Need For Speed Heat - Review - Miami Vice
Diversão de dia e fugas estonteantes à polícia de noite.
A saga Need for Speed (NFS) é a par de FIFA uma das propriedades intelectuais mais antigas da Electronic Arts, datando os primeiros jogos de meados da década de noventa. Em quase vinte anos de história as corridas mantiveram sempre o selo da velocidade. Enquanto corridas ilegais, viagens a pontos incríveis do planeta ou arriscadas fugas à polícia, a combinação é quase sempre carros potentes com locais exuberantes. Mas também há muita densidade urbana a justificar o melhor da condução.
As cidades em NFS são quase casulos onde não deixa de imperar a velocidade ao limite, epicentros dotados de largas vias e estradas onde se travam perseguições estonteantes. As perseguições policiais são severas e o risco de perda de controlo do carro sob uma copiosa chuva é maior. É nesta água agitada e em lume brando proporcionado pela patrulha policial que mergulha por inteiro a presente edição de NFS. Heat proporciona o calor das fugas da polícia na fictícia Palm City, inspirada na iluminação, neon, luzes, arranha-céus e paraísos de Miami.
Após um breve interregno, Heat sucede ao NFS "reboot" (2015) e a Payback (2017). Todas pela mão da Ghost Games, as últimas edições conheceram um recomeço e uma versão mais próxima do que é o ADN das corridas ilegais. Mas Heat parece reunir o universo das corridas ilegais, das fugas à polícia, kits de personalização e largas derrapagens, com os mundos abertos das cidades fictícias. Para uma série bi-anual, em Heat são mais notórios os pontos de encontro do que as divergências mais recentes. Mas estarão à altura de uma boa experiência?
Actuação policial musculada
O primeiro contacto que temos com o jogo não podia ser mais elementar. Tripulando um carro de elevada potência e de forte carga aerodinâmica através dos desmesurados spoilers, abrimos a todo o gás dentro de mais uma corrida ilegal, lutando pela primeira posição. A cidade em fundo, toda iluminada, com os seus arranha-céus recortados sob um céu denso e escuro prestes a desabar, desponta por entre indicadores de neon que assinalam a trajectória, enquanto avançamos rapidamente sobre pontes, ultrapassando os rivais e galgando passeios.
A velocidade excessiva é detectada pelos radares policiais das patrulhas e rapidamente passamos de perseguidores a presas. O carro que temos aos comandos é suficientemente poderoso para continuar em estrada, mesmo quando choques violentos afectam a trajectória e amolgam a chapa. O mesmo sucede com os veículos da segurança, igualmente rápidos e persistentes. Numa corrida infernal sucedem-se os choques. A cinemática mostra a nossa captura, ou melhor, a inscrição de uma mensagem endereçada ao "gang" das corridas ilegais.
NFS Heat possui uma narrativa que não é muito diferente de outras situações. A polícia acelera atrás dos infractores. Só os mais reputados "sobrevivem". Para isso terão que fugir com sucesso às investidas. As corridas ganham uma dimensão dramática - ilegal - à noite. É por entre as luzes de neon, dos carros e dos edifícios que se sobe no "ranking", acedendo a veículos mais rápidos que por seu turno são detectados pelas forças da lei.
"As corridas ganham uma dimensão dramática - ilegal - à noite. É por entre as luzes de neon, dos carros e dos edifícios que se sobe no ranking"
São frequentes as cinemáticas e nelas podemos ver a nossa personagem, previamente seleccionada, em actividade. A escolha do nosso modelo não é definitiva. Após acesso ao centro de personalização (a garagem onde temos o nosso carro), podemos mexer em vários parâmetros, um dos quais é precisamente a personagem. Diga-se que a este respeito as cinemáticas apresentam boa qualidade. Há um aspecto muito foto-realista, dos carros, do ambiente e das personagens, tornando mais crível o desenrolar.
