Multiplayer de Halo Infinite poderá tornar-se na referência dos shooters competitivos
Mas são necessárias alterações em pontos importantes.
Não se consegue dissimular ou tentar ocultar que neste momento há um enorme jogo que veio de certa forma salvar o final de 2021 na vertente multijogador competitiva. Com fracassos assombrosos como Call of Duty: Vanguard e Battlefield 2042, a 343 Industries jogou uma cartada de mestre, lançou antecipadamente o acesso ao Multijogador de Halo Infinite no seu estado beta no mesmo dia em que a Xbox realizou o evento comemorativo dos seus 20 anos de existência. Foi no final desse evento que foi lançada a surpresa, o que originou uma corrida desenfreada dos jogadores para o descarregar, tanto nas consolas Xbox como no PC.
Também me juntei à "festa" e tem sido uma experiência que rapidamente me fez esquecer as terríveis experiências dos títulos acima mencionados. Apesar de ainda estar oficialmente no seu estado beta, é surpreendente constatar que já se encontra mais robusto do que a concorrência na situação de lançamento. Esta jogada da 343 é, de certo modo, direcionada para um teste público em massa, antecedendo o lançamento no dia 8 de dezembro de 2021. Este tempo todo de testes dá uma enorme bagagem de feedback para alterações e retificações, desde modos de jogo, equilíbrios, progressão, XP, cosméticos, e podia estar aqui continuamente a mencionar pormenores que podem ser polidos para entregarem a melhor experiência e, sobretudo, o que os jogadores querem. É certamente a jogada perfeita que pode ser um exemplo para outros títulos AAA do género, evitando desastres que todos nós sabemos.
Nós jogadores já não estamos habituados a bons jogos competitivos no dia de lançamento. Infelizmente é a dura realidade que Halo Infinite tenta de certa forma contrariar. Longe de estar isento de problemas, há que verificar a enorme estabilidade, seja dos servidores e da performance, tanto nas consolas como no PC. Temos uma excelente variedade de mapas, com dimensões diversas para se ajustarem aos modos de jogo lá praticados, um arsenal justo e consistente, mas sobretudo, uma fenomenal jogabilidade que nos transporta para momentos de excelência. De todas as facetas conseguidas pela produtora, a que mais destaco é a jogabilidade, que no fundo ditará a vontade ou não de se querer continuar a jogar. Parece estar tudo no ponto, desde a velocidade de deslocação, a movimentação pelos obstáculos, o gunplay, o manuseamento das armas e veículos, são tudo positividades que transmitem uma preocupação profunda com esta particularidade crucial.
"Já não estamos habituados bons jogo competitivos bons no dia de lançamento"
Os mapa apresentados são de uma simplicidade de aplaudir. Não há que inventar, são executados de forma a uma memorização fácil é muito rápida. Sem adereços desnecessários que só atrapalham a jogabilidade e visibilidade. Não há aqui portas e janelas às centenas, como nos mapas de um jogo que nós sabemos. A 343 soube observar o que de errado existe em outras paragens, entrega uma apresentação pautada por elementos que fizeram brilhar outros no passado, mas que por alguma razão acharam haver a necessidade de complicar e introduzir elementos que só diminuíram a qualidade.
Novatos de Halo são encorajados a dirigirem-se aos modos de treino, aqui podem familiarizar-se com a movimentação, gunplay, armas, veículos, modos de jogo ou mapas. É uma parte importante e que não deve ser descorada para os principiantes, dessa forma ficam preparados para os embates contra jogadores reais. Também de referir que neste modo podemos ir ajustando os nossos controlos, seja do comando ou rato e teclado, é uma parte importante que não deve ser menosprezada. Posto isto, temos a entrada nos modos contra pessoas reais, seja em Quick Play, Big Team Battle, Ranked Arena ou em modos ligados aos desafios do momento como o Fiesta.
A jogabilidade e formatações das variáveis impulsionam a qualidade de Halo Infinite. É uma satisfação que não sentia há muito tempo mesmo, durante os embates sentimo-nos recompensados pelas nossas ações que conduziram a desfechos positivos. Esta sensação é mantida durante as partidas, mas infelizmente de momento não é transmitida para o após. Refiro-me obviamente ao sistema de progressão implementado, que depende, como seria de esperar, do XP ganho. Este é diminuto, completamente ligado a uma mecânica totalmente assente nos desafios do momento. Constatar que o nosso desempenho não tem quase reflexo no XP que vamos receber é deveras desolador. Obviamente que se estamos num modo de jogo que oferece a recompensa de ganhar XP se formos a equipa vencedora, as coisas são diferentes. Mas nem sempre é o que se passa. De referir que para quem joga a versão gratuita a progressão é ainda mais lenta, já que os possuidores do Premium Battle Pass podem obter mais desafios, nada de anormal.
