Nights of Azure - Análise
O romance de duas mulheres quando o mundo vai acabar.
Conhecido no Japão como "Yoru no nai Kuni", a terra sem noite, Nights of Azure é o novo RPG de acção da Gust para a PlayStation 4 e como seria de esperar, enverga todos os condimentos que se tornaram célebres nas suas mais recentes propostas. Pensar em Gust é quase sinónimo de pensar na série Atelier e apesar de Nights of Azure enveredar por temáticas mais pesadas e por um estilo de combate mais focado na acção, existe aqui muito do ADN da Gust que se torna quase evidente o que esperar. No entanto, ao entrar na nova geração de consolas, existe sempre a curiosidade em descobrir de que forma os estúdios levam mais além as suas ideias ou mecânicas, e quanto a isso Nights of Azure revelou ser uma proposta aliciante. Especialmente numa plataforma cujo nome está associado a JRPGs mas que ainda não tem assim tantos quanto os adeptos do género gostariam.
Nights of Azure transporta os jogadores para a fictícia ilha de Rusewall, logo ali ao lado do Reino Unido, onde irá encontrar Arnice, uma mulher com sangue de demónio e a capacidade para absorver o sangue dos demónios. Num mundo no qual o Nightlord ameaça acordar a qualquer momento e mergulhar a humanidade num estado de noite eterna, entregando o poder total aos demónios que vagueiam por noites nas quais os humanos não se atrevem a sair de casa. A grande maioria dos humanos vive em pânico e aguardam o iminente fim do mundo mas Lylisse, amiga e grande paixão de Arnice, irá sacrificar-se para que o selo sobre o senhor da noite não seja quebrado e a humanidade conquiste mais alguns anos de cauteloso sossego.
Apesar do enredo abordar uma paixão entre duas mulheres, um amor quase impossível que corre contra o tempo e que coloca as duas pessoas envolvidas a debater moralmente se é justo perderem a vida para protegerem quem amam ou se teriam coragem para deixar o mundo perecer desde que ficassem juntas, Nights of Azure consegue alcançar o mesmo espírito que outros títulos mais relaxados da Gust. Algo que poderá criar um tom menos apelativo para alguns jogadores. Personagens tontos, situações idiotas, momentos de embaraço, diálogos estranhos, personagens tontas e um constante nonsense, sem esquecer a sexualização das duas mulheres, é algo que podem dar como garantido. O que de bom tem é que o enredo, apesar do ritmo nem sempre ser o melhor, consegue manter o jogador interessado e introduz-nos num mundo cujo conceito é mesmo intrigante.
"Existem aqui temáticas interessantes mas muito do nonsense da Gust e o ritmo de jogo serão provas a superar pelo jogador."
Enquanto gere a sua vida no hotel, a base de Arnice e de quem a assiste, e aceita missões para ela ocupar o dia, enquanto procura desesperadamente encontrar falhas nos planos da Curia, organização que encontra as santas que se vão sacrificar para manter o selo sobre o senhor da noite, e descobrir como impedir que Lilysse seja sacrificada, Arnice irá percorrer os vários pontos de Rusewall para enfrentar outros demónios. Também fará de tudo para encontrar as respostas para as inúmeras perguntas e tentar desvendar os mistérios em torno das santas, da curia, da noite eterna, e da sua capacidade em absorver sangue de demónios e controlar outros. Isto traduz-se num jogo de acção no qual o jogador controla Arnice nas suas incursões pela madrugada ao lado dos seus servos.
Desde o primeiro instante que o jogador assume o controlo de Arnice e dos seus demónios, que entendemos que eles serão a parte mais importante dos combates. O sistema de combate é altamente simples, mais parecendo uma espécie de Musou cruzado com RPG. No entanto, o jogador não irá simplesmente martelar botões, terá que invocar os seus servos, pequenos demónios capturados por Arnice, para que lutem ao seu lado a atacar inimigos ou a assistir com cura e protecções. Arnice pode ordenar que ataquem e até pode ordenar que usem um especial, tornando-se extensões suas para nos introduzir a um sistema de combate diferente do que vemos no tradicional JRPG.
