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Nintendo 3DS: o efeito 3D que não chegou a "clicar"

Foi o bom naipe de jogos a base do sucesso.

A geração de portáteis Nintendo 3DS conheceu a semana passada uma nova consola. A New 2DS XL será lançada no próximo mês de Julho e muito provavelmente será a quinta e última evolução desde o lançamento da 3DS original, em Março de 2011. Será a última porque o legado da 3DS leva já seis anos e há uma nova consola da Nintendo, a Switch, capaz de ombrear com os sistemas portáteis, embora seja mais poderosa em termos técnicos na comparação com a portátil dedicada.

Mantendo-se fiel à manutenção de dois diferentes sistemas no mercado, a Nintendo procura com a nova 2DS assegurar a manutenção e desenvolvimento do parque de consolas instaladas, que estima ultrapassar os 70 milhões, já no próximo ano. Uma fasquia muito interessante e satisfatória para os tempos que correm, quando a concorrência nunca foi tão grande em sistemas portáteis,

É todavia um número que fica aquém das vendas da GameBoy e até da Nintendo DS, esta um verdadeiro sucesso se tivermos em conta que a Nintendo vendeu mais de 150 milhões (todos os modelos contribuíram para um total de 154 milhões) embora seja justo referir que ao tempo da sua chegada ao mercado os dispositivos portáteis, entre os quais os tablets e os smartphones, eram escassos.

A New 2DS XL chega em Julho e apresenta um aspecto algo similar ao da 3DS XL, demarcando-se claramente do modelo 2DS anterior.

Com a introdução da 2DS a Nintendo prolonga a família de consolas 3DS por mais algum tempo, servindo de porta de entrada para uma audiência interessada num produto mais acessível, tendo ao mesmo tempo um alinhamento de jogos muito grande, especialmente reforçado no panorama dos "first party". Para os próximos meses a Nintendo vai lançar os seguintes títulos: Hey: Pikmin!, Ever Oasis, Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia, Dr Kawashima Devilish Brain Training e Miitopia. É um alinhamento de verão com diferentes propostas para diferentes públicos. E ainda vamos a meio do ano. Perspectivando-se um avolumar de novos jogos no período natalício, a E3 será uma oportunidade para a Nintendo anunciar a manutenção da aposta na 3DS como sistema alternativo à Switch. Resta saber quanto tempo mais pode a Nintendo assegurar um fluxo de jogos para a Switch e ao mesmo tempo garantir novos jogos para a 3DS.

A New 2DS XL reforça essa ideia e a sua chegada em Julho dá algumas garantias quando à produção de jogos para a 3DS. Embora muitas séries possam subir à divisão Nintendo Switch, outras poderão permanecer na 3DS, especialmente os jogos oriundos do Japão com localização para o ocidente, designadamente dos estúdios Level-5 (Yokay-Watch e Inazuma Eleven).

Claro que para os utilizadores de uma 3DS, esta nova 2DS é um modelo que pouco acrescenta, a não ser um preço mais acessível, maiores ecrãs e uma cosmética alteração no seu desenho, tentadora para novos utilizadores ou possuidores de antigos modelos que queiram jogar com mais algum conforto. É uma actualização para um provável fim de ciclo, só não se conhecem os planos da Nintendo para a evolução da 3DS.

A Nintendo lançou a 3DS em Fevereiro de 2011, com um forte apoio "third party" mas com poucos jogos "first party" realmente apelativos. A Nintendo ainda vivia o sonho da receita DS e Wii, verdadeiras impressoras de notas, mas no meio do conto de fadas a lanterna vermelha acendeu quando as tabelas de vendas japonesas e ocidentais mostraram um arranque abaixo das previsões.

O efeito 3D, como ponto relevante da experiência de jogo, não conquistou as massas e foi até alvo de constantes críticas, sendo abundantes os relatos de utilizadores que não encontravam posição para tirar o devido proveito do efeito. O preço significativo de lançamento (250 euros) deixou muitos utilizadores indecisos. Perante a necessidade de mudar o rumo dos acontecimentos, o então o presidente da Nintendo, Satoru Inata, procedeu a uma descida no preço, no verão desse ano.

Super Mario 3D Land é uma produção da EAD Tokyo. Foi um jogo que apresentou alguns efeitos 3D interessantes mas o jogo ganhou destaque por outras mecânicas.

Mas isso não chegou. A Nintendo precisou de alguns meses, e sobretudo de jogos como Mario Kart 7 e Super Mario Land, para criar uma dinâmica ascendente. A conjugação da descida de preço com as novas produções foi o suficiente para levar as pessoas às lojas. Mas o primeiro sistema 3DS apresentava dimensões reduzidas, por comparação com a DS XL, lançada tempos antes. No ano seguinte, a Nintendo lançou o modelo XL e as vendas ganharam um especial reforço.

