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Ninguém pára o Homem-de-Ferro da Gameloft

Excepto aquelas tais micro não sei quê?

O Homem de Ferro 3 chegou finalmente aos cinemas e como seria de esperar, a experiência cinematográfica convoca em todos os fãs uma enorme vontade de a expandir na sua vida. Quer seja na leitura de bandas desenhadas que nos acompanharam noutras alturas, quer seja revendo os anteriores filmes, o certo é que praticamente todos temos uma enorme vontade de continuar imersos naquele universo mesmo depois dos créditos finais terem passado na tela gigante da sala de cinema.

Foi isto que me aconteceu com o mais recente filme da Marvel, a terceira aventura de Tony Stark nos cinemas. Noutra era menos preocupada com as críticas, com a recepção dos fãs e com o dinheiro investido, as consolas actuais já estariam a receber a respectiva adaptação para videojogos do filme. Desde há algum tempo que tal não aconteceu, a qualidade dos produtos ficou demasiado questionável para merecer investimento altamente incerto, especialmente quando os estúdios eram colocados em tempos de produção relativamente curtos.

Mas tal não impediu que os videojogos continuassem a receber adaptações inspiradas nas películas cinematográficas, principalmente quando o mercado dos jogos nos smartphones está tão vibrante e desfruta de tanta saúde. Dá para todo o tipo de experiências, sejam curtas, sejam mais longa, fáceis ou difíceis, o importante é que sejam adaptadas às especificações e singularidades das plataformas que as recebem. Com o iOS e Android tão populares, são maioritariamente nestes aparelhos que vemos estes produtos ausentes das plataformas dedicadas a videojogos, e com tudo a que tem direito.

Seja controlos por toque, por movimentos com recurso ao giroscópio e até ligação à lista de amigos e recurso ao Facebook para promoção do produto e partilha de pontuações. Os estúdios tem pensado em tudo para tornar os seus produtos o mais amigáveis o possível dos consumidores em massa. No entanto, o esforço por melhores gráficos nos aparelhos móveis e experiências mais profundas não foram os únicos destaques, também a necessidade de amealhar mais dinheiro e obter mais exposição foram igualmente importantes. Daí termos agora os modelos de venda freemium, e ainda mais recente as micro-transações.

É divertido, é bonito de ver mas insulta em demasia o jogador.

Quando transferi Iron Man 3 da Gameloft confesso que fiquei bastante surpreso por verificar que o jogo estava gratuito, e nem sequer havia visto em lado algum quaisquer menções a modelos freemium. Tudo estava bem encarreirado para um bom passatempo neste fim de semana. Agora de regresso às consolas caseiras, dei por mim fascinado com este IM3 por ser um novo jogo de um super-herói do qual gosto e por o poder jogar em qualquer lado, especialmente quando estamos a falar de um Endless Runner.

Este género é agora um dos mais populares e bem sucedidos nos iOS/Android e a Gameloft foi bastante engenhosa ao adaptar a personagem da Marvel Comics para este formato. Primeiramente temos um esquema de controlo centrado no giroscópio, movemos o aparelho para Iron Man voar pelos céus de Los Angeles enquanto se desvia de aviões ou mísseis e quando, por algum estranho motivo, tem que descer ao nível da rua se desviar dos camiões que vão passando. Quando surgem pequenos robôs ou inimigos da IMA basta tocar no ecrã no ponto respectivo ou deslizar o dedo e Stark executa dois ataques diferentes.

Tudo isto com uns visuais bastante agradáveis e interessantes de ver num iOS, permitindo que tenha começado a ficar verdadeiramente intrigado e curioso com o jogo. Desde Sonic Dash que não me deixava absorver de tal forma por um jogo deste tipo e o gosto pelo personagem apenas reforçou. Alcançar 1000 metros, 2000 metros numa só sessão, derrotar determinado número de inimigos, apanhar determinado número de power-ups, rapidamente começaram a surgir os objectivos secundários que imprimem longevidade a estes títulos.

