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Minecraft - Análise à versão PS3

O fenómeno aumenta fronteiras

Já diz a sabedoria popular, mais vale tarde do que nunca. Depois do estrondoso sucesso no PC e na Xbox 360, seria uma questão de tempo até que Minecraft surgisse na PlayStation 3, da mesma forma que todos esperam que apareça uma versão Wii U num futuro próximo. Esta "PS3 version" está bastante mais atualizada do que a que surgiu inicialmente em consola, já tem o Creative por exemplo, o modo designado exclusivamente para criar, utilizando todo o tipo de blocos, disponíveis desde o primeiro minuto.

Mas antes de embarcar por aí, vejamos quais são as diferenças e semelhanças para o original no PC. A principal diferença continua a ser o facto de o crafting ser muito mais automático, com a "crafting table" a possuir uma lista de todos os objetos possíveis, e disponíveis de acordo com o nosso inventário. Isto não muda uma vírgula quanto aos objetivos, mas oferece alguma luz no que concerne às soluções. Inicialmente não sabemos onde encontrar uma ovelha, mas pelo menos sabemos que para construir uma cama, precisamos de três cubos de lã.

Não sei se o original de hoje já contém um tutorial, já esta versão, traz alguns menus explicativos focados na utilização dos controlos e menus adaptados ao comando. O acesso às ferramentas e materiais na barra principal é muito simples graças aos botões de ombro da PlayStation 3, já a interação com o inventário é mais atrapalhada do que no PC, o que pode representar um problema dependendo da emergência da situação.

Tudo o resto funciona da forma que estaríamos à espera, os gatilhos substituem os dois botões principais do rato, sendo que um é designado para criar, e o outro para destruir um pedacinho do imenso mundo em cubos. O mundo gerado aleatoriamente é similar independentemente do modo que selecionamos, e constituído como sempre por montanhas, pradarias, oceanos, cavernas, pântanos e outras maravilhas que o mundo nos ensinou a reconhecer.

O modo Creative é completamente livre para podermos criar, e neste sentido é mais um brinquedo virtual, uma caixa de legos infinitos, mas nos quais não podemos tocar. Quanto ao survival, a estrela da companhia, continua tão genial quanto me lembrava, aproximando Minecraft de um videojogo, mas com um design que não controla a experiência do jogador, antes condiciona-a através de coisas tão naturais como a fome ou a luz.

Uma das grandes vantagens do mundo gerado aleatoriamente é o facto de ser absolutamente imprevisível, nunca sabemos o que se esconde por trás de cada bloco de pedra, por baixo de cada bloco de terra. O material de cada um é sempre útil, mas a procura pelos materiais mais raros é o que nos faz ficar obcecados num ciclo de grind, transporte e armazenamento, para depois construir aquilo que a nossa infinita imaginação conseguir visualizar.

Este processo não é livre de perigos, e se a obrigação da alimentação nos leva a procurar processos de auto sustentabilidade, a segurança é outra das nossas maiores preocupações durante a vida em cubos. Monstros surgem nas sombras, tornando a noite no maior antagonista de Minecraft, o vosso objetivo maior será sempre conseguir isolar uma zona com bastante luz, um sítio a que possam chamar de casa, no meio de um mundo demasiado imprevisível para confiar. Tal como na vida real, um porto-seguro ao qual voltar no final do dia.

"A principal diferença continua a ser o facto de o crafting ser muito mais automático."

O level design é como uma folha de papel em branco que os jogadores podem pintar, não é estruturado para proporcionar uma experiência, mas antes livre para que sejam os participantes a desenhá-la. Querem fazer o estádio do vosso clube? O santuário do Bom Jesus? A estátua do Marquês? Ou ainda pior, a ULA de um computador? Tudo isto é possível se tiverem o compromisso necessário. É muito fácil nos perdermos na imensidão do mundo, especialmente se decidirmos escavar até às profundezas na procura de materiais raros. Este facto aliado à transição automática entre dia e noite, oferece um sentido de urgência à ação, estamos sempre a medir qual a melhor altura para voltar, e armazenar tudo o que conseguimos até então.

Também é verdade que nunca estamos absolutamente seguros, mesmo com uma armadura toda em diamante, há sempre o risco de destruir um cubo, e levar com um rio de lava nos dentes. Ainda assim, com o tempo vamos ficando mais confiantes, tanto em "casa", como quando exploramos de espada, armadura e um arsenal de mantimentos, há menos probabilidade de morrer, mas mais a perder em caso de erro.

Gostei bastante de jogar este PlayStation 3 Edition sozinho, mas é possível juntarem-se a amigos, ampliando a diversão. A internet está cheia de exemplos fantásticos do que se consegue criar neste jogo quando se misturam cabeças e vontades. O trabalho cooperativo não tem que ser sempre para destruir qualquer coisa, pode perfeitamente ser para construir.

É possível utilizar a nossa própria playlist de músicas para ouvir enquanto jogamos, mas sinceramente, prefiro jogar Minecraft sem música, apenas com os sons característicos do jogo. Ouvir um Creeper a assobiar nas nossas costas pode ser dos momentos mais assustadores num videojogo, quem por isso passou sabe-o bem.

Haverá sempre jogadores que ficam aborrecidos pela falta de ritmo, pela apatia do cenário, ou pela falta de clareza de objetivos, o meu conselho é, insistam, Minecraft não vos empurra para a montanha russa, ele convida-vos a entrar e a descobrir, depois condiciona-vos sem piedade, num mundo de possibilidades infinitas.

É talvez o maior exemplo do que de bom pode brotar dos jogos independentes, o seu potencial é tão abrangente, que podemos ver várias aplicações para o jogo, nomeadamente com fins educativos, por estimular a imaginação dos mais jovens, e estar circunscrito num ambiente de regras lógicas, com o qual se pode facilmente aprender. É um dos melhores de sempre, e que deve ser experimentado por todos.

8 / 10

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