Um pouco mais cara que o modelo original mas com maiores ecrãs para uma experiência mais cómoda, e algumas alterações superficiais. Mas é também neste lançamento que a Nintendo se socorre da velha cartilha que parece nunca prescindir quando introduz novo hardware, deixando cair coisas tão relevantes como o carregador. Uma aquisição em separado obrigatória e mais um custo acrescido. O cartão SD de 4GB é suficiente para uma utilização esporádica da eShop, mas manifestamente insuficiente para quem queira lançar-se num compromisso exclusivamente digital. Os cartões da realidade aumentada e o ecrã com efeitos 3D permanecem e neste último quesito até foram alvo de melhoria. Sobretudo a experiência torna-se mais confortável e jogar com o efeito 3D no máximo é menos problemático, especialmente para os mais pequenos.

É justamente a pensar na audiência juvenil que a Nintendo decide avançar, dois anos depois da 3DS, com a 2DS, uma portátil de dimensões reduzidas mas sem mecanismo de rotação no ecrã, o que dá um efeito "espalmado" à consola, algo invulgar mas nem por isso menos apelativo. Os ecrãs apresentam o mesmo tamanho da 3DS original, caindo no entanto o efeito 3D. Torna-se no modelo mais barato e ao contrário do anterior volta a ser disponibilizada com um carregador.

Em 2015 a Nintendo apresenta um novo modelo, a New Nintendo 3DS, em formato duplo (XL e de tamanho padrão, com possibilidade de aplicação de capas). A consola recebe mais dois botões de apoio, o ZL e o ZR, juntamente com o c-stick, um botão um pouco mais duro que funciona como analógico, ao mesmo tempo que é acrescentada mais alguma capacidade em termos de processamento, a fim de correr jogos decorrentes da Wii como Xenoblade Chronicles e Hyrule Warriors. Mas volta a desaparecer novamente o carregador, forçando nova compra em separado.

Os jogos first party ocuparam um papel central nas vendas das consolas. A 3DS começou com muitos jogos de outros estúdios mas não chegaram para convencer os utilizadores.

A New 2DS XL é um sistema criado a partir da New 3DS, sem efeitos 3D no ecrã superior e com pequenas alterações no design, com destaque para o ecrã superior e para a estrutura arredondada, assim como uma estética mais colorida, eventualmente na tentativa de persuadir pelos visuais os novos utilizadores.

Historicamente todas as consolas portáteis da Nintendo foram alvo de melhorias e alterações constantes ao longo de cada geração. A GameBoy chegou a ser Pocket e Color, assim como a GBA tornou-se SP e Micro, antes da DS passar a Lite e XL. Não é por isso uma novidade ou surpresa o anuncio de mais um novo modelo da família 3DS, sem efeito 3D mas no mesmo segmento. No fundo é um nível de entrada acessível para os utilizadores que ainda não tenham experimentado as sensações de uma portátil Nintendo. Ainda não é a portátil que sucede à 3DS mas será a última revisão de um modelo, sem efeitos 3D.

Resta saber que impacto teve a 3DS no que toca ao modelo de jogo. A 3DS, como o próprio nome indica, tornou-se numa evolução da DS, mais capaz graficamente e por isso apta a proporcionar melhores e mais ricas experiências, com destaque para o grau de profundidade. A Nintendo agitou a bandeira dos efeitos tridimensionais ao longo dos primeiros meses, mas não levou muito tempo até dar conta que o efeito útil da consola não estava na profundidade mas na qualidade dos jogos.

A introdução dos modelos económicos na categoria 2DS foi um passo óbvio. Com a Nintendo DS a Nintendo incrementou as consolas com segundo ecrã, táctil e por isso capaz de gerar vários esquemas interactivos. Mas na 3DS, exceptuando os efeitos 3D, o modelo de jogo permaneceu essencialmente o mesmo. O que poderá a Nintendo desenvolver a partir deste ponto é a incógnita para os próximos tempos. Produzirá uma nova portátil dedicada, com melhor processador ou manterá os dois ecrãs como se tratasse de uma evolução do modelo 3DS mas com melhores gráficos? A 3DS disputou um mercado concorrido e enfrentou o crescimento exponencial do mobile. Os desafios para a Nintendo prosseguem, sendo que o sucesso das suas plataformas parece depender em grande medida do software produzido pela companhia, agora que se acentua a divergência em termos de hardware relativamente aos outros sistemas existentes no mercado.

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