IM3 estava mesmo a assumir-se como viciante e cativante, mesmo o que as minhas pausas estavam a pedir. Quando surge um ecrã a pedir para escolhermos uma nova armadura e para melhorar a armadura comecei a ter contacto com os sistemas de progressão e melhoria no jogo. Maior profundidade e personalização para mim, pensei. O jogador recolher itens vermelhos ao longo da sessão de jogo que lhe permitem melhorar os atributos da sua armadura, tudo procedimento normal já estabelecido entre anteriores neste género específico. Temos ainda a possibilidade de obter uns cristais azuis que nos permitem desbloquear novas armaduras que depois tem que ser compradas com os itens vermelhos que recolhemos.

Até aqui IM3 estava a assumir-se como um produto altamente competente, bem executado e completamente enquadrado com o que considero ser a filosofia de um produto móvel: divertido, com possibilidade de ser jogado em qualquer lado e por quanto tempo quisermos mas com desafio progressivo e profundidade para ser válido a médio-longo prazo. Ainda mais quando troquei os controlos de movimento por toque: basicamente divide o ecrã em duas partes horizontais e na de baixo deslizamos o dedo para mover Stark e na de cima para tocar ou deslizar atacando os adversários.

O problema começa quando sentimos que o jogo está estruturado, desenhado e pensado para promover as micro-transacções a todo o momento em tudo o que o jogador faz. Sempre que terminamos um nível temos que esperar cerca de 30/50 segundos para a armadura se reparar, sempre que compramos uma melhoria ou armadura temos que esperar para ela ser completa (cerca de 15/55 segundos por uma melhoria dependendo do nível) cerca de 10/15 minutos por uma armadura.

Tendo em conta que estamos a falar de tempo real, o melhor mesmo é pousar o aparelho e ir fazer outra coisa, ou fazer uma outra coisa qualquer no próprio. Mas tendo em conta que estamos a falar de um jogo para smartphone/iPad que deveria premiar o fácil uso em qualquer lado e em espaços curtos de tempo, toda esta espera é simplesmente inacreditável e a roçar o intolerável.

Tudo porque a todo o momento nos indicam que podemos acelerar os processos usando os cristais azuis mas como são tão difíceis de obter, o ritmo é mesmo lento para os obter, ficamos a ponderar seriamente que é completamente escusado os utilizar nestas esperas triviais e desnecessárias. O objectivo é mesmo levar o jogador ao ponto de sentir uma necessidade inultrapassável de que precisa investir dinheiro real em pacotes de cristais azuis extra para se "movimentar" à vontade pelo jogo, sem esperar seja pelo que for.

Quando estamos a falar de quantidades exorbitantes de cristas, e itens vermelhos para as armaduras, é fácil compreender estas "armadilhas" que são colocadas para que o jogador seja convidado a comprar atalhos e reduzir os tempos para obter estas armaduras mais interessantes e poderosas. Se jogos como Temple Run 2 e Sonic Dash já arruinavam grande parte da sua experiência por pedirem ao jogador que "comprasse" o seu caminho nas tabelas de pontuações ou para os melhores segredos e extras, IM3 vai mais longe e diz mesmo ao jogador que tem que pagar para melhorar a experiência.

Claro que é na mesma jogável e tolerável, especialmente para aqueles como eu que não resistem a esta junção do Homem de Ferro com os contexto dos Endless Runners, e estão sempre a pensar nas bandas desenhadas e nos filmes, mas vemos concretamente como a experiência poderia ter sido se não existisse toda uma gigantesca cobiça por euros na base de toda a sua estrutura.

Muitos provavelmente vão ficar a pensar que preferiam ter dado €0.99, €1.79 ou até €4.49 e ter um jogo mais dinâmico e fluído na sua gestão entre missões do que esta aberração em forma de avareza micro-transações. No entanto este será um companheiro para este final de semana e já ando pelos céus vestido de armadura vermelha à espera de obter novamente a MKVII ou até uma melhor. Quem sabe não pode estar aqui um companheiro de Verão?

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