daquelas tiradas humorísticas nos instantes de interacção, mas peca no descurar das mecânicas ao ponto de tornar a experiência enquanto factor de jogabilidade, demasiado leve. Nem mesmo a introdução de um cavalo, a lembrar Epona, como fiel parceiro, permite alguma frescura.

Miitopia funciona assim como uma evolução de uma série de serviços experimentados pela Nintendo com os avatares criados pelos jogadores. O editor é generoso, ao ponto de permitir a criação quase imediata dos nossos amigos ou familiares, a fim de entrarem no jogo. Em alternativa há uma base de personagens predefinidas como ressalva. Estas personagens encaixam bem no jogo, no universo, de um social simplificado e dotado de humor de circunstância. No entanto, a longo trecho, os automatismos aplicados nos combates e a sua simplicidade em termos mecânicos tendem a circunscrever a margem de actuação do jogador.

Prós: Contras:
  • Maior personalização no editor
  • Humor e paródia do role play
  • Momentos surpreendentes
  • Sistema de combate demasiado automático
  • Exploração das masmorras torna-se repetitiva
  • Mecânicas de role play simplificadas

Lê também