"jogabilidade e formatações das variáveis impulsionam a qualidade de Halo Infinite"
Esta linha delineada para a progressão é um entrave a retificar. As alterações necessárias devem ser feitas a tempo do lançamento, no dia 8 de dezembro. A 343 está consciente do problema reportado por milhares de jogadores e existe consenso, o sistema de XP tem de ser revisto. Já foi adicionado um incentivo ao participar numa partida, que nos atribui 50 XP, mas considero que seja pouco. Este pormenor é deveras importante e espero que não corte as pernas a uma maior disseminação do multijogador de Halo Infinite. Pode ser um entrave a longo prazo e afastar os jogadores habituados aos shooters da atualidade, que recompensam o jogador por quase todas as suas ações durante uma partida. Claro que devemos continuar a ter desafios, mas que sejam um complemento a um sistema dito "normal" de obtenção de pontos de experiência. Acredito que as alterações não serão fáceis, já que o Battle Pass está completamente ligado aos desafios e ao XP obtido através dele. Vamos esperar pela solução da 343.
Além dos problemas relacionados com o XP, existe outro que considero relevante e até de um certo modo constrangedor. Não podemos escolher onde e em que modos de jogo queremos entrar. É algo já ultrapassado pelos jogos concorrentes há muito tempo. Em Halo Infinite não temos essa opção, entramos em partidas escolhidas pelo sistema de matchmaking, que é deveras irritante. Eu pessoalmente não gosto de modos onde temos de capturar algo, como Capturar a Bandeira ou segurar a Bola, prefiro partidas de eliminação. Esta ausência faz-me confusão, ser obrigado a preencher partidas por obrigação, originando embates sem sentido. É constrangedor ter elementos na nossa equipa que se estão a marimbar para o objetivo da partida, limitam-se a eliminar os jogadores adversários deixando o objetivo para segundo plano. É um comportamento que deve ser abordado pela 343 e de fácil resolução, mais fácil que o do XP. Podemos dizer que é apenas uma beta, mas existe a certeza da possibilidade de escolher os modos na versão final?
Igualmente intrigante e de certa forma preocupante, é a questão das microtransações aqui inseridas. Obviamente que é um jogo gratuito e tem de ser financiado de alguma forma. Sei que são preços praticados em outras partes, mas pagar 18€ por uma armadura é abusivo. Não é por ser Halo Infinite, eu sou dos que não gasta um cêntimo em cosméticos, muito devido ao preço abusivo praticado que é transversal a outros jogos. Mas obviamente é como sempre se diz, só compra quem quer. A única positividade destas microtransações presentes na loja é que não dão vantagem competitiva, são apenas cosméticos para dar mais estilo ao nosso personagem e arsenal. Mas quero vincar que são preços abusivos.
"microtransações presentes na loja é que não dão vantagem competitiva"
Outra questão a rever está relacionada com o crossplay que não pode ser desligado. Apenas temos uma opção no Ranked Arena, de escolher se queremos jogar contra jogadores de comando se assim o quisermos, que é muito pouco, deveriam estender a todos os modos de jogo. Aqui nota-se uma vantagem avassaladora em jogar de rato e teclado, não tem comparação possível. Se em jogos da concorrência a diferença é um tanto mitigada com ajudas significativas para quem joga de comando, em Halo Infinite não temos qualquer hipótese contra jogadores de rato e teclado. As muitas vantagens vão desde a deslocação e movimentação, saltos, aquelas viragens de 180° impossíveis de realizar no comando e a óbvia vantagem na precisão da mira. Joguei nas duas plataformas e é triste quando se apanha um jogador de comando pela frente, a mira dele é completamente errática. Contra factos não há argumentos.
Tecnicamente falando, e referindo agora a parte dos visuais apresentados neste multijogador, não é topo de gama, mas também não defrauda. Está esteticamente competente e com uma abordagem que dá primazia à performance. É gratificante jogar a 120fps na Xbox Series X, faz toda a diferença na nossa prestação. Claro que descemos em detalhe e em resolução, mas 1440p fica muito bem a Halo Infinite, nem pensem duas vezes, joguem no modo desempenho. Já no PC as coisas são diferentes, com a opção de escolhermos como o queremos visualmente e sobretudo como o adaptar ao nosso hardware. É pesado quando jogado no máximo da qualidade, mas o DSR utilizado é fantástico, mesmo em 70% da resolução nativa o jogo é incrivelmente defendido, notando-se muito pouco a diferença para a resolução nativa do monitor.
"DSR utilizado é fantástico, mesmo em 70% da resolução nativa o jogo é incrivelmente defendido"
Certamente que são muitas pontos a repensar, mas de nada retiram o brilhantismo dos trunfos que Halo Infinite traz à mesa de opções. Uma jogabilidade fantástica aliada a uma simplicidade que prova mais uma vez que menos é por vezes mais. Não existe necessidade de complicar para se conseguir apresentar algo que dá prazer jogar, que não estejamos constantemente a colocar em questão os desequilíbrios inerentes à avalanche de variáveis colocadas na mesma cena e ao mesmo tempo. Aqui todas as armas são iguais, todos os upgrades são iguais, obtidos durante as partidas, tudo equilibrado de forma a garantir que todos tenham as mesmas possibilidades, dependendo no final da perícia individual de cada um. Este multijogador veio para ficar e certamente que fará outros repensar qual o caminho a seguir.