MotoGP 22 - Revisão à matéria dada
Realismo e simulação continuam como metas.
Nunca como hoje os portugueses tiveram tantos e bons argumentos para acompanhar o Moto GP. Esta é a categoria máxima do desporto mundial em duas rodas e nela milita o português Miguel Oliveira, numa equipa de fábrica, a KTM, pintada com as cores da Red Bull. São já algumas temporadas do piloto luso neste mais alto nível, depois de bem sucedidas passagens pelo Moto2 e Moto3, enquanto categorias de acesso. Além disso, os últimos anos ficaram marcados pelo regresso a Portugal das corridas, ao circuito do Algarve, em Portimão, no qual Miguel Oliveira chegou a cortar a meta na frente da categoria máxima. Razões para festejo em português e nas demais nacionalidades que competem num fervoroso e sempre empolgante campeonato. As corridas de motas mexem com os fãs das duas rodas e a Milestone volta com mais uma edição da temporada.
Numa série anual, concorrem as actualizações da temporada, de habituais entradas e saídas de pilotos nas diversas categorias, as mudanças dos circuitos e algumas alterações na experiência de condução e nos modos de jogo. Do trajecto encetado nas últimas edições, a presente edição do MotoGP vem sobretudo retocar alguns aspectos, mas mantém de grosso modo o tipo de experiência do ano passado.
Do ponto de vista da condução, a Milestone parece reforçar cada vez mais a vertente simuladora, ao proporcionar um estilo de condução assente no realismo, no qual aprender a travar tarde e sair rápido do apex das curvas é condição mister para o sucesso. Contudo, a pilotagem está longe de ser um passeio à beira mar. O estudo dos circuitos, a memorização das trajectórias e sobretudo a afinação, são elementares para se alcançar o sucesso num nível que nem sequer supera o intermédio. Há muito que a Milestone nos habituou a este tipo de experiências. Aliás, se jogaram a edição do ano passado de MotoGP é bem provável que do ponto de vista da condução sintam que é o mesmo jogo.
Academia de condução para aprender a domar as feras
Reflexo desse acentuar de dificuldade, que vocaciona a experiência para o capítulo da simulação, é a existência de uma fase de adaptação e aprendizagem logo que entramos no jogo. Qualquer veterano da série não terá problemas em seguir por diante. As lições das épocas passadas já foram estudadas e os erros cometidos. Mas uma observação atenta deixa ver que a Milestone persiste em proporcionar um exame minucioso a quem só agora chega, com voltas rápidas e testes a várias situações de dificuldade extra, nomeadamente as corridas à chuva. Trata-se de um reforço do ponto de vista da simulação, com mais situações de corridas desafiantes.
É aqui que o papel da Academia MotoGP desempenha um papel de apoio e “formação” contínua dos pilotos, através de uma série de testes e desafios a solo e em competição, visando a melhor preparação para os eventos a sério. O interessante neste processo de adaptação é que podemos ajustar a mota ao nosso estilo de condução. Usar, por exemplo, o pneu traseiro em slide, ou afinar para uma melhor inserção da frente em curva. O nível de precisão é tão alto que por vezes algumas correcções no analógico são suficientes para nos atirar para fora da trajectória e arrumar de vez aquela volta para a pole. A travagem é uma componente igualmente fundamental e também aqui muito pode ser feito para a tornar adaptada ao nosso estilo.
Apesar dos incrementos no realismo, é um desafio jogar sem assistências. À chuva é como se estivéssemos a competir com uma navalha sobre um fio, e ao mínimo deslize acabamos na gravilha. Os embates também proporcionam quedas vertiginosas, o que obriga a rodar com algum cuidado, pois até os toques mínimos podem não ser toleráveis. De qualquer modo, podemos sempre dar uso do botão “fast rewind” para apagar algumas incursões mais arrojadas. Noto que a inteligência artificial desempenha um papel extra, capaz de perturbar o nosso melhor e mais cauteloso andamento. É nessas situações que podemos acusar alguma frustração, mas quem vê uma corrida também acompanha esse tipo de manobras mais ousadas. As várias câmaras de acompanhamento cumprem a sua função, ainda que a perspectiva interior, apesar de estonteante, obriga a uma dose adicional de domínio, sobretudo a percepção de que é uma mota que vamos a conduzir e não um carro.