A transição manual do dia para a noite
Heat possui uma cidade enorme. Percorrer as suas múltiplas estradas, ruas e auto-estradas leva eternidades. Há zonas montanhosas, a baixa de Palm City, assim como outras zonas emblemáticas. É um jogo em mundo aberto, mas ao contrário de algumas evoluções mais recentes no género, não apresenta o ciclo de 24 horas. Há efeitos climatéricos, como a passagem de um tempo seco para húmido, chovendo copiosamente. Não que isso afecte sobremaneira a condução. Os seus efeitos práticos são sobretudo de ordem visual.
No entanto, não há uma passagem do tempo. Cabe ao jogador decidir entre jogar de dia ou de noite. Trata-se de uma escolha com efeitos significativos. Durante o dia não obtêm incremento da reputação, mas nem por isso deixam de ter que fazer coisas relevantes. Consoante o tipo de carro seleccionado poderão escolher eventos de diversa ordem. Desde corridas em circuito a pontos de ligação, há um conjunto de provas imediatamente disponíveis, para além dos habituais coleccionáveis como os cartazes que poderão destruir realizando manobras acrobáticas.
Estes eventos possuem no entanto uma vantagem fulcral. A obtenção de recursos financeiros imprescindíveis para melhorar a performance do carro e adquirir novas montas. À medida que melhoram a reputação, através das provas nocturnas, enfrentando rivais, incrementam o nível de reputação, que por seu turno dá acesso a novos carros. Isto significa que terão que suar bastante - e efectuar muito grind - se quiserem chegar aos melhores carros, os mais rápidos e os mais potentes.
Seria preferível um sistema que mais equilibrado, tipo stand, no acesso às máquinas. É que não só terão de pagar pelos carros como ainda terão que atingir determinado nível de reputação. Isso obriga a uma repartição do tempo entre provas diurnas e nocturnas. Mas é à noite que a intensidade é maior. Enquanto que à luz do dia a polícia não tem o radar ligado nem patrulha as estradas, à noite vemos pequenos pontos luminosos vermelhos no mini mapa. Basta apertar a fundo o pedal na passagem por uma patrulha para acedermos às suas comunicações via rádio.
A reputação ganha através de uma prova nocturna conquistada pode ser maior se abalroarmos os carros da polícia, ou se encetarmos uma fuga com sucesso. O valor atribuído tende a ser maior à medida que passamos a conduzir carros mais potentes. Algumas provas apresentam valores elevados, e por vezes não dispomos de um carro suficientemente melhorado para se apresentar em condições diante dos rivais.
Sistema amplo de personalização
Os kits de tunning em Heat são variados. Não só podem melhorar o aspecto visual do carro, usando peças autênticas dos preparadores, ou kits originais, como podem melhorar a capacidade de resposta do carro, acrescentando nitros, entre uma data de coisas, que vão até pequenos detalhes como ruído do motor ou efeito do escape. Claro que por todas essas mudanças há um custo. Contudo, as melhorias não produzem avanços muito significativos. O vosso carro não fica ganhador só porque possui um nitro e algumas melhorias no motor. Para acelerar mais rápido terão que desenvolver a caixa de mudanças e melhorar outras vertentes. Neste campo, na personalização motora do carro, os parâmetros são bastante avançados e contemplam várias áreas.
O mesmo sucede com os kits de pinturas. Podem optar por um trabalho de simples, escolhendo uma cor e um efeito ou aplicar um trabalho mais complexo, submetendo a edição a escrutínio público, para que outros jogadores possam descarregar. Óptimo para quem não pretende passar muito tempo na garagem. De resto, a margem de personalização é enorme e facilmente podemos gastar imenso tempo a não só personalizar a imagem da máquina de acordo com o nosso critério, como a torná-la mais rápida e potente.
Regresso da Ferrari em mais de uma centena de carros disponíveis
Ao todo, o catálogo de carros em Heat ascende a perto de 120 veículos. Não se pode dizer que seja a maior oferta para um jogo de automóveis, mas não é escassa. Existem carros de todos os formatos. Dos pequenos e compactos endiabrados até aos americanos, japoneses e europeus, passando por viaturas clássicas, quase todas as marcas e tipos de carros encontram-se representados.