Tal como já nos habituou, a Gust é mestre em introduzir mecânicas e funcionalidades diferentes nos seus jogos, frequentemente alcançando experiências complexas e profundas. Nights of Azure enverga diversas funcionalidades que procuram manter o jogador ocupado mas na verdade, é bastante simples e algumas delas não têm o peso que seria de esperar. Toda a gestão e uso dos servos é relativamente simples, tal como deveria ser, e o seu controlo funciona muito bem, é intuitivo. Rapidamente se torna parte integral do processo mental que assumimos ao jogar, que os servos são uma constante e uma obrigatoriedade mas dificilmente encontra momentos que glorifiquem o sistema de combate. Se quiserem, podem criar novos servos a partir de itens que encontram, podem melhorar os seus atributos com o uso de itens, podem equipar itens e também podem estabelecer vários conjuntos (cada um com 4 servos) mas será estranho sentir que a nossa gestão tem pouco peso no gameplay em si.
Sem a momento algum perder o controlo de Arnice, o jogador combate com recurso a combos simples criados a partir de dois ataques diferentes (fraco ou forte) e quando preenchida a barra necessária, Arnice pode até transformar-se em demónio, conseguindo maior velocidade e poder por um tempo limitado. Através do sangue que jorra dos inimigos e com o dinheiro que vai ganhando, o jogador pode melhorar todos estes atributos, que são a base da experiência. Tal como para os servos, poderá melhorar Arnice ao equipar itens, adquirindo novas habilidades ou trocando o sangue dos demónios para subir de nível.
É fácil aprender todas as mecânicas e funcionalidades de Nights of Azure, e isso é bom mas também será fácil reconhecer que é um jogo sem a profundidade de outros títulos da Gust. É um jogo mais pequeno e mais simples cujo gameplay poderá perder algum fulgor passadas poucas horas devido às constantes quebras de ritmo (cada incursão pela noite tem uma duração máxima de 15 minutos) e ao design exageradamente simples de praticamente tudo o que constituiu o jogo, desde a dificuldade, ao sistema de combates e ao departamento técnico e visual, algo para o qual uma fatia dos jogadores deverá estar preparado.
"Infelizmente, Nights of Azure é uma experiência que apesar de divertida, fica abaixo do seu potencial."
Com a excepção dos personagens principais que fazem o enredo desenvolver, nada em Nights of Azure indica que é um jogo de actual geração. Design de níveis ridiculamente simples, qualidade visual básica e o que parece ser um jogo de anterior geração remasterizado não abonam nada a favor de um título que beneficiaria imenso com uma melhor qualidade gráfica. Os cenários são básicos, não existem inimigos, efeitos ou bosses que possam impressionar o jogador, e somente alguns momentos nos quais não temos controlo sobre o jogo é que poderemos ficar impressionados. É pena que a grande maioria das casas Japonesas não estejam a apoiar com maior vigor os motores gráficos dos seus jogos pois num título de fantasia que nos pretende transportar para outro mundo, seria um ponto muito positivo.
Até nos próprios movimentos e animações de alguns personagens, entre eles a protagonista, e sem esquecer as constantes quebras no rácio de fotogramas (surpreendente tendo em conta o design básico do jogo e dos cenários), revelam que a Gust precisava de se ter empenhado mais neste departamento. Sabemos que a metodologia Japonesa é diferente e que abordam os jogos com uma postura específica, mas não deixa de ser uma pena que as suas ricas experiências não dêem o devido salto para a nova geração e comecem a ostentar uma qualidade à altura das fantasias e enredos que tão magistralmente elaboram.
Eliminar inimigos para capturar sangue que trocamos por itens ou usamos para subir de nível, equipar um novo item ou desbloquear uma nova habilidade para Arnice, conversar com mais um NPC para obter uma banal e estranhamente simples missão secundária, melhorar os servos com itens ou criar novos, é isto que iremos fazer quando não percorremos a noite de Rusewall à procura das respostas. Nights of Azure é um título pelo qual será fácil se apaixonarem mas também será fácil ficarem desiludidos porque fica sempre a sensação que mais poderia ter sido feito. E a verdade é que poderia.
Como está, Nights of Azure é apenas uma mera mas singular curiosidade que encontrará caminho para a casa de um grupo reservado de jogadores, num género que ameaça tornar-se cada vez mais reservado. Se adoram o encanto e magia das produções da Gust então nem hesitem, este é um brilhante exemplo que representa tudo pelo qual a companhia se tornou conhecida mas não esperem o seu melhor trabalho. Talvez com mais empenho e mais dedicação para aprofundar os seus sistemas e com um reforço na componente visual a Gust possa regressar mais focada e ainda mais divertida.