O valor de um produto licenciado
Com o apoio da Dorna, a detentora dos direitos do MotoGP e das demais categorias, a Milestone volta a apresentar um trabalho cabal em termos de aproveitamento de licença. Referimo-nos a mais de 120 pilotos, repartidos por décadas de história das antigas 500 cc e da actual temporada 2022, para todas as categorias. São todos os pilotos, motas, equipas e patrocinadores. Uma experiência que se completa com mais de 20 circuitos, entre os quais todos da actual temporada, que mais uma vez volta a incluir o autódromo do Algarve, em Portimão.
Ainda que de forma suave, mas revelando já alguma consistência e melhor produção, as zonas envolventes à pista, nomeadamente as bancadas e as boxes, apresentam um aspecto mais realista. É um trabalho de modelação que vem sendo aprimorado a cada nova edição, com melhorias que passam também pelos pormenores e detalhes das motas. O efeito realista é particularmente incisivo na forma como a mota curva, exala cores, reflexos e um agarrar à pista capaz de ombrear com a melhor repetição para a televisão. Até em corrida, a cadência e o volume de motas juntas numa curva produz um melhor efeito visual. Porém, estas melhorias vêm sendo consolidadas de ano para ano, pelo que para percepcionar diferenças notórias, ou testemunhar uma sólida evolução, só olhando para umas edições bem pretéritas.
No que respeita a modos de jogo, para além das habituais corridas rápidas, campeonatos e voltas rápidas, cumpre destacar algumas opções. Desde logo o ecrã dividido para dois jogadores, uma opção que parece regressar em força no âmbito geral do racing, o que permite estreitar a competição a nível local. Por outro lado o regresso do modo gestão da carreira, um possante e longo modo de jogo que permite gerir o quotidiano de uma equipa. Uma actuação global que permite a criação de uma equipa desde a base, contratando mecânicos, patrocinadores numa perspectiva para mais do que uma temporada, visando o alcance máximo da gloria nas duas rodas. Em alternativa, cria-se uma espécie de Junior Team, no Moto2 ou Moto3, com todos os elementos da equipa.
Viver por dentro a temporada épica de 2009
Contudo, o destaque em matéria de novidades sonantes, vai para o modo Nine Season 2009. Os fãs estarão certamente recordados de quão épica esta temporada foi, que viu Valentino Rossi sagrar-se campeão na categoria máxima, pela última vez. Mas o trabalho que lhe deram rivais como, Lorenzo, Stoner e Pedrosa, todos ao mais alto nível das suas carreiras, é bem evidente neste périplo encimado por 50 minutos de vídeos reais, numa narração do icónico documentarista Mark Neale, ao longo de 17 capítulos. Viver por dentro esta temporada é um dos objectivos, acompanhando não um mas vários pilotos. As metas são as mesmas dos resultados alcançados pelos pilotos que lutaram pelo ceptro, sabendo, no entanto, que não é possível mudar o curso da história. É um modo bem conseguido e leva-nos a uma das melhores temporadas de sempre da história do motociclismo mundial.
Ainda que este seja um modo valioso a ser explorado pelos fãs, sobretudo se como eu apreciaram as magníficas vitórias de Valentino Rossi, de um modo geral não há mais novidades sonantes em MotoGP 22. A Milestone reforça alguns modos, produz alguns retoques a nível visual, no desenho dos circuitos e das motas, mas globalmente ainda é uma experiência que assenta sobre anteriores desenvolvimentos. É já evidente um salto significativo quando comparamos esta edição com os MotoGP da segunda metade da década passada. Consolida alguns elementos, mas ainda se encontra em vias de conseguir uma proeza maior.
Prós: | Contras: |
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