"Graficamente, Heat consegue impressionar, ainda que aqui e acolá se verifique uma falta de polimento"
De saudar o regresso da Ferrari, com o sempre tentador F40 a comandar uma classe de bólides inconfundíveis. BMW's, Lamborghini's, Porsche's e McLaren's cumprem o seu trajecto, como que abençoando a noite de "Miami". Nem falta o mítico Countach para evocar a série televisiva Miami Vice. À semelhança de iterações anteriores da série, os carros encontram-se bem modelados, com um aspecto muito realista, sobressaindo as pinturas e o efeito "espelho" quando as gotas da chuva cobrem a pintura e molham o asfalto.
Graficamente, Heat consegue impressionar, ainda que aqui e acolá se verifique uma falta de polimento. O fumo da borracha queimada, as faíscas no escape, as luzes sobre a pintura e todo o efeito de iluminação é muito convincente e de um realismo deveras apurado, com cores vivas e naturais. Não temos os interiores do carro, nem há mudança de perspectiva, mas o exterior é francamente apelativo, o que acompanhado por uma banda sonora realista torna a apresentação bastante cinematográfica.
Pena que os quadros de loading sejam morosos. A transição do dia para a noite envolve pausas significativas, mas é sobretudo no carregamento inicial que é dado mais tempo de espera. Se este carregamento é mais aceitável, esperava-se uma transição mais célere na passagem do noite para o dia.
Condução tipicamente arcade
O que se pode dizer sobre a condução é que ao princípio pode causar alguma estranheza. A entrada em "drift" do carro nas curvas mais apertadas não é um movimento que se possa dizer muito natural, mas é uma manobra imprescindível se não quiserem perder tempo para os concorrentes. A utilização desta técnica torna menos relevante a activação do travão, dado que a traseira tende a derrapar de forma controlada, o que limita a velocidade mas não causa um abrandamento em demasia.
Esta manobra efectua-se premindo duas vezes o R2 (acelerador). Na segunda pressão e quando com o analógico em curva, o carro tende a deslizar suavemente, o que permite uma abordagem mais rápida à curva (se esta for fechada). O controlo da traseira, mais automático, não é tão necessário como quando usam o travão de mão e nesse caso o deslize do carro obriga a maior controlo.
Esta manobra, de resto, não é isenta de problemas. Nalguns casos é mesmo a única forma de não perderem muito tempo para os rivais (se a executarem bem até poderão ganhar tempo), mas sempre que estiverem à frente, o comportamento da IA, mais agressivo, conduz os adversários de encontro ao nosso carro, provocando uma perda de tempo, abrandamento e algum choque.
Neste caso só mesmo as paredes e os blocos de alguma estrutura/edifício podem travar o andamento do carro. Postes, árvores de pequena dimensão e separadores plásticos levantam voo se formos de encontro, ainda que possa causar um efeito retardador. Talvez não seja um sistema de condução perfeito, mas pouco há a apontar. Os drifts são bons e o controlo do carro é normalmente bastante eficaz. Depois de uma fase de adaptação estamos melhor preparados para tirar proveito dessa técnica.
As corridas online constituem uma opção "em separado", através da qual criam o vosso "gang", até um máximo de 16 jogadores, competindo através de desafios cooperativos, com bónus repartidos pelos membros. Os desafios são muito similares aos eventos da campanha "single player", através de provas em circuito e ligação entre pontos, que se estendem a todo o mapa.
Need For Speed Heat Review - O veredicto
No âmbito das corridas arcade, NFS Heat é uma óptima experiência, coesa e construída em torno de elementos habituais na série, tendo a inspiração de Miami como pano de fundo. A perseguição e componente de fuga à polícia nas corridas nocturnas parece dividir para entreter (porque não manter as perseguições durante o dia?). Mas se a divisão cria um efeito de prolongamento da campanha através da actividade diurna, forçando o "grind" na obtenção dos melhores carros, nem por isso se pode dizer como menos valiosa a restante componente. As perseguições policiais acrescentam um factor dificuldade adicional às provas, e tendo em conta a diversidade de desafios, a extensão da cidade e o factor divertimento através da condução, nunca ficamos com a impressão de uma cidade vazia.
Prós: | Contras: |
|
|