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Muscle March

Hu, ha, ha!

Muscle March constitui uma das recentes adições ao pote de exclusivos Wiiware, e verdade seja sublinhada, não se roga em se distinguir perante os outros conteúdos. E não me refiro ao preço. Aliás, a imediata percepção de ausência de um rótulo ou definição dentro dos arrumos mais tradicionais, enquadrada com a origem nipónica, deixa-nos perante uma oferta que jamais poderia ser concebida naqueles moldes a ocidente, tal o grau plasmado de humor nipónico sem pudor e algo ingénuo que tantas vezes os produtores japoneses acrescentam em jogos que nem chegam ao nosso continente.

Há, no entanto dois aspectos que notabilizam este jogo. Primeiro e em função do que já começamos por dizer, Muscle March é delirante e acrescido de uma aureola absolutamente enlouquecida, embora e por estar ligado à casa Namco sejam evidentes algumas conexões que o prendem na elaboração e construção do design a katamari Damacy, mesmo que em função dos mecanismos Katamari tenha outra profundidade. Em segundo lugar Muscle March caberia perfeitamente dentro de uma máquina arcade, tal é o grau de simplicidade e execução das tarefas exigidas ao jogador, numa curva de aprendizagem curtíssima e para a qual se prestam absolutamente as funções mais básicas da Wii; os movimentos. E não nos escusamos em concluir que daria uma máquina extremamente requisitada.

-Vês estes bíceps? Corre Tony, corre!

De outra forma dificilmente funcionaria bem Muscle March se não tivesse um aspecto e conteúdo tão absurdos. O que se passa é que a turma de Misters (daqueles homens e mulheres que praticam culturismo, ou seja, torcem os músculos dorsais, bíceps, abdominais e pernas, fazendo força em poses concretas, deixando impávido o comum dos mortais) ficou sem o tradicional pote de proteínas. Alguns larápios (entre muitos: um jogador de futebol americano, um robô musculado de fato de nadado azul, um extra-terrestre sobre a sua nave, um macaco de duas cabeças) conjugaram esforços para deitar-lhe a mão, e logo desataram pela cidade, aldeia e estação – as três áreas de jogo -, atravessando paredes de todo o tipo à medida que inauguram quatro tipos de pose, sendo perseguidos por um quinteto de figuras musculadas que deve posar da mesma forma para não esbarrar contra a parede (lembram-se daquele péssimo concurso na SIC “Soltem a parede”? Pois bem, o segredo do jogo é ligeiramente semelhante, mas os japoneses sabem como gizar um produto à maneira). A graça, o humor e o tom patético operados neste argumento conjugam-se de forma extraordinária e conseguida com os movimentos exigidos.

Inicialmente o processo de perseguição é bastante simples, mas mais adiante entra por uma dificuldade acrescida quase impossível de lidar, obrigando o jogador a cumprir uma série de poses, num ínfimo espaço de tempo e para as quais a Wii parece não dar conta do recado. Pelo meio outros contendores controlados pelo computador vão derrapando em cascas de banana e ficam pelo caminho. Dois indicadores estabelecem o sucesso da perseguição ao fugitivo. Um multiplicador de combos que aligeira o passo da nossa personagem e faz sair os restantes de cena e a capacidade de resistência que diminui cada vez que não passam por uma pose escultural aberta na parede.

E quanto à oferta que vos é dada, estamos contados. Na verdade as opções de jogo são curtas e o sentido de repetição apodera-se ao fim de pouco tempo, sobretudo pelas parcas áreas que terão de esgotar. O tempo que perdem para acabar o jogo deve-se mais à dificuldade que vos obriga a repetir o último “checkpoint” até à exaustão. Finalmente o vosso desempenho é medido como não podia deixar de ser por uma avaliação risível que vai desde “macho” até totalmente musculado.

O ecrã de selecção dos personagens é uma risada. Ali o africano leva um pato no cabelo. É amigo dos animais.

Porém, o que funciona bem confere uma nota de notável valor é a forma como concilia todo o conceito visual de absoluta paródia à volta destes homens (há uma mulher britânica e um urso polar norueguês, este sem grandes músculos e com barriga) corpulentos e musculosos com um ambiente delirante onde música japonesa e outros conceitos se fundem numa energia avassaladora e cativante para o jogador. Isto porque eles correm atrás do fugitivo que atravessa campos de basebol, comboios, estações, prédios, telhados, escritórios, tudo e mais alguma coisa, com pouca definição, mas em permanente movimento. As solicitações para o jogador traduzem-se apenas nos quatro movimentos. Nem mais um botão e a acção decorre como se fossem a bordo de um mono-rail. Assim que estiverem prestes a alcançar o larápio só precisam de aumentar a velocidade, pondo o peito para fora e agitar com força os comandos.

No que respeita às opções “multiplayer”, este jogo pode ser partilhado até um máximo de quatro comparsas. Cada um corre até ao limite da resistência, à vez, superando o maior número possível de obstáculos. Quem for mais longe, ganha. Não escolhem as áreas, terão de percorrer um percurso em permanente mutação e com um arranjo cénico diverso.

Muscle March é curto, repetitivo e remete-vos para uma dificuldade paranormal quando estão prestes a rebentá-lo. Mas tem uma propensão indiscutível para o humor e uma tendência marcada para se distinguir das demais ofertas que vos impele a jogar uma e mais outra e mais outra partida. A simplicidade não prejudica, até porque tomba para o lado do espírito das máquinas arcade que agarram constantemente, sendo até mais divertido por comparação com jogos tradicionais que procuram reproduzir movimentos de ténis, boxe ou golfe. Claramente daqui desde já se reclama um Muscle March 2 mas aprofundado. Além disso o preço especial aplicado no mercado europeu (em resposta pelas críticas que abrimos neste parágrafo e que o chacinaram no mercado norte-americano), 500 pontos Nintendo, ou seja, 5 euros, nem obriga a pensar duas vezes.

7 / 10

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